sexta-feira, agosto 19, 2011

Capítulo 30 - A pressa é inimiga da perfeição

Pedro sentia-se algo ansioso. Tinha ligado a Inês no dia anterior por várias vezes e ela não tinha nem atendido, nem devolvido qualquer das suas chamadas. Ele começou a ficar preocupado, uma vez que a última vez que tinha falado com ela tinha sido há cerca de duas semanas.

Tinha sido uma breve conversa por telemóvel, em que ela lhe tinha dito que andava muito ocupada por causa de um projecto novo na empresa em que trabalhava. Estava a ser uma altura muito stressante para ela e ela tinha prometido ligar-lhe para combinar alguma coisa quando as coisas estivessem mais calmas. Mas duas semanas tinham-se passado sem que ela tivesse dado qualquer sinal de vida.
Ele então engoliu o orgulho e tinha ligado-lhe no dia anterior, mas sem qualquer sucesso, o que começava a causar-lhe alguma apreensão. E esse estado de espírito estava a ser notado pelos seus colegas, nomeadamente por Carlos e por Patrícia.

- O que achas que se está a passar com ele? – perguntou Patrícia a Carlos, que já sabia a resposta para a pergunta que tinha feito.
- Não faço ideia… De há duas semanas para cá, nota-se que ele está preocupado com qualquer coisa… e tenho a ideia que nós dois sabemos com o quê… ou mais propriamente, com quem. – respondeu Carlos, que também sabia que só podia ser essa a causa da angústia do seu amigo.
- Pois… Ela!!! – disse Patrícia, com um tom demasiado seco, situação que não passou despercebida ao seu colega.
- Não sejas assim. Ela é uma óptima rapariga. Aliás, tu até já falaste mais com ela do que eu e deves ter percebido isso.
- Tens razão… mas isso não é motivo para ela tratá-lo desta forma. Ele merece melhor. Se fosse eu… - começou Patrícia, antes de instintivamente interromper a sua frase, pois ia dizer mais do que devia.
- Uhm… Se fosses tu? O que queres dizer com isso? – disse Carlos com um ar malacioso.
- Esquece… Só te digo que ninguém o deveria fazer sofrer assim…
- Mas isto é bom para ele. Para ele aprender que não tem o mundo a seus pés e que às vezes tem de ter paciência para conseguir o que quer.
- Vamos ver… - suspirou Patrícia, que mais uma vez ficou com esperanças de que Inês se tivesse desinteressado de Pedro e abrisse uma porta para ela. Apesar das coisas estarem a correr bem com o Miguel, quem ela realmente amava era o Pedro.

Olharam então ambos para Pedro, que continuava a fazer o seu trabalho, mas com um ar desconsolado. Ele já não se conseguia concentrar no seu trabalho, pois só pensava nos motivos pelos quais Inês o estava a ignorar… Será que ela estava mesmo ocupada com o trabalho. Ou seria apenas uma desculpa para não o ver? Ele confiava nela, mas a incerteza estava constantemente presente na sua mente. Por mais que o não quisesse admitir, o medo de perder Inês para sempre era cada vez maior. Ainda por cima, ela tinha-lhe dito na última conversa que estava a dar-se cada vez melhor com o tal colega dela, o Diogo. Será que ela se tinha apaixonado por ele? Por mais inverosímil que essa situação lhe parecesse, tudo poderia ser um motivo para o distanciamento de Inês.

E o que podia ele fazer? Já lhe tinha ligado várias vezes sem sucesso e ligar-lhe mais uma vez, podia levar a que Inês considerasse que ele não estava a respeitar o seu espaço.

Pedro respirou fundo e tentou concentrar-se novamente no seu trabalho. Sim, tentou era a palavra mais correcta, pois durante o resto do dia, por mais que o quisesse evitar, o seu pensamento desviava para o motivo da ausência de qualquer resposta dela.

No final do dia, antes de ir para casa, depois de ter reparado que não tinha feito o que tinha planeado fazer, Pedro suspirou e resignou-se à situação. Não podia fazer nada para obrigar Inês a falar com ele, nem poderia tentar ligar-lhe novamente tão cedo. As suas opções estavam profundamente limitadas e apenas podia esperar. A sua insegurança começava a abalar a sua confiança. Não… Não era a primeira vez que ela demorava a responder aos seus telefonemas. Mas isso não fazia com que custasse menos.

Mas Pedro não teve de esperar muito mais. Nessa noite, após o jantar, quando já se encontrava refastelado no sofá da sua sala, a ver um jogo de futebol do campeonato argentino para tentar evitar pensar nela, o seu telemóvel tocou.

Inicialmente, ele não tinha ouvido o toque, que era actualmente o Yellow dos Coldplay, para condizer com o seu estado de espírito. Após ter chegado do emprego, tinha deixado o telemóvel no seu quarto. Mas por algum motivo que ele não soube explicar, ele teve a sensação de que poderia ter recebido alguma chamada no telemóvel e decidiu por descargo de consciência confirmar que não tinha nenhuma chamada perdida.

Mas não era esse o caso. No visor do seu telemóvel, viu que tinha duas chamadas não atendidas de Inês. O seu coração começou a bater mais rápido e a sua ansiedade aumentou, com a expectativa de falar com ela novamente. Mas ele sabia que tinha de manter-se calmo. Por isso, respirou fundo antes de ligar-lhe.

- Oi – disse Pedro, após Inês ter atendido a sua chamada.
- Olá. Já vi que está muito complicado falar. – disse ela, não evitando um riso que desconcentrou Pedro completamente, gorando qualquer tentativa dele se manter tranquilo e calmo. O quanto ele sentia a falta de ouvir a voz e o riso dela.
- Parece que sim. Mas ainda bem finalmente temos a oportunidade de por um pouco a conversa em dia.
- Sim… Desculpa lá ter-te ignorado nos últimos tempos, mas o trabalho tem estado impossível. O dia passa a correr e quando chego a casa quero apenas tomar um banho relaxante e ir dormir.
- Sim, percebo perfeitamente. – disse Pedro, que embora no seu íntimo percebesse a situação, também não gostava da sensação de ansiedade provocada pelo facto dela não lhe atender as chamadas.
- Infelizmente, este projecto é coisa para durar ainda mais algum tempo. Aliás, não posso falar contigo muito tempo, pois tenho de voltar ao trabalho. O meu colega já me está a fazer sinais de que tenho de me despachar. E ele é muito controlador neste tipo de situações.
- Ainda estás a trabalhar a esta hora? Estás aí sozinha com o teu colega?
- Alguém está a ficar com ciúmes… – troçou Inês. Sim, estou sozinha aqui com ele, mas estamos a trabalhar…e muito, infelizmente… Mas mesmo que não estivesse, não tinhas nada a ver com isso. Não te devo explicações nenhumas.
- Sim. Tens razão. Mas quando eu perguntei-te, não foi pelo motivo que estavas a pensar – tentou Pedro disfarçar.- Estava apenas preocupado com a tua segurança… nunca se sabe quem pode aparecer aí durante a noite.
- Claro, claro… Foi só mesmo por isso – exclamou Inês, não escondendo a ironia nas suas palavras. – Mas estava a ligar-te pois vou ter o dia de folga no Sábado e queria saber se querias combinar um almoço. Aviso-te que não sei quando irei ter tempo novamente para por a conversa em dia contigo.
- Uhm… Deixa-me consultar a minha agenda. Bem, tinha aqui um blind date com uma super-modelo para Sábado conhecida de uns amigos, mas vou mudar para o jantar. Afinal, tenho de aproveitar a tua disponibilidade.
- Já vi que continuas engraçadinho como sempre.- Ficamos então combinados?
- Combinadíssimos. Então, depois marcamos o sítio. Ainda ficas a trabalhar?
- Sim – disse Inês com uma voz desconsolada.- A noite é ainda uma criança.

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu uma sensação de alívio. Não estava mesmo à espera que ela lhe ligasse essa noite para combinar um encontro com ele. Sim, era apenas como amigos, mas mesmo assim, ela podia muito bem ter escolhido outra pessoa para passar o pouco tempo livre que ela tinha disponível.
Um sorriso não deixou de estar presente na cara de Pedro durante o resto da noite. Aliás, durante o resto da semana. Ele gostava mesmo a sério dela. A sensação de vazio na sua vida quando não estava com ela era demasiado grande e ele não queria que essa sensação permanecesse. Mas estava tudo nas mãos dela.

E foram estes pensamentos que estiveram presentes na mente de Pedro até ao dia do almoço. Como habitual, ele tinha chegado primeiro que ela ao restaurante e aproveitou esse tempo para pensar em como as coisas poderiam correr naquele dia. Ele já lhe tinha dado algum tempo e as coisas estavam a correr bem. Mas por quanto mais tempo teria ele de esperar? Ele não a queria pressionar, mas aquela sensação de impotência para mudar as coisas estava constantemente na sua cabeça.

Mas a sua reflexão foi interrompida quando Inês chegou finalmente. Ela estava linda, com um top branco pouco revelador e uma pequena saia preta que lhe ficava muito bem. Mas ela podia ter-se vestido com um saco de batatas que ele acharia-a linda na mesma. Ele estava contente só de estar com ela e ter a oportunidade de olhar para o seu rosto e para os seus olhos.

- Desculpa o atraso – disse Inês, ao mesmo tempo que lhe dava um ligeiro beijo na face.
- Não há problema. Já estava à espera. – respondeu, ao mesmo tempo só pensava nas saudades que tinha do aroma suave do perfume dela.
- Pois… Há coisas que nunca irão mudar – disse Inês, com um sorriso contido.
- Eu sei… Mas é daquelas coisas que fazem parte de ti e tu não serias tu se não fosses assim.
- Não percebi se isso foi um elogio ou não.
- É melhor não saberes. – Pedro já sentia imensa falta destas provocações e sentia que esse sentimento era retribuído. – Mas já vi que estás com umas olheiras enormes.
- Pois… o que é que hei-de fazer? O trabalho não pára e ainda irá continuar mais umas semanas. O tal projecto de que te tinha falado vai-se prolongar ainda mais e terei de aguentar.
- Sim… eu percebo. – disse Pedro, tantando mostrar empatia pela situação.
- Não tem sido nada fácil. O que vale é que eu e o Diogo estamos a dar-nos cada vez melhor o que tem ajudado a passar o tempo.

Uma sensação de cíumes atravessou por completo o corpo de Pedro. Esse tal de Diogo era o tal colega com que ela estava a passar as últimas noites. Ele nunca se sentira ameaçado, pois ela sempre lhe tinha dito que ele era um colega antipático e que não falava com ela, mas parecia que as coisas estavam a mudar. Ele estava a sentir-se um pouco ciumento, mas infelizmente, não podia dizer nada a Inês, pois ambos eram apenas amigos e sabia que qualquer insinuação da sua parte apenas iria conduzir a discussões entre os dois. Eles tinham estado tão pouco tempo juntos nos últimos tempos, que não queria perder tempo a discutir com ela. Preferia aproveitar e disfrutar estes breves momentos com ela.

- Ainda bem. É sempre mais fácil trabalhar com alguém com que nos damos bem.
- Sim… é mesmo isso. E ao contrário do que eu pensava, ele é uma pessoa bem mais acessível do que pensava. È é demasiado introvertido, mas quando se dispõe a abrir para alguém, não é assim tal má pessoa.
- Ainda bem para ti. – Pedro estava a ficar cada vez mais desconfortável com a conversa, pelo que desviou a conversa para outros temas, que não implicassem a menção ao colega de Inês.

Durante o almoço, os dois passaram mais tempo a conversar do que a comer os pratos que tinham pedido. Tal como antigamente. Os dois não paravam de rir e quem os visse naquele momento não teria qualquer dúvida que eram um casal que já estava junto há muito tempo.

Pedro queria que este almoço se prolongasse para sempre. Há algum tempo que não estava com ela e sabia que enquanto fossem apenas amigos, ele apenas iria estar com ela esporadicamente. E isso não era suficiente. Ele precisava de estar mais tempo com ela, pois era a única altura em que ele se sentia verdadeiramente feliz. Mas não sabia o que ela estava a pensar.

Ele esperava já ter-lhe provado que ela poderia confiar nele novamente, mas ela nunca tinha feito qualquer referência a esse facto. E os dois foram feitos um para o outro. Mas enquanto fossem apenas amigos, ele corria o risco de outra pessoa arrebatar o coração dela. E ele não podia correr esse risco. Tinha uma decisão difícil a tomar. Mas soube que tinha arriscar. Não a queria pressionar, mas já era o momento ideal para saber o que ela sentia.

- Mas posso fazer-te uma pergunta? – disse Pedro com um ar um pouco mais sério.
- Claro… Diz… Eu é que posso não responder-te – respondeu Inês com um sorriso.
- Achas que… - Pedro interrompeu o que ia dizer, pois teve segundas dúvidas sobre se estava realmente a tomar a atitude correcta. Mas sabia que tinha de dizer o que lhe ia na alma e arriscar. - … já me perdoaste ? Já confias em mim?

Inês receva este momento já há algum tempo. Sabia que os sentimentos de Pedro não tinham desaparecido e por mais que ainda gostasse dele e por mais que ele já lhe tivesse demonstrado que tinha mudado e que estava disposto a esperar por ela, ainda não confiava totalmente nele. O facto de ter aberto o seu coração e ter sido magoada por um homem novamente ainda não tinha sido totalmente ultrapassado. Ela achava que os dois ainda seriam felizes juntos no futuro. Só precisava de mais algum tempo. Uma parte de si dizia para aproveitar este momento para reatar com Pedro. Mas a parte do seu coração que tinha sido magoado e que ainda não tinha recuperado totalmente, pedia-lhe mais algum tempo. Dizia-lhe que se ele gostava mesmo dela, iria respeitar a sua decisão e esperar até que ela estivesse preparada. Não era fácil abrir o coração mais uma vez, pois as cicatrizes da ferida que ele lhe tinha causado ainda permaneciam.

- Sabes… essa é uma pergunta complicada. Sim, já te perdoei o que me fizeste.
- Mas? – Pedro sentiu pelo tom de voz dela, que iria existir um mas.
- Mas…acho que ainda preciso de mais algum tempo. Tu sabes que eu gosto de ti. Mas…
- Sim, eu sei. E é por isso que acho que era altura de nós juntarmos novamente. Para mostrar-te que as coisas serão diferentes desta vez.
- Mas ainda não estou preparada. E tu disseste que estavas disposto a esperar.
- Inês… Tu sabes que eu gosto de ti. Mas não posso esperar para sempre. Não posso ficar com a minha vida parada indefinidamente, à espera que tu te decidas. Uma coisa é pedires-me um mês, ou três ou seis meses. Outra coisa é estares à espera que eu esteja para sempre à espera de ti. – Pedro sentia a dureza nas suas palavras, mas não tinha conseguido conter-se mais. Ele amava Inês, mas precisava de alguma sinal dela que ela iria voltar para ele, mais cedo ou mais tarde. Ele não queria ser apenas amigo dela. Isso ela já sabia. Mas se não existisse nenhuma hipótese dela lhe perdoar, então o que estavam eles a fazer?

Ele já lhe tinha dado algum tempo para ela tomar uma decisão. Mas hoje, ela tinha-lhe pedido mais tempo. Não, ele não podia continuar a viver assim. À espera que ela lhe ligasse. À espera de que ela lhe devolvesse a chamada. Ele precisava dela na sua vida. Mas se ela não fosse nunca esquecer o passado, porque é que ele haveria de estar nesta incerteza permanente em vez de seguir com a sua vida?

- O que queres dizer com isso? Estás a fazer- me um ultimato? Ou aceito voltar para ti, ou não esperas mais por mim? – notava-se pela voz de Inês que ela estava a começar a ficar exaltada.
- Não, não era isso que eu te queria dizer. Eu já esperei tanto tempo por ti, que posso esperar mais algum tempo. Mas queria era saber se esse dia irá chegar eventualmente.
- Pedro… Não te consigo prometer nada. Eu gosto de ti, mas ainda não estou preparada. Neste momento, apenas consigo ser tua amiga. E se para ti isso não é suficiente, talvez seja melhor não nos vermos mais.
- Inês… tu sabes que eu estou disposto a esperar por ti. Se agora apenas estás preparada para ser minha amiga, então amigos seremos.

Pedro soube que as coisas não seriam mais as mesmas, como se comprovou pelas conversas que tiveram até ao final do almoço.

Tinha decidido arriscar, mas as coisas não tinham corrido como gostaria. Talvez até a tivesse afastado ainda mais. Foi um risco que tinha decidido correr. Pedro lamentou-se da decisão que tinha tomado. Se tivesse ficado calado, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

Mas na vida, em certas ocasiões surgem encruzilhadas. E Pedro sabia que se não tivesse dito nada, corria o risco de perdê-la para outra pessoa. Assim, ao menos ela ficava a saber o que ele sentia. Mas Pedro sabia que teria de viver com as consequências deste acto para o resto da sua vida…

quinta-feira, agosto 04, 2011

Capítulo 29 - As coisas mudam...

Inês levantou-se da cama com um sorriso nos lábios… parecia-lhe que finalmente que tudo estava a correr-lhe bem. As coisas estavam a correr muito bem no seu emprego, não estava agora a sair muito tarde e aos poucos as coisas estavam a recompor-se com Pedro. Não, ainda era cedo demais para reatar com ele, mas o tempo tinha-a levado a pensar que ele estava mesmo mudado e que já faltava cada vez menos para que os dois se juntassem novamente…Até porque ela sentia mesmo a falta dele…Mas tinha mesmo de ter alguma paciência até porque tinha prometido à Rita e ela não era pessoa para quebrar uma promessa à sua amiga.

Mas depressa o sorriso desapareceu, após ter demorado quase uma hora e meia para chegar ao escritório, devido a um acidente que apanhou no caminho. Não era muito habitual ela chegar atrasada… muito pelo contrário, mas hoje era daqueles dias em que tudo parecia estar a correr mal, pois assim que chegou, a sua colega Sónia avisou-lhe que o chefe dela, o Dr. Rui tinha perguntando por ela. A Inês só pensava na sua sorte: no preciso e raro dia em que chegava atrasada, o chefe perguntava por ela. O que mais poderia acontecer?

Ela levantou-se logo da sua mesa e dirigiu-se ao gabinete do Dr. Rui, que ao contrário do habitual, encontrava-se fechado. Foi então informada pela secretária que ele se encontrava numa reunião que iria demorar toda a manhã, e que ela deveria tentar falar mais tarde com ele.

Inês resignou-se e sabia que não podia fazer mais nada do que esperar e continuar a trabalhar. Mas ficou interrogada sobre qual o motivo que o seu chefe teria para querer falar com ela.

Mas a sua curiosidade aumentou, quando o seu departamento foi convocado para uma reunião a seguir ao almoço. Todos se interrogavam sobre o motivo pelo qual a reunião tinha sido marcada e surgiram alguns rumores de que estavam a pensar fazer cortes no pessoal, para reduzir custos. Quando estes rumores chegaram aos ouvidos de Inês, ela começou a ficar preocupada, pois era das pessoas com menos tempo de casa e com menos experiência. O dia só parecia que estava a piorar cada vez mais e a sua ansiedade aumentava a cada momento que passava.

Mas finalmente tinha chegado a hora da reunião. Todas as pessoas do departamento entraram silenciosamente na sala de reuniões marcada para o efeito e sentaram-se sem grande alarido, à espera que o chefe chegasse. Já não faltava muito para que as dúvidas fossem dissipadas.
Quando o Dr. Rui chegou à sala agradeceu a todos os presentes a sua presença e começou a falar das dificuldades económicas que a empresa estava a passar, com a crise a afectar a actividade da empresa. O pânico começou a assaltar o espírito das pessoas na sala, pois não imaginavam onde é que esta conversa iria terminar. Inês foi uma dessas pessoas. O seu nervosismo aumentava a cada palavra que era dita e não podia fazer nada para o impedir. Seria por isso que o seu chefe tinha querido falar com ela de manhã?

Mas felizmente, passado meia hora ouviu-se um suspiro de alívio conjunto na sala. O Dr. Rui comunicou que por forma a fazer face às necessidades dos outros departamentos da empresa nesta altura mais complicada, tinha sido decido pela Direcção a criação imediata de um projecto que envolvia vários departamentos para tentar responder aos desafios que se apresentavam. E que seria necessárias duas pessoas do departamento financeiro, para fora do horário normal de trabalho, participar nesse projecto, o que iria implicar um grande sacrifício pessoal dos voluntários.

O único a oferecer-se quase de imediato foi o Diogo, o que não surpreendeu nenhum dos presentes da sala. Era mesmo o tipo de pessoa que estava disposto a trabalhar fora de horas por forma a mostrar-se aos chefes e progredir na sua carreira. Mas seguiu-se um momento de silêncio constrangedor, em que mais ninguém se voluntariou.

Inês debateu-se com um dilema pessoal. Ela até achava que seria um projecto interessante e que iria enriquecer a sua carreira, mas por outro lado implicava mais uma série de noites de trabalho duro e stressante, o que iria novamente prejudicar a sua vida pessoal. E a sua relação com Pedro… ou melhor, a sua quase-relação com Pedro podia ser afectada por isso.
Mas não podia deixar que os sentimentos por alguém pudessem afectar a sua carreira. Se ele realmente gostasse dela, estaria disposto a esperar mais um pouco, até que ela tivesse mais disponibilidade para ele. Era um sinal de que ele tinha realmente crescido face ao passado.

Por isso, de forma muito relutante, Inês acabou por se voluntariar para integrar o projecto, sem imaginar o impacto que essa decisão acabaria por ter na sua vida.

Ela e o Diogo foram então informados pelo seu chefe que o projecto iria iniciar-se já na segunda-feira seguinte, tendo este também agradecido a ambos a sua disponibilidade.

Inês suspirou então de alívio, pois pelo menos iria ter o fim-de-semana para se preparar para as semanas difíceis que viriam. Mas depois lembrou-se que iria passar novamente mais uma série de semanas com o Diogo e a sua impessoalidade… Mas não podia fazer nada para evitar isso…

Mas depressa chegou o primeiro dia do projecto. Ou mais propriamente a primeira noite… O responsável do projecto explicou a todos os membros da equipa, na qual Inês e Diogo estavam incluídos, que o projecto tinha a duração prevista de um mês, embora pudesse ser prolongado mais umas semanas, dependendo da evolução do mesmo. E formou as várias equipas de entre os presentes, tendo ela e Diogo ficado integrados na mesma equipa.

Inês pensou que iria ser um mês difícil, pois já estava habituada à atitude demasiado profissional e introvertida do seu colega. Mas era um sacrifício que teria de fazer. E um mês passava num instante. Pelo menos era o que ela esperava.

Mas a primeira noite deu para ela ter uma amostra do que lhe estava destinado. Foi uma noite em que ambos ficaram praticamente calados o tempo todo a tentar preencher os documentos e relatórios. O silêncio era apenas interrompido quando ela tinha algumas dúvidas, que Diogo não se importava de retirar. Mas tirando isso, ele não lhe dirigia a palavra. E ela, por sua vez, mesmo sendo muito extrovertida, sentia-se algo condicionada, pois não queria estar a meter conversa com ele, quando era claro que ele não estava interessado nisso e apenas queria trabalhar. No final da noite, quando todas as equipas foram para casa, contavam-se pelos dedos as vezes em que o silêncio tinha sido quebrado entre os dois.

Inês quando chegou a casa, antes de se ir deitar, apenas pensou que iria ser um mês muito comprido e não tinha esperança de que as coisas melhorassem.

As suas previsões acabaram-se por concretizar, pois o resto da semana foi muito semelhante ao primeiro dia. Custava-lhe muito que isso acontecesse, pois ela por natureza tinha a tendência para tagarelar, mas a frieza com que o colega a tratava, tirava-lhe qualquer vontade de falar com ele. Até porque ele mostrava-se muito concentrado no que estava a fazer e demonstrava que não queria ser incomodado com coisas triviais. Ela não se podia queixar da ajuda dele, pois ele era uma pessoa muito inteligente e prática e conseguia desenrascá-los aos dois nas tarefas que eram atribuídas à equipa. Mas ela não estava a ser ela própria. E isso era algo que ela detestava.

Mas as coisas não mudavam. Dia após dia, a rotina era sempre a mesma. Depois do trabalho normal diário, iam os dois para a sala de reuniões com as restantes equipas envolvidas no projecto. E ela acabava invariavelmente na mesma equipa do Diogo, onde o trabalho decorria sempre da mesma forma.

Até que numa noite, Inês decidiu que tinha mesmo de falar com o seu colega. Eles até estavam a cumprir com as tarefas que lhes iam sendo atribuídas, mas não percebia o motivo pelo qual ele agia assim. E mais valia falar agora, do que aguentar mais duas semanas e meias naquela situação inconfortável. Isto se o projecto não se prolongasse.
Por isso, numa altura em que as coisas estavam mais calmas, ela decidiu arriscar.

- Diogo… Podemos falar?
- Claro. Tens alguma dúvida?
- Não, não era por causa de nenhuma dúvida. Precisava de esclarecer uma coisa contigo.

Inês reparou logo na mudança da expressão facial do seu colega quando disse essas palavras, pois tinha-se tornado ainda mais sisuda.

- Mas sobre o que queres falar? – Interrogou-se Diogo, mostrando um certo ar de surpresa.
- Queria falar da forma como estamos a trabalhar juntos.
- Mas achas que não estamos a trabalhar bem? Estamos a fazer tudo o que nos foi pedido e até já fomos elogiados por isso.
- Sim… eu sei… mas não é isso. É que queria falar da forma como nós os dois nos relacionamos. Não sei… parece que não gostas de mim e tentas evitar falar comigo… até pode não ser isso, mas é a impressão com que fico.
- Inês… podes estar descansada… não tenho nada contra ti… é só que estou muito concentrado no que estou fazer e quero garantir que as coisas correm bem.
- E achas que eu não quero? E que não estou empenhada no projecto? É que acho que as coisas poderiam correr melhor se nos dessemos melhor… as horas e as noites passariam mais depressa…

Diogo calou-se momentaneamente e reflectiu no que haveria de dizer. Sabia que ela tinha razão. Eles estavam praticamente obrigados a estar mais tempo juntos do que com as próprias famílias e amigos e não era justo para ela ter como companhia alguém que não queria falar com ela a não ser quando fosse necessário. Ele tinha sido sempre uma pessoa fechada por natureza… era mesmo próprio da sua personalidade… mas soube que tinha de fazer um esforço para ser mais sociável, pois caso contrário poderia surgir problemas com Inês, o que iria acabar por afectar o projecto.

- Sim… tens toda a razão… mas tens de perceber que eu sou assim por natureza… mas vou fazer um esforço para melhorar…
- É só isso que te peço. Não te vou obrigar a mudares, mas agradeço que pelo menos estejas disposto a fazer o esforço.
- Sim… vou fazer esse esforço. Eu prometo.
- E para iniciar esta nova fase, fazemos um pacto. Cada um irá contar algo que mais ninguém aqui na empresa sabe. E quero que saibas que podes confiar em mim.
- Inês…- disse Diogo, após uma breve pausa – essa questão nunca se colocou. Nunca me deste motivos para não confiar em ti. Mas queres que eu comece?
- Não…como fui eu que tive a ideia, eu começo. Sabes quem eu descobri que andava com a Mónica da área comercial? O André da área das compras. Cá eles fingem que não se conhecem, mas um dia vi-os muito juntos num restaurante, num jantar romântico.

- Não… A sério? Nem fazia ideia? Mas mais alguém sabe?
- Não… eu não contei nada a ninguém… Não tem nada a ver comigo, nem com mais ninguém da empresa. É daquele tipo de coisas que diz respeito apenas a eles os dois e a mais ninguém. E só te conto a ti, pois sei que não vais contar a ninguém.
- Obrigado pela confiança. Claro que não vou contar a ninguém. Agora é a minha vez, certo?
- Sim… Estou curiosa para saber o que aí vem…
- Mas prometes que fica entre nós?
- Claro que sim…
- Bem.. A Mónica e o Jorge não são os únicos que têm um romance no escritório… - disse Diogo, aguçando a curiosidade da sua colega. - Eu tenho uma relação secreta com a Sónia já há uns meses.

Inês ficou completamente chocada. Nunca iria pensar que a sua amiga Sónia se pudesse envolver com alguém como o Diogo. Eram pessoas muito diferentes e com personalidades opostas. Se bem que ela tinha dito que estava a andar com alguém nos últimos tempos e estava a fazer segredo da pessoa.

- Não posso… Estás mesmo a falar a sério?

Diogo fez mais uma pausa, tendo colocado um ar muito sério antes de responder à sua colega.

- Achas mesmo? – disse Diogo, tentando evitar um sirriso.
- Não sei… Podia ser verdade… mas não foi isso o combinado. Era suposto contarmos um ao outro uma coisa que mais ninguém soubesse – reclamou Inês, como era seu hábito.
- E foi o que fiz. Provei-te que tenho um sentido de humor, ao contrário do que todos no escritório pensam…

Inês esboçou um genuíno sorriso ao seu colega e soube que as coisas iriam mudar para melhor e que ambos se iriam dar melhor no futuro…

quarta-feira, agosto 03, 2011

Capítulo 28 - Palavras escondidas...

Patrícia encontrava-se compenetrada nos seus pensamentos, quando sentiu algo a bater na sua cara. Tinha sido uma daquelas pequenas bolas de esponja com o logótipo da empresa que alguém tinha atirado contra ela. Mesmo sem se virar na direcção do culpado, ela já sabia quem o tinha feito.


Realmente, Pedro nos últimos dias tinha recuperado a alegria que tinha desaparecido nos últimos meses. E tinha novamente disposição para este tipo de brincadeiras com ela. E só poderia existir um motivo para esta mudança de disposição. As coisas deveriam estar a correr melhor com a Inês. Apesar dele não lhe ter dito explicitamente, notava-se que ele tinha novamente voltado a sair com ela. Não, as coisas ainda não estavam como eram antes. Mas seria uma questão de tempo até as coisas mudarem. E ela sabia que ela tinha sido uma das principais responsáveis pela reaproximação dos dois. Ela podia ter ficado calada no jantar de anos de Pedro e não ter dito nada a Inês. Se assim ela o tivesse feito, os dois continuariam afastados. Mas ela já não suportava a tristeza e melancolia na vida de Pedro, e por mais que lhe custasse a ela própria, ela estava disposta a perdê-lo, pois o que ela mais queria era que ele voltasse a ser o Pedro de sempre… Era muito difícil para ela. Foi um sacrifício que nunca ninguém saberia que tinha feito. Quem nunca sofreu, nunca amou. E quem já amou, já sofreu…

Quem nunca fez algo por alguém, sem essa pessoa saber de nada? Era esse o papel que lhe tinha sido reservado na saga de Pedro e Inês. O de uma personagem secundária, a que ninguém ligava muito, mas que teve um papel fulcral no desenrolar da história.

Todos estes pensamentos passaram num segundo na sua cabeça, antes de se virar para Pedro.

- Já vi que estás sem nada para fazer… - disse, fingindo um tom agressivo na sua voz.
- Desculpa, não me consegui conter. Quando te vi aí parada à frente do PC, tinha mesmo de fazer aquilo.

Patrícia sorriu no seu íntimo, pois sentia que Pedro estava feliz. E ainda por cima, essa mudança do estado de espírito tinha provocado uma reaproximação entre os dois, se bem que ele continuasse a vê-la só como uma amiga.

- Folgo em saber isso.
- Vá lá… não é a primeira vez que te faço isto.
- Sim… não é a primeira… E tenho a sensação de que não será a última… Mas o que vieste fazer ao meu humilde gabinete?
- Tens um tempinho para falar?

Patrícia quase congelou ao ouvir essas palavras. Já imaginava o que estaria para vir. Infelizmente, o facto de Pedro ter voltado a recorrer a ela para ser sua confidente, também trazia um reverso da medalha. Um dia, ele iria voltar a falar da sua quase relação com Inês. Ela sabia que era inevitável, mas tinha o secreto desejo que fosse o mais tarde possível. Se ele soubesse o transtorno que lhe estava a causar, ele talvez não lhe diria nada. Mas não sabia, porque ela própria não queria que ele soubesse.

- Claro. Desde que não atires outra vez uma bola contra mim.
- Vou tentar conter-me.
- Fica combinado. Então, que novidades tens para me contar?
- Queria pedir-te um conselho.- Patrícia sabia que o momento que tanto receava estava prestes a chegar.
- Já sabes que podes confiar em mim. Diz-me lá.

A cara de Pedro ficou mais séria. Os seus olhos demonstravam que tinha algum receio em fazer-lhe a pergunta. Após ter dado um ligeiro suspiro, disparou:

- Não sei se te tinha dito, mas no fim de semana passado, estive com a Inês…

Mesmo estando à espera desta situação, Patrícia sentiu um calafrio quando ela se concretizou.

- Não, não foi nada do que estás a pensar… foi só um cafezinho, para por a conversa em dia. Como se fossemos dois bons amigos.

- Ah… não fazia a mínima ideia. E como é que correu? – disse Patrícia, tentando com o largo sorriso esconder o incómodo que esta conversa lhe estava causar.
- Bem…Aliás… muito bem. Foi como nada se tivesse passado antes.
- Mas? – Patrícia sabia que teria de haver algo mais, para ele querer falar com ela.
- Mas, faltou algo… Eu senti que ela estava a gostar de estarmos juntos novamente… mas senti que ela estava a conter-se em alguns momentos… como se ainda não confiasse totalmente em mim...
- Sabes.. Isso é normal… esta coisas levam tempo… mas já é muito bom as coisas estarem a comporem-se.
- Tens razão… não posso apressar as coisas. Mas queria mesmo que as coisas voltassem a ser como dantes… Mas ainda somos apenas amigos…

Ao ouvir estas palavras, Patrícia sentiu por uns breves momentos, uma esperança. Mas rapidamente ela desvanesceu-se. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde ele e Inês iriam acabar por voltar a estar juntos. E queria que isso acontecesse o mais cedo possível, pois quando mais tempo isso demorasse a acontecer, mais tempo iria alimentar aquela sensação de ainda ser possível que Pedro olhasse para o lado e a visse de uma forma diferente. E isso iria impedi-la de seguir com a sua vida.

- Eu sei que as coisas vão mudar. Ela não vai conseguir resistir para sempre ao teu charme – disse Patrícia com um sorriso maroto ao mesmo tempo que pousou a mão em cima do ombro do seu amigo. – tens de a reconquistar aos poucos…

- Sabes… Eu não sei o que faria sem ti. E sem os teus conselhos. És a melhor amiga a quem eu poderia recorrer para me ajudar neste tipo de coisas.
- Já sabes… ficas a dever-me um favor.
- Não será o primeiro.
- Eu estou a contar.
- Eu sei bem que sim… - disse Pedro com um sorriso. – Mas chega de falar de mim. Como é que estão a correr as coisas com o Miguel?

Patrícia pensou um pouco antes de responder. Não sabia muito bem o que lhe dizer. As coisas estavam a avançar lentamente com o Miguel, o tal homem com quem tinha jantado há uns meses atrás e tinha-se dado muito bem. E ao contrário do que imaginava que iria acontecer nesta altura, ele ainda estava interessado nela, mesmo após ela ter estado nuns meses terríveis numa campanha que a obrigou a imensas noitadas e fins de semana. Mas ele devia mesmo estar interessado nela, pois teve muita paciência e demonstrou que estava disposto a esperar por ela.
Foi por isso que teve vários encontros com ele. Acima de tudo, ambos estavam a aprender a confiar um no outro e a conhecer-se melhor. Ambos eram muito parecidos e gostavam das mesmas coisas. Ele era perfeito para ela… Mas ela ainda não tinha deixado cair todas as suas defesas, uma vez que tinha aquela ideia estúpida de que Pedro ainda poderia vir a interessar-se por ela e que assim que ela entrasse numa relação com Miguel, a porta fecharia para sempre. E era por isso que ela tinha medo do que dizer a Pedro, com medo de dizer algo que o afastasse para sempre. Não que ele tivesse alguma vez próximo dela.

- Estão a correr bem. Fui jantar com ele na semana passada. Fiquei de lhe ligar para combinar qualquer coisa esta semana.
- Já vi que as coisas estão a começar a ficar sérias.
- Não sei ainda… Vamos lá ver como as coisas correm. Por agora estamos a levar as coisas devagar.

Patrícia tinha muito cuidado em cada palavra que dizia. Não queria dizer nada que pudesse afastar Pedro, nem dizer uma mentira ao seu amigo.

- Fico feliz por ti. Vejo que tens estado feliz com ele e isso é que interessa. Ele seria um parvo em não querer ter algo mais sério contigo.

Patrícia ficava sempre um bocado atrapalhada, quando Pedro lhe fazia um elogio destes. Ficava dividida, pois sempre lhe fazia ter esperança de que ela gostasse dela. Mas no seu íntimo, ela sabia que isso não era realidade.

- Vamos ver.. Eu ainda não sei se quero ter uma relação séria com ele… Mas estão a correr bem…. – disse Patrícia, que ficou um pouco desiludida pelo facto de Pedro não ter demonstrado qualquer indícios de cíumes da sua quase relação com o Miguel.

- Espero que sim… já estás a ficar para velha… é melhor aproveitar enquanto ainda estiveres minimamente atraente para tentar enganar alguém a ficar contigo- disse Pedro, desta vez já com um ar menos sério.

- Ora… Vá…Vamos trabalhar… - disse Patrícia, com um grande sorriso nos lábios, sorriso esse que só o Pedro lhe conseguia causar.

domingo, abril 03, 2011

Capítulo 27- Dar tempo ao tempo...

Apesar de já ter passado um dia, Inês não conseguia de deixar de mostrar um sorriso sempre que pensava na conversa que tinha tido com Pedro. Ela sabia que os dois eram feitos um para o outro. Mas sabia também que nem sempre duas pessoas que gostam uma da outra ficam juntas. Ainda para mais, quando a confiança entre elas tinha sido quebrada no passado.
Por isso, sentia-se culpada de ter a esperança de que as coisas voltassem a ser como dantes. Tinha de ter paciência e ver como as coisas corriam. Mas era complicado gerir estes sentimentos, pelo que decidiu que precisava da ajuda da sua melhor amiga e dos seus bem-intencionados conselhos.

Combinou então com a Rita passar em casa dela, para falarem um pouco ao final da tarde. A amiga, que também já não a via há algum tempo devido aos horários complicados que Inês tinha tido nos últimos tempos, insistiu que ela fosse visitá-la.

Inês ficava sempre com remorsos quando ia visitar a amiga, pois a sua casa parecia uma arrecadação em comparação com a casa perfeita da amiga. Nunca tinha visto uma casa assim… Estava sempre decorada com as coisas certas no lugar certo e sempre limpa e arrumada. Parecia aquelas casas que se viam nas revistas de decoração que costumava ler quando estava na sala de espera do seu dentista.

Mas à hora combinada, lá chegou à casa da sua amiga. E logo depois de ter deixado o seu casaco em cima da cama que estava no quarto de hóspedes, foi logo metralhada com as perguntas que Rita queria fazer desde o dia anterior.

- Então… Como é que correu? – disse Rita, com um tom de impaciência, bem patente na sua voz.
- Correu bem… ou melhor… correu muito bem. Pareceu que nunca tínhamos deixado de estar juntos…
- E como é que te sentes?
- Não sei bem… estou muito confusa…
- E tens motivos para estar… Não te podes esquecer do que ele te fez.
- Não… não me esqueci. Mas… - tentou justificar Rita antes de ser interrompida.
- Não pode haver mas… Já te esqueceste do que sofreste com ele?…Eu pelo menos, não me esqueci do que passaste na altura. Sei que para ti, é fácil pensar que ele mudou, pois queres a todo o custo arranjar uma desculpa para que as coisas voltem a ser como antes.
- Rita… Posso assegurar-te que não me esqueci do que passei… nem do apoio que me deste… Mas não é fácil… queria tanto voltar para ele...
- Sim, eu sei, querida. Mas ainda é cedo para isso. Tens de esperar mais um pouco, para saber se ele mudou mesmo.
- Eu sei que ele está diferente. Deu para perceber ontem. Deu para perceber no jantar de anos dele. Acho que ele percebeu que errou e que quer que eu volte para a vida dele.
- Sim, acredito nisso. Mas a pergunta que tens de te perguntar é se tu queres que ele volte já. Ainda por cima, agora encontras-te numa fase em que estás a descobrir quem és e o que queres da tua vida.
- O que hei-de fazer?
- Tu sabes no teu íntimo qual é a decisão correcta a tomar. Não é a mais fácil… mas a longo prazo, será a melhor…
- Tens razão…Tens sempre razão…

Rita abraçou a amiga, pois sentiu que esta precisava do seu apoio naquele momento. Viu um pequeno brilhozinho nos olhos da amiga, pois as primeiras lágrimas começavam a aparecer, quando tomou consciência do caminho que deveria seguir.

- Vá… vamos falar de coisas mais alegres – disse Rita, tentando distrair a amiga. – Parece que já tens um tempinho livre durante a semana para sair com as tuas amigas.
- Pois… o trabalho vai acalmar por uns tempos. Já estava mesmo a precisar…
- Também diria que sim. Já não te via há tanto tempo. Já quase passas mais tempo com os teus novos colegas do que com os teus amigos.
-Nos últimos tempos tem sido assim. Mas também já deu para fazer novas amigas lá dentro. Senão, não teria aguentado estas semanas infernais…
- Ainda bem… mas quando é que conheço algumas dessas tuas novas amigas?
- Temos de combinar um cinema para vos apresentar… Vais gostar delas… são muito divertidas…
- Então combina… por mim, pode ser quando quiseres… Não sou eu que tenho estado sempre indisponível nos últimos tempos…
- Tens toda a razão… escusas de dar-me novamente na cabeça…
- E vou finalmente conhecer esse tal homem com quem tens passado o tempo todo?
- Quem? O Diogo? Ele é apenas um colega…- disse Inês com uma voz indignada. Não o considero que seja um amigo. Não que não tenha já tentado aproximar-me dele, pois tendo em conta o tempo todo que iríamos estar juntos a trabalhar, seria sempre mais fácil passar o tempo com alguém com quem me desse bem… mas ele é muito…. Como é que hei-de dizer? Muito fechado e muito profissional… não é daquelas pessoas com quem eu normalmente me dou bem…
- Pois…já estou a ver o tipo de pessoa que ele é… Mas é assim tão complicado trabalhar com ele? Coitada de ti…
- Não é assim tão mau. Ele não é uma pessoa antipática. Parece-me mais uma pessoa introvertida, que está no seu próprio mundo. E não me posso queixar. Ajudou-me muito… sempre que eu tinha uma dúvida, ele parava o que estava para fazer e ajudava-me… Foi sempre muito prestável… mas era sempre um pouco frio na forma como me explicava as coisas… acho que ele não gosta assim muito de mim, mas como tem de trabalhar comigo, faz um esforço para parecer minimamente sociável…
- Não te queixes… podia ser pior… ele podia não te ajudar, só para fazer boa figura perante os vossos chefes, em comparação contigo…
- Não… ele não faria isso. Pelo que pouco que conheço dele, ele é uma pessoa muito íntegra…muito profissional… Ao menos, não me tenho de preocupar com isso.
- Outra coisa? Ele é giro?- disse Rita com um sorriso maroto.
- Acho que ele é normal… não é daquelas pessoas que me chamaria a atenção se o visse na rua…- respondeu Rita à provocação - Mas também não se pode dizer que seja feio… Mas mesmo que se parecesse com o George Clooney, com aquela personalidade, nunca me interessaria por ele…
- Pois… já vi que só tens olhos para o Pedro…
- Não tínhamos combinado em não falar de coisas tristes?
- Tens toda a razão… Olha, já te mostrei o quadro que comprei para o meu quarto de hóspedes?
- Ainda não… Mostra, mostra…

Depois de ter sido deslumbrada pelo quadro da amiga, Inês passou o resto da tarde a falar com a sua amiga sobre muitas coisas… Sem dar por isso, tinha conseguido passar umas horas sem pensar na sua relação difícil com Pedro. Se os próximos tempos fossem tão fáceis assim…

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Capítulo 26 - Bons Amigos

O fim-de-semana tinha finalmente chegado. Por isso, Inês tinha aproveitado para dormir até um pouco mais tarde. As últimas semanas tinham sido cansativas por causa do seu trabalho, e as suas horas de sono tinham sido muito reduzidas, pelo que lhe soube muito bem estar deitada na sua caminha. Era impossível recuperar as horas de sono perdidas nos últimos tempos, mas nesse dia apetecia-lhe ficar o dia inteiro a dormir e não fazer absolutamente mais nada. Mas tinha de levantar-se. Tinha uma série de tarefas a fazer. Uma das quais seria ir às compras, pois sabia que o seu frigorífico estava praticamente vazio e que a única coisa que teria em casa para comer seria provavelmente um iogurte líquido. E também não se podia esquecer de limpar a casa, pois o facto de não ter uma empregada que a ajudasse, notava-se perfeitamente na sua sala e na cozinha. E também teria de lavar a roupa suja que se tinha acumulado nos últimos tempos. Até porque queria levar um dos seus vestidos favoritos para o café com Pedro, marcado para o final da tarde.



O dia passou assim num instante, enquanto tratava dos seus afazeres. E quase sem dar por isso, estava a sair de casa para ir ter com o Pedro a um café em Telheiras. E nessa altura veio à cabeça a importância desta ocasião. Era a primeira vez que iria estar sozinha com Pedro desde que se tinham separado há uns meses atrás. E apesar de ainda gostar dele, queria que este fosse apenas um encontro entre amigos, pois no seu íntimo ainda se sentia algo magoada pelo que ele lhe tinha feito e ainda não confiava totalmente nele. Só esperava que Pedro tivesse as mesmas intenções, e que não estivesse à espera de algo mais. Ainda era cedo para isso. Era uma questão de ver o que a noite lhes iria reservar.



Quando chegou ao café, Pedro já la estava à porta à sua espera. Inês olhou para o seu relógio e viu que tinha chegado à hora marcada. O Pedro já devia ter chegado um pouco antes, o que poderia indiciar algum nervosismo e ansiedade por parte dele. Tudo o que ela queria era um encontro amigável, sem pressões de ambos os lados.



- Olá – Cumprimentou Inês, antes de dar dois beijinhos na face de Pedro.

- Olá.- Respondeu Pedro.

- Espero que não estejas à espera há muito tempo.

- Não… cheguei agora mesmo, um pouco antes de ti.

- Ainda bem que não tiveste de esperar. Vamos entrar?



Dirigiram-se os dois para uma mesa no canto do café, onde poderiam falar confortavelmente. O café não estava muito cheio, mas no sítio onde se sentaram não havia muita gente à volta, pelo que haveria menor ruído de fundo.



- Já há algum tempo que não nos víamos – disse Pedro, logo após terem pedido ambos um capucinno e um cheesecake de framboesa ao empregado de mesa.

- Tens razão… já lá vão várias semanas. Mas aí a culpa é toda minha. Estas últimas semanas lá na minha empresa foram algo complicadas. Já percebo os stresses que tinhas às vezes nalguns dias com os deadlines das tuas campanhas, quando… -Inês parou um instante pois estava prestes a dizer “quando ainda estávamos a namorar”, e percebeu que poderia causar algum embaraço. Mas emendou a tempo.

- … estavas sempre ocupado.

- Estás a ver? Não eram só desculpas. Há alturas em que praticamente não conseguiamos parar nem por um segundo. E não tínhamos tempo para mais nada… Já sabes o que passo.

- Sim, agora percebo perfeitamente.

- Mas o mais importante de tudo, é que tu estejas a gostar do que estás a fazer. Senão, é um sacrifício muito grande.

- Sabes, estou mesmo a gostar. Quando lá cheguei, estava sempre a pensar que seria sempre um emprego temporário, para me ajudar a pagar as contas, e que uns meses depois, estaria à procura novamente de algo na minha área….



Inês sentia que podia conversar à vontade com Pedro. Isso era algo que não tinha mudado. Ele sabia ouvi-la e notava-se que ele tinha um real interesse por se inteirar do que ela estava a sentir e do que ela estava a passar.



- … mas estou a gostar dos amigos que fiz por lá e surpreendentemente, estou realmente interessada nas tarefas que me deram. Claro que preferia trabalhar menos horas… mas sinto que faço parte da equipa e que as pessoas confiam no meu trabalho.



- Isso é o mais importante. Eu também só faço as noitadas que faço porque também gosto do que faço… Bem, o ordenado também ajuda…



Pedro conseguiu arrancar um leve sorriso a Inês. O quanto ele sentia falta de ver aquele sorriso tímido, mas ao mesmo tempo muito contagiante.



- Mas felizmente, a parte complicada já terminou. Agora só daqui a três meses, é que o stress volta novamente. E aproveito para aprender entretanto mais algumas coisas sobre contabilidade… Acho que me fez alguma falta, nestas últimas semanas… Lá me valeu a ajudas dos meus colegas.



- Sabes, nunca pensei que acabasses por ficar num emprego como esse. Sempre pensei que estivesses a fazer algo onde estivesses a trabalhar com pessoas ou miúdos, ou algo mais criativo. É que contabilidade e números parecem-ne uma coisa muita séria… não era daquelas áreas que ligue muito com aquilo que tu és…

- Eu também nunca pensei isso… Mas as pessoas mudam… E acho que mudei alguma coisa nos últimos tempos… Sempre fui uma pessoa muito emocional e agia com base no que sentia… Mas isso já me causou alguns dissabores…



Pedro sentiu-se um pouco culpado ao ouvir estas últimas palavras. Tinha sido ele a última pessoa a magoá-la, quando lhe tinha prometido no início do namoro que ele nunca a iria magoar como outras pessoas o tinham feito. Mas, lá no fundo, ele sabia que ela agora não lhe estava a dar uma indirecta.



- … Mais do que eu desejava. Mas sempre fui assim, desde miúda. Decidia sempre com o coração e não pensava muito nas consequências. Sempre fui muito impulsiva, sabes? E chega uma certa altura, quando nos apercebemos de que temos de mudar… Não uma pequena mudança nos nossos hábitos… mas sim uma mudança na nossa forma de agir e viver a vida… às vezes as coisas más acontecem por uma razão… nem que seja para nos fazer ter um reality check, e repensar um pouco…- Inês parou por uns instantes, pois o seu lado emocional estava novamente a vir ao de cima.



- … pelo que decidi ser menos impulsiva… usar mais a razão do que a emoção… E por acaso acabei por arranjar um emprego mais sério… mas foi pura concidência… Talvez um sinal de que tinha de mudar…



- Às vezes, temos mesmo de mudar… Só tenho pena de ter sido um dos causadores dessa mudança.

- Já falámos disto, Pedro. Há coisas más que vêem por bem. Mas o passado é o passado. O que interessa agora é a nossa amizade…

- Sim… mas sinto-me algo responsável.

- Não te sintas. Às vezes, precisamos mesmo de mudar a nossa vida e isso não acontece por uma única situação. Não foi só por causa de ti que repensei um pouco a minha vida. Disso podes estar descansado.

- Tens razão. È como tu dizes. Nem vale a pena falar mais no passado.

- Concordo. Mas voltando ao que te estava a dizer… o mais importante é que estou realmente a gostar de estar envolvida em algo mais concreto, mais terra a terra. Realmente, mudei um pouco.



Pedro ficou um pouco mais descansado. Ele não tinha planeado no dia de hoje tocar no que tinha acontecido antes entre os dois, e quando ele mencionou sem pensar em algo que os tinha afectado aos dois no passado, pensou que pudesse ter estragado o encontro amigável que ambos estavam a ter. Felizmente, isso não aconteceu.

Mas acima de tudo, estava feliz por ter mais uma oportunidade com Inês. Mesmo não sendo a mesma Inês de antes, continuava a sentir a mesma empatia com ela… e queria fazer todos os possíveis para um dia ela confiar nele novamente.



- Seja como for, tu ainda és a mesma Inês de sempre. Apenas um pouco mais madura…

- Sim. Desde que com isso não estejas a insinuar de que estou a ficar mais velha.

- Agora que falas nisso, estou a ver umas rugas novas na tua testa…

Inês já sentia falta das provocações mútuas entre ambos. Sentia-se feliz, por aos poucos, as coisas estaram a voltar ao normal antes da separação. Mas sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Ou que pelo, menos ainda faltaria muito para que isso acontecesse.



- Olha quem fala. Já vi que o trabalho te tem dado muitas preocupações ultimamente. Pelo menos pela quantidade de cabelos brancos novos que tens…



A conversa continuou durante cerca de uma hora. Mas acima de tudo, a conversa foi natural, sem silêncios embaraçosos. Os dois continuavam a dar-se muito bem e isso notou-se perfeitamente. Quem os visse sentados naquele café, nunca imaginaria que era a primeira vez em muito tempo que estavam juntos e muito provavelmente grande parte das pessoas pensariam que eles estariam juntos numa relação.



Mas durante a conversa um certo tema não foi focado por nenhum deles. Falaram animadamente sobre uma série de coisas, mas nenhum quis ser o primeiro a perguntar ao outro se estavam a sair com outra pessoa. As coisas estavam a correr bem, e nenhum queria introduzir um tema inconfortável para ambos naquela noite.



Mas Pedro, esteve a pensar nisso durante a noite toda. Mesmo que não o parecesse, ele queria saber se ela estava a sair com alguém ou estava em vias de sair com alguém. Ele já tinha percebido que pelo menos ela não estava em nenhuma relação séria. Mas isso não era suficiente. Ele queria saber que ainda existia hipóteses de um dia os dois voltarem a estar juntos.



Mas não conseguia encontrar nenhuma ocasião apropriada para introduzir este tema na conversa. Supostamente, eles agora eram amigos. E não seria normal um amigo perguntar a outro amigo se eles estavam a sair com alguém? Ele fazia isso com a Patrícia. Mas será que ela poderia interpretar mal a sua pergunta? Ele não queria arriscar.



Mas pressentindo que o encontro deles estava quase a terminar, ele soube que não era algo para lhe perguntar directamente. Tinha de satisfazer a sua curiosidade de uma forma mais discreta. Porém, sabia que tinha de ser naquele momento. Por isso, logo a seguir a ter olhado mais uma vez para o relógio, decidiu-se finalmente.



- Já está a ficar um pouco tarde. Estou a gostar imenso da nossa conversa, mas hoje não posso dormir muito tarde.

- Ai não?. Não me digas que ontem saíste à noite e só te deitaste de madrugada. – Inês aproveitou a deixa, para tentar também descobrir algo mais, mas sem dar a entender as suas intenções.

- Não… nos últimos dias não tenho dormido assim muito. E não, não é pelos motivos que possas estar a conjecturar na tua cabeça. Tenho estado a trabalhar numas campanhas quase em simultâneo e tenho feito umas noitadas muito prolongadas. Este é o primeiro fim-de-semana nos últimos tempos que tenho um tempo livre, mas as próximas semanas irão ser complicadas. Por isso, não sei se nos próximos tempos mais próximos, se as coisas irão ser calmas… Será mais complicado combinarmos alguma coisa… Se bem, que, como imagino que a tua vida social deva agora estar bastante preenchida, depois das últimas semanas. Aliás, deves ter as próximas noites ocupadas, durante os próximos tempos. – Pedro lançou o isco, e esperou que a resposta dela lhe desse alguma indicação para a questão que inquietava a sua mente..



Por seu turno, Inês não caiu no erro de responder logo a Pedro. Ela já o conhecia bem, e sabia que a insinuação dele não tinha sido casual. Mas ao mesmo tempo, não sabia exactamente o motivo dele. Não, ela não tinha muitas coisas marcadas nos próximos tempos. Mas será que ele queria marcar mais uma coisa com ela, tão pouco tempo depôs deste reencontro que estavam a ter nessa noite? Ou teria outro motivo escondido?

Mas ela sabia que tinha de ser sincera. Ambos estavam a tentar fazer o esforço de serem amigos e se ela queria ser amiga dele, tinha de começar a confiar nele aos poucos.



- Nem por isso. Tenho só uma saída marcada com umas amigas, mas de resto, nos próximos dias tenho muitas tarefas caseiras para pôr em dia.



Pedro sentiu-se aliviado ao ouvir estas palavras. Se ela tivesse encontrado alguém, a primeira coisa que faria após estas semanas terríveis em termos de horários, seria passar tempo com essa pessoa.



- Já vi que transformaste-te numa dona de casa exemplar. Desde que não sejas também desesperada…

- Piadinhas…

- Reconhece. Já sentias alguma falta das nossas conversas.

- Por mais que me custe a admitir, lá muito lá no fundo, sentia mesmo a falta. Pena que tenha agora memso de ir a um jantar com a família. – disse Inês, com um grande sorriso nos seus lábios.

- Então, temos de combinar qualquer coisa daqui a uns tempos – disse Pedro, tentando não parecer muito ansioso e tentando que ela não achasse que ele pudesse estar a pressionar.

- Seria óptimo.



Ao saírem do café, Inês despediu-se um um leve beijo na face de Pedro, com a promessa de não deixar que passasse muito tempo antes de se encontrarem novamente. Pedro viu-a a passar para o outro lado da estrada onde ela tinha deixado o carro, e não conseguiu deixar de pensar, enquanto via o cabelo loiro de Inês esvoaçar ligeiramente com uma leve brisa que passava naquele momento, que esta noite tinha sido o primeiro passo para que tudo voltasse a ser como dantes.

domingo, setembro 12, 2010

Capítulo 25 - O início da amizade

Pedro estava satisfeito pelo facto da noite passada ter corrido bem… Principalmente, estava feliz pelo facto do reencontro com Inês ter sido muito encorajador. Os dois tinham falado algumas vezes durante a noite e pareceu-lhe que ele já tinha recuperado parte da confiança dela. Mas sabia que ainda faltava muito para que as coisas voltassem a ser como dantes. E a culpa era toda dele.



Agora tinha de ser amigo de Inês. Por mais que isso lhe custasse, era o que Inês queria. E ele não tinha outra hipótese que não a de respeitar o seu pedido. Quão difícil poderia ser amigo de uma mulher? Ele já tinha conseguido manter uma relação de amizade com a Patrícia. Não poderia ser assim tão complicado.



Enquanto estava no escritório, Pedro resistiu à tentação de ligar-lhe por causa do tal encontro que tinham ficado de ter. Era ainda muito cedo para ligar-lhe. Ele tinha de ter paciência e fazer as coisas com calma, sob o risco de afastar Inês novamente da sua vida. E também lembrou-se que não tinha ficado combinado quem ligaria ao outro. Ela poderia estar a contar a ser ela a marcar o encontro e ele não queria estar a pressioná-la.



Não, ele tinha esperar. E estava disposto a esperar o tempo que fosse preciso para a ter de volta.



Mas isso não impediu que ele estivesse o tempo todo ansioso à espera da chamada dela. Mas infelizmente, a sua espera foi em vão. Uma semana tinha passado e ele não tinha recebido um telefonema ou um SMS dela. Para tentar fugir a esse facto, ele concentrou-se no trabalho, para não ter de pensar noutra coisa. Era a forma mais fácil de não lidar com a ansiosidade que tinha.

Mas chegou a uma altura em que ele não conseguia aguentar mais. As coisas tinham corrido bem no jantar. Já tinha passado algum tempo, e podia ser que ela estivesse ocupada com o seu novo emprego e no meio de tanta coisa, não tinha tido oportunidade de lhe ligar. Por isso, racionalizou que não havia nenhum mal em ser ele ligar-lhe para combinar um café.



Pedro agarrou no seu telemóvel e ligou para o número de Inês. Mas ela não lhe atendeu o telemóvel. Aliás, ela desligou-lhe imediatamente, não tendo deixado tocar mais uma vez. Tentou mais uma vez, mas obteve o mesmo resultado.



Ele começou a ficar algo nervoso. Porque seria que ela estaria a evitar as suas chamadas? Será que ele tinha cometido o erro de ligar-lhe em vez de esperar que ela estivesse preparada para sair com ele a sós pela primeira vez desde que tinham terminado? Ou será que ela estava ocupada de momento e ligaria-lhe logo a seguir, assim que ela pudesse?



Pedro decidiu aguardar alguns minutos antes de tentar novamente, pois podia ser que Inês devolvesse a sua chamada. Mas os minutos foram passando e ele continuava a não ter nenhum sinal dela. Passado duas horas após a sua tentativa, Pedro decidiu ligar-lhe novamente… mas mais uma vez, aconteceu o mesmo que antes. A sua preocupação aumentou, pois por um momento, passou-lhe pela cabeça que ela tinha mudado de ideias e que não queria estar com ele, nem mesmo como amigo. Ou talvez ela tivesse encontrado alguém entretanto e não quisesse falar com ele, para evitar aquela conversa embaraçosa que acontece sempre nessas situações.



Mas ele não podia fazer nada. A bola estava nas mãos dela, e se ele continuasse a insistir corria o risco de afastá-la de forma irremediável. Se é que isso ainda não já tivesse acontecido. Tinha de continuar com a sua vida sem ela e nunca perder a esperança. Por isso, voltou a enterrar-se no trabalho, particularmente na campanha actual que tinha em mãos, e não saiu do escritório até serem onze da noite.



Quando chegou a casa, olhou para o telemóvel e viu que não tinha chamadas não atendidas ou mensagens novas. O seu ânimo diminuiu ainda mais, mas apenas podia suspirar e resignar-se à situação. Tomou um duche e depois de ter comido uma sandes ao jantar foi logo deitar-se.



Mas essa noite o seu sono não tranquilo, pois a insegurança que tinha reflectia-se de forma inconsciente nos seus sonhos. E nessa noite tinha mais uma vez sonhado com Inês, mas o final não tinha sido feliz. Pedro acordou de madrugada, sobressaltado com o desfecho do seu sonho, e pensou que não poderia deixar que isso acontecesse na realidade. Ele realmente amava Inês, como nunca tinha amado outra mulher na vida. E não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ela. Sim, isso poderia parecer um cliché, mas na verdade, ele sentia um vazio que não o deixava ser feliz, mesmo com o emprego e o dinheiro que tinha. Faltava alguém com que partilhar a sua vida. Por isso, só lhe restava desviar os pensamentos para a campanha em que estava a trabalhar e em ideias novas para o anúncio televisivo.



E foi assim que mais um dia passou, sem ter tido novidades dela. E foi assim que passaram as três semanas seguintes em que se dedicou de corpo e alma ao trabalho, para não ter tempo de pensar nela. Os seus dias eram praticamente cópias uns dos outros. Ele passou a ser dos primeiros criativos que chegava à agência logo de manhã e passou a ser um dos últimos a sair. Os seus fins-de-semana eram também passados a trabalhar. Mas a cada dia que passava, era cada vez mais difícil escapar e evitar a realidade que cada vez mais lhe parecia mais evidente: ela já não estava interessada nele. E isso só fazia com que ele se enterrasse cada vez mais em trabalho. Era uma bola de neve que não parava de crescer.



Mas Pedro sabia que um dia teria de aceitar a realidade nua e crua. O tempo que tinha passado desde que lhe tinha tentado ligar pareceu-lhe uma eternidade. Tinha sido já há quase um mês. Olhou para o relógio e viu que já eram meia-noite. Não tinha noção de que era tão tarde. Olhou à volta e viu que era a última pessoa na agência. Tinha completamente perdido a noção do tempo. Estava a fazer o shutdown do seu portátil, quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Quem poderia estar a ligar-lhe àquela hora da noite? Nunca era um bom sinal.



Mas o seu coração praticamente parou quando viu no ecran do telemóvel quem lhe estava a ligar, para logo de seguida começar a bater aceleradamente. Era o efeito que Inês tinha nele.



- Estou? – disse Pedro, depois de se recompor.

- Olá, Pedro. Tudo bem? Desculpa lá estar-te ligar a esta hora da noite.

- Não há problema. Está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada. Espero não te ter acordado.

- Já sabes como sou. A noite ainda é uma criança…

- Pois… não sei porquê, acho que já deves estar na tua caminha…

- Estás a ver como estás muito enganada? – disse Pedro, com um sorriso, que já sentia falta destas provocações mútuas – Por acaso, estou ainda na agência, a trabalhar.

- Tu? Trabalhar a esta hora? Não acredito. Só se estiveres a fazer uma campanha televisiva e estiveres a seleccionar modelos em bikini para entrar no anúncio.

- È isso que tu achas de mim? Já te disse que já não sou mais esse homem desde há uns tempos… quando conheci uma certa pessoa… Posso dizer-te que não está cá ninguém comigo e que sou a única pessoa que ainda não saiu do escritório.

- Bem normalmente, não acreditaria nisso, mas como tu me prometeste que nunca mais me irias mentir, vou acreditar em ti.

- Fazes muito bem. Tu é que deves estar com as tuas amigas na discoteca, com essa música toda como barulho de fundo. – Pedro disse estas palavras com alguma ânsia, pois tinha algum receio de que ela pudesse estar a sair com o novo namorado e tinha algum medo da resposta dela.

- Até não me importava nada de estar agora a dançar. Mas por acaso estou ainda a trabalhar.

- A esta hora? Mas ainda estás no mesmo sítio, não estás? Porque é que estás ainda a trabalhar a esta hora, ainda para mais sendo apenas uma temporária?

- Ainda não te tinha dito, mas fui promovida há duas semanas atrás, para umas novas funções de maior responsabilidade. Portanto tive que aprender todas as minhas tarefas de novo. Ainda por cima, como agora estou do departamento de contabilidade e acabámos de fechar as contas do semestre, as coisas não têm sido nada fáceis. O trabalho é muito, e o tempo é pouco. Tenho estado nos últimos dias a fazer estas noitadas até esta hora, mas finalmente as contas já fecharam e as coisas vão acalmar…



Pedro respirou de alívio. Não só Inês não tinha encontrado outra pessoa, como também o motivo pelo qual ela não lhe tinha ligado era apenas o excesso de trabalho. Ela não o tinha esquecido, apenas estava realmente ocupada e não tinha tido oportunidade de lhe ligar.



- Tenho pena que o teu novo trabalho te obrigue a trabalhar tanto. Já pensaste em tentar encontrar um novo emprego, onde trabalhasses menos? O dinheiro não é tudo na vida. Eu posso afirmar-te isso com conhecimento de causa…



- Sim, poder, eu podia… mas eu estou a gostar do que estou a fazer. Vou ser compensada com horas extraordinárias pelo trabalho que estou a fazer. Mas acima de tudo, os meus chefes confiam em mim e no meu trabalho. E é bom sentir esse reconhecimento pelo meu esforço.



- O mais importante é que tu gostes do que estejas a fazer.

- Sim… ao contrário do que esperava, estou mesmo a gostar…

- Mas não me digas que és a única que estás aí a trabalhar a estas horas… Espero que não estejam a aproveitar-se de ti, pelo facto de seres a rapariga nova…

- Pedro, sabes que a única pessoa que se aproveita de mim és tu… - disse Inês, não conseguindo evitar uma suave gargalhada de que Pedro já sentia falta – Mas falando a sério, não sou a única que estou a trabalhar. Nesta última semana, tem estado o departamento todo por cá, se bem que eu e um colega é que temos ficado todos os dias mais tarde do que os outros, pois o trabalho deles depende do nosso.

- Queres dizer que estás aí sozinha com um colega a esta hora?

- Sim, estou aqui com o Diogo. È um colega que foi promovido na mesma altura do que eu. É uma pessoa um bocado estranha, pois praticamente não me dirige uma única palavra quando não o tem de fazer. Nós só falamos acerca do trabalho. De resto, ele é uma pessoa muito fechada. Mas não me posso queixar, pois como ele tem a formação na área da contabilidade, tem-me ajudado em certas coisas que deveriam ser básicas para alguém nesta área e tem-me safado em algumas situações. Mas acho que não gosta assim muito de mim, pois tirando quando fala comigo sobre trabalho, não me dirige a palavra. Acho que só a custo é que ele me diz Bom dia ou Até amanhã.



Pedro ficou novamente aliviado. Quando Inês lhe tinha dito que estava sozinha com outro homem a esta hora da noite, ficou preocupado. Mas tendo em conta que lhe parecia que esse tal de Diogo não estava minimamente interessado em Inês, eles podiam ficar sozinhos no trabalho o tempo que tivessem de estar.



- Pelo menos ele tem-te ajudado e sido bom colega. Tiveste sorte.

- Acho que sim. Mas foi por isso que não tive oportunidade para falar com os meus amigos nos últimos tempos. Tu incluindo. Por isso, agora que o trabalho irá acalmar, queria saber se querias então tomar o tal café neste fim-de-semana, a ver se colocamos a conversa em dia.

- Por mim, acho que é uma óptima ideia.

- Espero que não tenhas estado este tempo todo à espera que eu te ligasse. – disse Patrícia com um sorriso maroto.

- Podes estar descansada que não. Estive também muito entretido nestes últimos tempos e preocupado com outras situações.- respondeu Pedro com a voz o mais natural e calma possível. Se Inês alguma vez soubesse das mudanças na sua vida que a espera por um telefonema dela lhe tinha causado, ela iria ficar assustada.

- Óptimo. Já me sinto menos mal. Realmente, tirando a Rita, quase não tenho falado com outras pessoas sem ser de trabalho nestas últimas semanas. Tenho uma série de pessoas com que retomar o contacto.

- Está descansada. Mas ainda bem que ligaste.

- Também acho que sim. Até Sábado.



Após Inês ter desligado, Pedro sentiu-se como se lhe tivessem tirado um peso dos ombros. Ainda tinha uma hipótese de voltar a reatar as coisas com Inês. Ainda faltava um longo caminho, mas pelo menos a caminhada não tinha sido interrompida ainda no início.



E o resto da sua semana foi completamente diferente do último mês. Pedro retomou os horários de sempre, pois já não tinha de soterrar-se em trabalho para não pensar na relação com Inês. Aliás, agora não conseguia deixar de pensar no encontro de Sábado. Quer Carlos, quer Patrícia notaram esta mudança repentina de humor e de hábitos e ambos sabiam que só podia estar relacionado com Inês. Só ela poderia causar esta transformação.

Quanto a Pedro, ele só esperava que o fim-de-semana chegasse o mais depressa possível, pois ao contrário dos últimos tempos, o tempo parecia agora passar mais devagar.

domingo, agosto 15, 2010

Capítulo 24 - O reencontro

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Mas desta vez, ao contrário das últimas semanas, fe-lo com um sorriso nos lábios... A noite anterior tinha mudado o seu estado de espírito, pois agora tinha uma grande esperança no futuro. Para além do novo emprego, tinha dado os primeiros passos para reatar a relação com Pedro. Por isso, não parava de relembrar o que tinha ocorrido na noite passada. Lembrava-se perfeitamente que tinha acabado de jantar e que estava indecisa sobre se deveria ligar ou não ao Pedro.

Inês, por mais que o não quisesse, sentia-se ainda algo renitente em ligar-lhe. Algum tempo já tinha passado desde a última vez que se tinham falado e nessa altura ela tinha-lhe dito que precisavam de passar algum tempo separados... e que um dia poderiam ser amigos... A insegurança voltou ao de cima, pois ela só pensava que ao contrário do que ele lhe tinha prometido, ele já a teria esquecido por ter ficado farto de esperar por ela. E não queria saber se isso teria acontecido ou não. Preferia pensar que ele ainda poderia estar à espera dela, em vez de ter a certeza de que ele já tinha continuado com a sua vida. E por isso, não lhe queria ligar. Tinha medo de admitir que tinha cometido um erro.

Foi quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Inês olhou para o ecran e viu que era Pedro. Foi uma daquelas coincidências que parecia inacreditável. Respirou fundo e atendeu a chamada.

- Estou? – disse ainda um pouco receosa do que iria ouvir.
- Olá Inês, sou eu... Desculpa lá estar-te a ligar, mas senti que era altura de falarmos...
- A sério? Já não era sem tempo....
- Já sentia falta das tuas provocações.... Mas já passou algum tempo desde a última vez que nós falamos... E tínhamos combinado que iríamos tentar ser amigos... Por isso queria convidar-te a ir a um jantar que estou a organizar para os meus anos daqui a uma semana... Interessada?

Inês pensou um pouco antes de responder... Não queria que as suas emoções afectassem a sua decisão. Ela ainda estava um pouco indecisa sobre se já era tempo de reatar as relações com Pedro ou ainda era cedo demais.

- Para a semana? Deixa-me ver a minha agenda. Se não tiver nada marcado, terei todo prazer em ir.
- Gostava muito de contar com a tua presença. Os meus melhores amigos vão lá estar e queria que tu também passasses a fazer parte desse grupo.
- Vou tentar ir, está descansado. Avisa-me só depois do dia e da hora.
- Fica combinado... Foi bom ouvir a tua voz outra vez...
- Também gostei de te ouvir. Beijinhos...
- Beijinhos....

Assim que Pedro desligou a chamada, Inês sentia-se diferente. Sentia-se mais livre e mais aliviada. O primeiro contacto com Pedro tinha corrido bem. E acima de tudo, parecia que ele estava mesmo disposto a fazer o que ela tinha pedido para que ele conseguisse reconquistar novamente a sua confiança.
Como não poderia deixar de ser, ligou na altura imediatamente à Rita para desabafar e contar o que tinha acontecido, tendo ficado quase uma hora seguida a dizer o que sentia, antes de se ir deitar, porque o dia seguinte era dia de trabalho.

Tudo parecia estar a entrar nos eixos. Só esperava que tudo continuasse assim.
Mas depressa saiu do estado pensativo em que se encontrava. Agora era altura de ir para o trabalho. Ainda continuava no departamento de compras e queria demonstrar aos seus superiores hierárquicos que tinha capacidades para evoluir dentro da firma e ir para outra função...

O trabalho estava a correr bem e com o tempo foi adquirindo confiança em si e no que estava a fazer. E acima de tudo, que os colegas a viam não como uma cara bonita que só estava lá por esse motivo, mas como alguém motivada para o trabalho e com capacidade para aprender e evoluir. Mas já estava a ficar um pouco farta de fazer as mesmas coisas dia após dia e queria algo diferente para fazer com maior complexidade, pois sentia que estava preparada para lhe serem atribuídas maiores responsabilidades.

Mas ela ficou preocupada, quando a sua colega Sónia, no final do dia disse-lhe que o chefe queria falar com ela. Inês inicialmente ficou algo receosa, pois já tinha ouvido demasiadas histórias de colegas (ou ex-colegas) que tinham sido repreendidas pelo Dr. Rui e saído do seu gabinete a chorar. Tentou relembrar-se mentalmente se tinha feito alguma coisa nos últimos tempos que pudesse ter motivado a sua convocatória para junto do chefe, mas não conseguiu lembrar-se de nada. Mas isso não queria dizer nada e o seu chefe poderia ter embirrado com ela por uma coisa mínima. Começou então a ficar algo nervosa, mas só lhe restava ir ter com o seu chefe a aceitar o seu destino. Mas depois de ter saído do gabinete, estava completamente desorientada. Não só tinha sido elogiada pelo seu chefe, como também lhe foi proposta a transferência para o departamento de contabilidade, onde teria um cargo de maior responsabilidade, mas que também implicaria mais horas de trabalho e também um novo esforço em termos de formação para as novas tarefas que poderia ter de executar. Ela respondeu-lhe favoravelmente ao convite e soube que a transferência iria concretizar-se no prazo de duas semanas, logo após o final do mês.

Inês sentia que a sua vida estava a mudar para melhor... Tinha outra coisa em que pensar, sem ser na sua vida amorosa. Mas lá no seu íntimo, só esperava pelo jantar que Pedro estava a organizar na semana seguinte para ver em que situação estavam as coisas. Os dias pareciam avançar devagar e nunca mais chegava o dia do jantar. Foi por isso com grande satisfação e nervosismo que finalmente esse dia tinha chegado.

Por mais que ela não o quisesse admitir, ela queria ver Pedro novamente. E tinha-se preparado para isso, pois consciente ou inconscientemente, tinha ido ao cabelereiro e à manicure no dia anterior. E decidiu levar um vestido que lhe ficava particularmente bem e que chamava a atenção de qualquer homem com dois olhos na cara.

Quando chegou ao restaurante, viu que Pedro já lá estava com alguns amigos. Ela consciencializou-se naquele momento que não conhecia ninguém naquele jantar. Ela dirigiu-se a Pedro e cumprimentou-o com um leve beijo na face.

- Oi. Muitos parabéns – disse Inês, logo após tê-lo cumprimentado.
- Ainda bem que vieste. Agradeço imenso o facto de teres vindo.
- Não podia perder esta oportunidade para estarmos juntos e para por a conversa em dia- disse Inês, não conseguindo conter o sorriso por estar a falar novamente com ele.

Estiveram a falar um pouco do que se tinha passado nos últimos tempos e nem parecia que tinham estado alguma vez separados. A conversa saía naturalmente, e sem aqueles inconvenientes e embaraços que podia decorrer da situção em que os dois se encontravam. Mas tiveram de interromper a conversa, pois mais alguns amigos de Pedro tinham chegado e ele também tinha de dedicar alguma atenção a eles.

Inês decidiu-se então a sentar... como não conhecia ninguém, decidiu ficar no lugar livre mais próximo de Pedro. Apesar de não conhecer ninguém no jantar, ela nunca tinha problemas neste tipo de situações, pois devido à sua personalidade, era uma pessoa muito cativante e que agarrava a atenção de quem estivesse a falar com ela, fosse qual fosse o tema.

Estava então a ter uma conversa com o desconhecido do lado sobre como há quanto tempo conheciam Pedro e a natureza da relação de cada um deles com o amigo, quando ouviu uma voz feminina a perguntar se a cadeira à frente de Inês ainda estava disponível. Instantaneamente, quase por reflexo, Inês disse que sim, sem ter olhado para quem tinha feito a pergunta. Mas depois desviou o olhar e viu que estava agora sentada à frente da amiga de Pedro que tinha sido o motivo principal para o fim da sua relação. Patrícia... era esse o nome que não tinha saído da sua cabeça nos últimos tempos. Ela sabia que Patrícia não tinha a culpa de nada e que tinha sido Pedro que lhe tinha mentido. Mas subconscientemente, ela era uma das culpadas pelo seu sofrimento nos últimos meses. E ainda por cima, ela naquela noite rivalizava com ela pelo título de rapariga mais atraente da sala... Patrícia tinha vindo com um lindo vestido rosa choque que realçava o seu corpo e o seu decote, e que muito provavelmente também atraíria a atenção de Pedro. Inês não gostava da amiga de Pedro, mas decidiu que não podia demonstar-lhe isso, pois ela não lhe tinha feito ainda nada. Um dos seus principais objectivos durante a noite passou a ser encontrar motivos reais para detestar a pessoa sentada à sua frente.

Mas à medida que a noite prosseguia, estava a ser-lhe complicado concretizar os seus objectivos. Duranta a conversa, Patrícia mostrou ser uma pessoa humilde, muito pacífica, muito simpática e atenciosa. E Inês não teve outro remédio do que ir mostrando um sorriso mais forçado durante a conversa e manter uma conversa cordial com ela. Findo o jantar, e antes de servirem a sobremesa, Inês pediu licença e foi ao quarto de banho. Quando estava prestes a voltar para a mesa depois de lavar as mãos, reparou que Patrícia também estava ao seu lado.

- O jantar está a correr bem... – disse Patrícia, para não parecer indelicada.
- Sim, também acho que sim. Nunca tinha vindo cá... mas gostei – respondeu Inês.
- Inês... – disse Patrícia, antes de fazer uma breve pausa... – Posso fazer-te uma pergunta? Pode parecer descabida, mas tenho mesmo de a fazer...
Inês hesitou um pouco, mas lá acabou por assentir com um ligeiro acenar da cabeça.
- Tens alguma coisa contra mim?

Inês foi apanhada desprevenida por aquela pergunta. O que iria responder? Respirou fundo e percebeu que só poderia responder a verdade... Ela percebeu que não tinha enganado Patrícia durante a noite e que ao contrário do que tinha pensado, não tinha conseguido esconder o que realmente sentia...

- Patrícia.. Vou ser sincera contigo... Tu nunca me fizeste nada, mas acho que nunca te vou deixar de considerar aquela rapariga que se meteu na minha relação contigo...
- Já tinha percebido isso... Sabes que o Pedro já me tinha falado muito de ti antes de vocês.... – fez uma breve pausa, pois soube que tinha falado de mais – e não foi a rapariga que esteve sentada à minha frente... Tu foste muito educada comigo e fomos tendo aquelas conversas circunstanciais... Mas percebi que não estavas a ser tu... Perguntei-me várias vezes durante a noite onde estaria a rapariga que tinha conquistado o Pedro... E cheguei à conclusão que não estavas confortável em falar comigo, embora o não quisesses demonstrar...

Inês sentiu a sinceridade com que Patrícia tinha dito aquelas palavras e apeteceu-lhe pedir desculpa. Mas não era o momento para isso. Quem sabe um dia teria uma nova oportunidade. Mas era altura de pelo menos se justificar.

- Tens toda a razão. Senti-me um pouco constrangida por tu estares cá. Eu sei que a culpa não é tua. Mas se não fosses tu, se calhar estava neste momento ao lado do Pedro a segurar a mão dele enquanto os seus amigos lhe cantavam os parabéns.
- Inês... vou-te dizer uma coisa... Acho que tu nunca tiveste motivos para ficar assim. O Pedro nunca faria algo que te pudesse magoar. Pelo menos o novo Pedro... Tu não o conheceste antes... Ele mudou muito desde que começou a andar contigo e se o conhecesses antes perceberias a diferença. Perceberias que ele estaria disposto a fazer tudo por ti e que ele não tinha olhos para mais ninguém... mesmo que alguém estivesse interessada nele, ele não estaria interessado. Tu eras a única mulher da vida dele...

Inês ficou sem saber o que dizer... Será que se tinha precipitado em não aceitar logo as explicações de Pedro na altura? Será que ela também tinha alguma culpa pelo fim da relação?

- Sabes que nos últimos tempos ele não tem sido o mesmo. No escritório, nota-se que lhe falta algo na sua vida. Mas mesmo assim, ele não voltou a ser o Pedro de antes. Tu mudaste-o e ele está disposto a esperar por ti. Por isso, não tens que estar preocupada comigo ou com outra mulher. Tu és a única pessoa que ele quer na vida dele. E espero que saibas disso.

Uma lágrima começou a cair do olho de Inês que tinha ficado emocionada com as palavras de Patrícia. Ainda não estava preparada para reatar as coisas com Pedro, mas pelo menos agora já se sentia mais segura dos sentimentos de Pedro para com ela. Ela continuou incapaz de dizer algo, mas sentiu que Patrícia tinha percebido o que ela sentia. Ambas voltaram para a mesa, mesmo a tempo da sobremesa.

Enquanto provava o seu cheesecake, Patrícia sentia-se triste por praticamente ter empurrado Inês de volta para a vida de Pedro... mas o mais importante era que ele fosse feliz... mesmo que não fosse com ela. E ela sabia no seu íntimo que ele só seria feliz junto de Inês.

Entretanto, Inês achava que a noite tinha corrido bem. O primeiro passo já tinha sido dado e só esperava por novos desenvolvimentos na sua nova relação de amizade. Ela foi despedir-se de Pedro que estava junto da Patrícia que também ia andando para casa.

- Pedro, muito obrigado por me teres convidado. Foi bom termos voltado a falar.
- Eu é que te agradeço por teres vindo. Significou muito para mim.
- Então um dia, combinamos qualquer coisa para pormos a conversa em dia.
- Parece-me uma óptima ideia. Talvez para a semana? – disse Pedro ao dar dois beijinhos na face de Inês, que sentiu o seu coração a pulsar rapidamente e sem controlo nesse momento. Mas lá conseguiu recuperar o controlo.
- Também acho que seria uma óptima ideia- respondeu Inês, que reparou no piscar de olhos de Patrícia dirigido para ela, indicando a aprovação da atitude que Inês tinha tomado ao aceitar o convite de Pedro...

Ao chegar a casa, só pensava no que se tinha passado no jantar. Mas ao contrário do que imaginava quando tinha acordado nesse dia de manhã, não tinha sido o reencontro com Pedro que tinha alegrado o seu coração. Tinham sido as palavras de Patrícia que afinal não era tão má pessoa como ela pensava.

sábado, agosto 14, 2010

Capítulo 23 - Vida nova

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Apesar de ser bastante mais cedo do que a hora em que habitualmente acordava, tinha mesmo de sair da cama. Iria começar hoje o seu novo emprego.
Já há algum tempo que estava a procura de emprego, mesmo antes de ter terminado o seu curso de Psicologia, e tinha-se apercebido de que o mercado de trabalho nessa área estava em baixa, principalmente para os recém-licenciados.
E tendo terminado o último exame há cerca de um mês, tinha de arranjar algum emprego para ir suportando a renda e os gastos enquanto não arranjasse um emprego na sua área. E isso poderia demorar algum tempo, pelo que há uns meses atrás tinha recorrido a uma empresa de trabalho temporário... Após ter efectuado uma série de entrevistas e os testes psicotécnicos, ficou a aguardar novidades sobre um eventual emprego que essa empresa acharia que seria mais adequado para ela.

Mas estas últimas semanas tinham sido complicadas, devido ao que tinha acontecido com Pedro. Já não falava com ele há duas semanas pois eles tinham combinado dar algum tempo ao outro. Quando ela recebeu a chamada da empresa de trabalho temporário a indicar que tinha sido esolhida para trabalhar como assistente administrativa na área financeira de uma multinacional e perguntar-lhe se ela estava interessada, ela aceitou logo a proposta, uma vez que precisava de algo para esquecer o que se tinha passado nos últimos tempo e seguir em frente com a sua vida. Ainda não tinha exactamente a noção do que é uma assistente administrativa fazia, pelo que era com alguma curiosidade e nervosismo que se preparava para o primeiro dia de trabalho. A primeira grande dificuldade prendia-se com o que vestir...

A primeira impressão é uma coisa muito importante, pois apenas se tem hipótese de causar uma primeira impressão uma vez. E ela queria causar um boa impressão aos seus novos colegas de emprego, ainda para mais porque sentia que tinha de provar algo, pois era apenas uma temporária. Ela não sabia se quereria apresentar-se de forma muito profissional usando um fato. Ou tinha a alternativa de se vestir de forma casual, de calças de ganga e uma blusa discreta... Ou tinha ainda a hipótese de se vestir de forma sensual com a menor mini-saia que tinha e com um top muito revelador... Eram muitas as hipóteses e Inês não tinha ideia de qual seria a alternativa mais apropriada. Após vestir-se e despir-se várias vezes em frente ao espelho, decidiu-se a usar um dos seus vestidos favoritos que apesar de mostrar a sua beleza natural não era muito revelador do seu corpo. Pelo menos não iria ser alvo de comentários menos apropriados pelos seus colegas.

Um pouco antes das nove da manhã, chegou ao seu novo local de trabalho. Assim que chegou à recepção, foi encaminhada para a responsável dos Recursos Humanos com quem esteve a tratar de toda a papelada inicial. De seguida, fizeram-lhe uma visita guiada do escritório, que ainda era maior do que pensava, pois ocupava vários andares e tinha vários open spaces enormes cheio de secretárias com pessoas, todas à frente de um computador... Ela também se apercebeu de que grande parte das pessoas que lá trabalhavam eram mais ou menos da sua idade, pelo que ficou mais aliviada pelo facto de poder conseguir encontrar alguém com que se pudesse dar bem e que a ajudasse a integrar-se na empresa.

No final da visita guiada, a sua colega de recursos humanos apresentou-a ao seu chefe, o Dr. Rui. Era uma pessoa relativamente nova, entre os 35 e os 40, mas a sua primeira impressão não foi a melhor. Ele pareceu-lhe demasiado ríspido quando foram apresentados e não perdeu mais do que cinco segundos com ela. Sim, ela era apenas uma simples temporária, mas mesmo assim, achava que pelo menos o chefe quereria conhecer melhor quem trabalhava para ele.. E durante a manhã, percebeu que o seu novo chefe não tinha problemas em gritar com os seus subordinados se eles não tivessem feito algo como ele queria...

Nesta fase inicial, iria ser treinada por uma colega já com alguma experiência e que já estava na empresa há 3 anos, a Sónia. Pareceu-lhe uma pessoa mais acessível do que o seu chefe, até porque não só era apenas ligeiramente mais velha do que ela (pareceu-lhe que ela tinha cerca de 25 anos), mas porque era uma pessoa muito calma e com muita paciência para ensinar sempre as pessoas acabadas de entrar e que não percebiam de nada do que iam fazer... A Sónia explicou-lhe que o trabalho dela iria consistir em ajudar o departamento financeiro da empresa onde fosse necessário, consoante os picos de trabalho ou fosse necessário substituir alguém que estivesse de baixa ou de férias...

Inicialmente, ela iria estar alocada à area de compras, e iria essencialmente estar a lançar facturas de fornecedores no computador. Sónia passou grande parte da manhã a explicar-lhe o que tinha de fazer, a mostrar-lhe o sistema informático com que a empresa trabalhava e ainda esteve a ajudá-la a lançar as suas primeiras facturas, para se certificar de que ela tinha aprendido correctamente. Não era uma coisa assim tão complicada, pois felizmente, Inês tinha alguma experiência em trabalhar com computadores devido aos trabalhos da faculdade e por isso o Word e o Excel não eram palavras estranhas. Teve alguma dificuldade inicial nesse primeiro dia a tentar compreender o sistema informático onde tinha de lançar as facturas e que campos preencher, e por isso de vez em quando pedia a ajuda de Sónia, que tinha-a posto à vontade para a questionar sempre que ela achasse necessário. Mas esperava que passado uns dias, se sentisse mais à vontade e mais confiante no que estava a fazer...

Felizmente, também o seu horário de trabalho, pelo menos enquanto estivesse no departamento de compras, não era muito extendido e por volta das 18h30 foi mandada para casa. Mas foi-lhe dito para não se habituar muito a esse horário, pois existiam outros departamentos onde poderia ser alocada, onde poderia sair muito mais tarde do que isso durante vários dias.

Inês ficou satisfeita por começar num sitio mais calmo, para poder adaptar-se com calma à empresa e ao trabalho, e esperava que pudesse continuar nas compras por mais algum tempo. E pelo menos sabia que podia contar com uma pessoa para ajudá-la lá dentro, pois a Sónia era de facto uma rapariga impecável. Até a tinha convidado para almoçar, pois imaginava que ela não tinha tido oportunidade de conhecer outros colegas nesse primeiro dia. E foi o que tinha acontecido, pois tinha estado em formação o dia inteiro e teve poucas oportunidades de falar com as colegas que estavam perto nela, numa mesa minúscula num open space enorme. E tinha também reparado que o ambiente de trabalho era um pouco formal, com poucas interrupções para além do café e das idas à casa de banho, muito provavelmente por causa do chefe, que não perdia qualquer hipótese de dar na cabeça de algum dos seus subordinados. E por isso, todos procuravam estar concentrados no trabalho, para evitarem cometerem erros. E uma coisa que a Sónia lhe tinha dito, é que o Dr. Rui às vezes poderia ser um pouco duro, mas que nunca tinha repreendido ninguém que não o merecesse, embora ela não concordasse com a forma como ele às vezes humilhava os colegas à frente de toda a gente.

No final do dia, chegou a casa e ligou à Rita para contar-lhe o seu primeiro dia de trabalho. Após ter desligado o telemóvel, Inês apercebeu-se que tinha sido a primeira vez que o principal motivo dos seus desabafos não tinha sido Pedro... Era um sinal de que o tempo tinha-a ajudado a esquecer o que se tinha passado.... O passado é o passado e abria-se uma nova página na sua vida... Novo emprego, novas amigas e quem sabe... uma nova paixão?

Mas o dia tinha-lhe corrido bem... A incerteza que tinha sobre o seu futuro quando acordou de manhã tinha-se atenuado... Ela estava um pouco insegura sobre o facto deste ser o primeiro emprego a sério dela e nem imaginava o seu futuro se as coisas tivessem corrido mal... Mas felizmente, os seus piores receios não se concretizaram...

O dia seguinte ainda correu melhor... Não só ela já estava um pouco mais habituada ao seu trabalho, como na hora do café foram-lhe apresentadas algumas colegas que também eram temporárias e também estavam lá há pouco tempo e com que se entendeu bastante bem. Tinham várias coisas em comum, como o facto de também ser este o primeiro emprego delas e também o facto de terem também tirado cursos noutras áreas, mas que estavam todas agora como assistentes na área financeira por não terem encontrado o emprego que mais gostariam... e acima de tudo, eram pessoas que estavam dispostas a apoiar-se umas às outras... E ainda por cima, Inês era daquelas pessoas muito aberta, que conquistava qualquer pessoa com a sua personalidade e a forma aberta como dizia o que pensava, o que facilitou a integração naquele grupo... A única pessoa que ainda não lhe ligava muito era o seu chefe, o que a fazia feliz, pois se ele não soubesse quem ela era, menos hipóteses existiriam de ele embirrar com ela.

Os primeiros dias de Inês correram bem, e cada vez menos sentia a necessidade de pedir ajuda à Sónia, pois estava mais à vontade no que fazia... E acima de tudo, estava a gostar do que fazia, embora não fosse o tipo de coisas que queria fazer para o resto da sua vida e já imaginava que daqui a uns meses já estaria farta de fazer a mesma coisa todos os dias. O que lhe valia era o facto de daqui a uns tempo, poderia ser precisa noutro departamento e iria fazer outra coisa completamente diferente...
Mas acima de tudo, tinha feito novos amigos lá dentro e estava a seguir com a sua vida. Aliás, tirando o seu chefe, apenas existia um outro colega, o Diogo, que também era um temporário e que praticamente a ignorava, que não mostravam qualquer interesse em ser seus amigos. De resto, praticamente toda a gente no seu departamento gostava dela e estavam a ajudá-la a integrar-se.... E sentia que a sua vida profissional estava a correr bem... Mas não tinha niguém com quem partilhar essa sensação... E de repente começou a pensar que aquela noite seria a noite ideal para ligar a Pedro, com que já não trocava uma palavra há quase três semanas...

quinta-feira, agosto 12, 2010

Capítulo 22 - Seguir em frente

Por volta das oito horas da noite, Patrícia chegou ao café onde tinha combinado encontrar-se com Pedro. Sentiu um nervosinho miudinho e não fazia ideia do motivo. Ao contrário do dia anterior, não ia para um encontro. Ia apenas ter uma conversa amigável com um colega... Pelo menos era isso que ela tentava se convencer, por forma a não ficar tão nervosa. Mas não estava a resultar. Desde que tinha saído do escritório directamente para o café, não conseguia deixar de pensar que por mais que quisesse, ainda sentia algo muito forte pelo seu amigo. E não tinha sido o encontro do dia anterior que tinha mudado essa situação.

Respirou fundo e tentou concentrar-se, pois já não devia faltar muito para Pedro também chegar. E ela não queria mostrar-lhe que sentia algo por ele. Ainda para mais, agora que ele só tinha olhos para outra mulher... Mas acima de tudo, era amiga dele e por mais que lhe custasse, tinha de lhe dar apoio nesta fase mais difícil da vida dele... Mesmo que isso implicasse reconhecer que ela nunca iria ser a tal para ele, pois mesmo estando ele separado daquela rapariga, ele não conseguia parar de pensar nela. Quem lhe dera que ele sentisse o mesmo por ela...

Mas os pensamentos dela foram interrompidos, quando se apercebeu da chegada do seu amigo. Ambos sentaram-se numa mesa num cantinho onde podiam falar à vontade sem serem incomodados pelos outros clientes do café.

- Ainda bem que pudeste vir – disse Pedro, ao interromper o silêncio momentâneo que resultou do facto de nenhum querer ser o primeiro a iniciar a conversa. Não era normal, pois Pedro confiava na sua amiga e nunca tinha tido problemas em lhe dizer nada... Mas desta vez o motivo era diferente... Ele precisava da sua ajuda para reconquistar Inês e não sabia muito bem como começar...
- Estava mesmo a precisar de falar contigo...nem sabes como senti a tua falta nestes últimos tempos...- começou Pedro.- Estava mesmo a precisar de um ombro amigo... E não merecia que estivesses cá, pela forma como te tenho ignorado nos últimos tempos...
- Estás a fazer um bom trabalho a pedir desculpas... Continua... – interrompeu Patrícia com um sorriso.
- Mas acho que seria preciso muito mais para nos afastar e acabar com a nossa amizade.
- Fico feliz que aches isso de nós. E sabes que não consigo resistir a esses olhos, pelo que vamos esquecer a última semana e seguir em frente... Mas com que então, ela não voltou para ti da forma como querias....
- Pois... ela não me conseguir perdoar totalmente, mas pelo menos não me tirou completamente da sua vida... e que que sejamos amigos...
- Cá está a frase que normalmente indica que a relação está preste a terminar...- gracejou Patrícia.
- Pois... Mas desta vez as coisas são diferentes. Eu acho que ela está preparada para dar-me uma nova hipótese no futuro... E eu nunca iria perdoar-me se não aproveitasse esta oportunidade... Por isso precisava da tua ajuda... O que posso fazer para não a afastar?

Patrícia pensou bem no que iria dizer. Estava-lhe a custar muito por dentro fazer isto, mas ela queria vê-lo feliz... mesmo que não fosse com ela...

- Sabes... Acho que tens de continuar a ser o Pedro destas últimas semanas. Tu mudaste muito... Passaste de alguém que não se importava com o futuro e vivias como se fosses o dono de tudo... para alguém que é mais humilde e que está disposto a fazer de tudo para reconquistar a pessoa que ama... Tens de continuar a ser esse Pedro e tenho a certeza de que mais cedo ou mais tarde, ela irá aperceber-se de que não pode viver sem ti...

- Nem imaginas o quanto te agradeço por me dizeres isso. Mas realmente, sinto-me uma pessoa diferente... A Inês faz-me querer ser uma pessoa melhor e isso é algo que não consigo negar. Mas e se ela não conseguir confiar em mim novamente?

- Tem calma, Pedro. A confiança conquista-se aos poucos, acto a acto, dia a dia. Tens de ter paciência e acima de tudo, não a forçar a nada. Tens de lhe dar algum tempo e acima de tudo, fazer com que ela perceba que estás disposto a esperar o tempo que for preciso.

- Já não és a primeira pessoa que me diz isso. – Mas sinto um aperto sempre que penso que existe uma possibilidade dela me esquecer. Ou pior... de encontrar outra pessoa entretanto...

- É o risco que tens de correr. Mas acima de tudo, tens de fazer com que ela confie em ti... tudo o resto, virá depois...

- Não sei o que faria sem ti, Patrícia...
- Também não sei o que farias sem mim... – respondeu a amiga, com o sorriso característico dela.
- Mas chega de falar de mim... Como é que correu o teu encontro ontem?
- Sabes... correu melhor do que eu esperava... já há algum tempo que não saia com ninguém... estava um pouco enferrujada...
- Mas imagino que ele deva ter ficado encantado contigo... Ontem estavas muito bem arranjada...

A face de Patrícia corou ao ouvir os elogios dos seu amigo... Ela sempre tinha esperado que ele reparasse nela... mas isso só tinha acontecido quando ele tinha encontrado outra pessoa...

- Escusas de gozar comigo só pelo facto de ter feito um makeover...
- Mas estava a falar a sério... tu ontem estavas muito gira... o que é que ele achou?
- Sinceramente, acho que ele nem reparou muito nisso... ele esteve a noite toda mais interessada no que eu dizia...
- Já te tinha dito que tu és muito mais do que uma cara bonita... e qualquer homem seria um sortudo em estar contigo... ainda bem que entraste nesta nova fase... estava a pensar que irias sempre continuar a dar primazia ao trabalho em vez de tentares encontrar alguém... Fico muito feliz que tenha corrido bem.... Então, achas que ele é o tal?

Patrícia teve de parar um pouco para não responder o que lhe veio logo à cabeça... Caso não o tivesse feito, corria o risco de dizer que ontem não tinha estado com o tal... esse, estava mesmo à sua frente... Mas Patrícia sabia que tinha de seguir em frente e não pensar mais em Pedro dessa forma... Mas custava-lhe muito e tinha de fazer um grande esforço para que ele não se apercebesse de nada.

- Não sei... Ainda é cedo para dizer isso... Mas acho que começámos bem... Quem sabe se ele não será a pessoa perfeita para mim?
- Espero que sim... que já não estás a ficar nova....
- Engraçadinho....
- Falando a sério, espero que tudo corra bem...
- Também eu – disse Patrícia, que não sabia ao certo se estava a ser sincera quando disse estas palavras...

O resto da conversa durante a noite foi menos séria e muito divertida... Ambos eram bons amigos e davam-se muito bem... Mas acima de tudo, Patrícia tentou durante a noite provar a si própria de que tinha seguido em frente com a sua vida e que Pedro era só um amigo... Mas infelizmente, sabia que estava a enganar-se a si própria... Nada faria com que ela deixasse de pensar nele... Mesmo que estivesse com outra pessoa, ele ocuparia sempre uma parte do seu pensamento... Só esperava que ainda restasse um espaço no seu coração que pudesse ser ocupado por outro homem.... Quem sabe o homem que tinha conhecido ontem? Quem sabe se ontem não se tinha dado início a um novo começo?