Patrícia encontrava-se compenetrada nos seus pensamentos, quando sentiu algo a bater na sua cara. Tinha sido uma daquelas pequenas bolas de esponja com o logótipo da empresa que alguém tinha atirado contra ela. Mesmo sem se virar na direcção do culpado, ela já sabia quem o tinha feito.
Realmente, Pedro nos últimos dias tinha recuperado a alegria que tinha desaparecido nos últimos meses. E tinha novamente disposição para este tipo de brincadeiras com ela. E só poderia existir um motivo para esta mudança de disposição. As coisas deveriam estar a correr melhor com a Inês. Apesar dele não lhe ter dito explicitamente, notava-se que ele tinha novamente voltado a sair com ela. Não, as coisas ainda não estavam como eram antes. Mas seria uma questão de tempo até as coisas mudarem. E ela sabia que ela tinha sido uma das principais responsáveis pela reaproximação dos dois. Ela podia ter ficado calada no jantar de anos de Pedro e não ter dito nada a Inês. Se assim ela o tivesse feito, os dois continuariam afastados. Mas ela já não suportava a tristeza e melancolia na vida de Pedro, e por mais que lhe custasse a ela própria, ela estava disposta a perdê-lo, pois o que ela mais queria era que ele voltasse a ser o Pedro de sempre… Era muito difícil para ela. Foi um sacrifício que nunca ninguém saberia que tinha feito. Quem nunca sofreu, nunca amou. E quem já amou, já sofreu…
Quem nunca fez algo por alguém, sem essa pessoa saber de nada? Era esse o papel que lhe tinha sido reservado na saga de Pedro e Inês. O de uma personagem secundária, a que ninguém ligava muito, mas que teve um papel fulcral no desenrolar da história.
Todos estes pensamentos passaram num segundo na sua cabeça, antes de se virar para Pedro.
- Já vi que estás sem nada para fazer… - disse, fingindo um tom agressivo na sua voz.
- Desculpa, não me consegui conter. Quando te vi aí parada à frente do PC, tinha mesmo de fazer aquilo.
Patrícia sorriu no seu íntimo, pois sentia que Pedro estava feliz. E ainda por cima, essa mudança do estado de espírito tinha provocado uma reaproximação entre os dois, se bem que ele continuasse a vê-la só como uma amiga.
- Folgo em saber isso.
- Vá lá… não é a primeira vez que te faço isto.
- Sim… não é a primeira… E tenho a sensação de que não será a última… Mas o que vieste fazer ao meu humilde gabinete?
- Tens um tempinho para falar?
Patrícia quase congelou ao ouvir essas palavras. Já imaginava o que estaria para vir. Infelizmente, o facto de Pedro ter voltado a recorrer a ela para ser sua confidente, também trazia um reverso da medalha. Um dia, ele iria voltar a falar da sua quase relação com Inês. Ela sabia que era inevitável, mas tinha o secreto desejo que fosse o mais tarde possível. Se ele soubesse o transtorno que lhe estava a causar, ele talvez não lhe diria nada. Mas não sabia, porque ela própria não queria que ele soubesse.
- Claro. Desde que não atires outra vez uma bola contra mim.
- Vou tentar conter-me.
- Fica combinado. Então, que novidades tens para me contar?
- Queria pedir-te um conselho.- Patrícia sabia que o momento que tanto receava estava prestes a chegar.
- Já sabes que podes confiar em mim. Diz-me lá.
A cara de Pedro ficou mais séria. Os seus olhos demonstravam que tinha algum receio em fazer-lhe a pergunta. Após ter dado um ligeiro suspiro, disparou:
- Não sei se te tinha dito, mas no fim de semana passado, estive com a Inês…
Mesmo estando à espera desta situação, Patrícia sentiu um calafrio quando ela se concretizou.
- Não, não foi nada do que estás a pensar… foi só um cafezinho, para por a conversa em dia. Como se fossemos dois bons amigos.
- Ah… não fazia a mínima ideia. E como é que correu? – disse Patrícia, tentando com o largo sorriso esconder o incómodo que esta conversa lhe estava causar.
- Bem…Aliás… muito bem. Foi como nada se tivesse passado antes.
- Mas? – Patrícia sabia que teria de haver algo mais, para ele querer falar com ela.
- Mas, faltou algo… Eu senti que ela estava a gostar de estarmos juntos novamente… mas senti que ela estava a conter-se em alguns momentos… como se ainda não confiasse totalmente em mim...
- Sabes.. Isso é normal… esta coisas levam tempo… mas já é muito bom as coisas estarem a comporem-se.
- Tens razão… não posso apressar as coisas. Mas queria mesmo que as coisas voltassem a ser como dantes… Mas ainda somos apenas amigos…
Ao ouvir estas palavras, Patrícia sentiu por uns breves momentos, uma esperança. Mas rapidamente ela desvanesceu-se. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde ele e Inês iriam acabar por voltar a estar juntos. E queria que isso acontecesse o mais cedo possível, pois quando mais tempo isso demorasse a acontecer, mais tempo iria alimentar aquela sensação de ainda ser possível que Pedro olhasse para o lado e a visse de uma forma diferente. E isso iria impedi-la de seguir com a sua vida.
- Eu sei que as coisas vão mudar. Ela não vai conseguir resistir para sempre ao teu charme – disse Patrícia com um sorriso maroto ao mesmo tempo que pousou a mão em cima do ombro do seu amigo. – tens de a reconquistar aos poucos…
- Sabes… Eu não sei o que faria sem ti. E sem os teus conselhos. És a melhor amiga a quem eu poderia recorrer para me ajudar neste tipo de coisas.
- Já sabes… ficas a dever-me um favor.
- Não será o primeiro.
- Eu estou a contar.
- Eu sei bem que sim… - disse Pedro com um sorriso. – Mas chega de falar de mim. Como é que estão a correr as coisas com o Miguel?
Patrícia pensou um pouco antes de responder. Não sabia muito bem o que lhe dizer. As coisas estavam a avançar lentamente com o Miguel, o tal homem com quem tinha jantado há uns meses atrás e tinha-se dado muito bem. E ao contrário do que imaginava que iria acontecer nesta altura, ele ainda estava interessado nela, mesmo após ela ter estado nuns meses terríveis numa campanha que a obrigou a imensas noitadas e fins de semana. Mas ele devia mesmo estar interessado nela, pois teve muita paciência e demonstrou que estava disposto a esperar por ela.
Foi por isso que teve vários encontros com ele. Acima de tudo, ambos estavam a aprender a confiar um no outro e a conhecer-se melhor. Ambos eram muito parecidos e gostavam das mesmas coisas. Ele era perfeito para ela… Mas ela ainda não tinha deixado cair todas as suas defesas, uma vez que tinha aquela ideia estúpida de que Pedro ainda poderia vir a interessar-se por ela e que assim que ela entrasse numa relação com Miguel, a porta fecharia para sempre. E era por isso que ela tinha medo do que dizer a Pedro, com medo de dizer algo que o afastasse para sempre. Não que ele tivesse alguma vez próximo dela.
- Estão a correr bem. Fui jantar com ele na semana passada. Fiquei de lhe ligar para combinar qualquer coisa esta semana.
- Já vi que as coisas estão a começar a ficar sérias.
- Não sei ainda… Vamos lá ver como as coisas correm. Por agora estamos a levar as coisas devagar.
Patrícia tinha muito cuidado em cada palavra que dizia. Não queria dizer nada que pudesse afastar Pedro, nem dizer uma mentira ao seu amigo.
- Fico feliz por ti. Vejo que tens estado feliz com ele e isso é que interessa. Ele seria um parvo em não querer ter algo mais sério contigo.
Patrícia ficava sempre um bocado atrapalhada, quando Pedro lhe fazia um elogio destes. Ficava dividida, pois sempre lhe fazia ter esperança de que ela gostasse dela. Mas no seu íntimo, ela sabia que isso não era realidade.
- Vamos ver.. Eu ainda não sei se quero ter uma relação séria com ele… Mas estão a correr bem…. – disse Patrícia, que ficou um pouco desiludida pelo facto de Pedro não ter demonstrado qualquer indícios de cíumes da sua quase relação com o Miguel.
- Espero que sim… já estás a ficar para velha… é melhor aproveitar enquanto ainda estiveres minimamente atraente para tentar enganar alguém a ficar contigo- disse Pedro, desta vez já com um ar menos sério.
- Ora… Vá…Vamos trabalhar… - disse Patrícia, com um grande sorriso nos lábios, sorriso esse que só o Pedro lhe conseguia causar.
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