domingo, setembro 12, 2010

Capítulo 25 - O início da amizade

Pedro estava satisfeito pelo facto da noite passada ter corrido bem… Principalmente, estava feliz pelo facto do reencontro com Inês ter sido muito encorajador. Os dois tinham falado algumas vezes durante a noite e pareceu-lhe que ele já tinha recuperado parte da confiança dela. Mas sabia que ainda faltava muito para que as coisas voltassem a ser como dantes. E a culpa era toda dele.



Agora tinha de ser amigo de Inês. Por mais que isso lhe custasse, era o que Inês queria. E ele não tinha outra hipótese que não a de respeitar o seu pedido. Quão difícil poderia ser amigo de uma mulher? Ele já tinha conseguido manter uma relação de amizade com a Patrícia. Não poderia ser assim tão complicado.



Enquanto estava no escritório, Pedro resistiu à tentação de ligar-lhe por causa do tal encontro que tinham ficado de ter. Era ainda muito cedo para ligar-lhe. Ele tinha de ter paciência e fazer as coisas com calma, sob o risco de afastar Inês novamente da sua vida. E também lembrou-se que não tinha ficado combinado quem ligaria ao outro. Ela poderia estar a contar a ser ela a marcar o encontro e ele não queria estar a pressioná-la.



Não, ele tinha esperar. E estava disposto a esperar o tempo que fosse preciso para a ter de volta.



Mas isso não impediu que ele estivesse o tempo todo ansioso à espera da chamada dela. Mas infelizmente, a sua espera foi em vão. Uma semana tinha passado e ele não tinha recebido um telefonema ou um SMS dela. Para tentar fugir a esse facto, ele concentrou-se no trabalho, para não ter de pensar noutra coisa. Era a forma mais fácil de não lidar com a ansiosidade que tinha.

Mas chegou a uma altura em que ele não conseguia aguentar mais. As coisas tinham corrido bem no jantar. Já tinha passado algum tempo, e podia ser que ela estivesse ocupada com o seu novo emprego e no meio de tanta coisa, não tinha tido oportunidade de lhe ligar. Por isso, racionalizou que não havia nenhum mal em ser ele ligar-lhe para combinar um café.



Pedro agarrou no seu telemóvel e ligou para o número de Inês. Mas ela não lhe atendeu o telemóvel. Aliás, ela desligou-lhe imediatamente, não tendo deixado tocar mais uma vez. Tentou mais uma vez, mas obteve o mesmo resultado.



Ele começou a ficar algo nervoso. Porque seria que ela estaria a evitar as suas chamadas? Será que ele tinha cometido o erro de ligar-lhe em vez de esperar que ela estivesse preparada para sair com ele a sós pela primeira vez desde que tinham terminado? Ou será que ela estava ocupada de momento e ligaria-lhe logo a seguir, assim que ela pudesse?



Pedro decidiu aguardar alguns minutos antes de tentar novamente, pois podia ser que Inês devolvesse a sua chamada. Mas os minutos foram passando e ele continuava a não ter nenhum sinal dela. Passado duas horas após a sua tentativa, Pedro decidiu ligar-lhe novamente… mas mais uma vez, aconteceu o mesmo que antes. A sua preocupação aumentou, pois por um momento, passou-lhe pela cabeça que ela tinha mudado de ideias e que não queria estar com ele, nem mesmo como amigo. Ou talvez ela tivesse encontrado alguém entretanto e não quisesse falar com ele, para evitar aquela conversa embaraçosa que acontece sempre nessas situações.



Mas ele não podia fazer nada. A bola estava nas mãos dela, e se ele continuasse a insistir corria o risco de afastá-la de forma irremediável. Se é que isso ainda não já tivesse acontecido. Tinha de continuar com a sua vida sem ela e nunca perder a esperança. Por isso, voltou a enterrar-se no trabalho, particularmente na campanha actual que tinha em mãos, e não saiu do escritório até serem onze da noite.



Quando chegou a casa, olhou para o telemóvel e viu que não tinha chamadas não atendidas ou mensagens novas. O seu ânimo diminuiu ainda mais, mas apenas podia suspirar e resignar-se à situação. Tomou um duche e depois de ter comido uma sandes ao jantar foi logo deitar-se.



Mas essa noite o seu sono não tranquilo, pois a insegurança que tinha reflectia-se de forma inconsciente nos seus sonhos. E nessa noite tinha mais uma vez sonhado com Inês, mas o final não tinha sido feliz. Pedro acordou de madrugada, sobressaltado com o desfecho do seu sonho, e pensou que não poderia deixar que isso acontecesse na realidade. Ele realmente amava Inês, como nunca tinha amado outra mulher na vida. E não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ela. Sim, isso poderia parecer um cliché, mas na verdade, ele sentia um vazio que não o deixava ser feliz, mesmo com o emprego e o dinheiro que tinha. Faltava alguém com que partilhar a sua vida. Por isso, só lhe restava desviar os pensamentos para a campanha em que estava a trabalhar e em ideias novas para o anúncio televisivo.



E foi assim que mais um dia passou, sem ter tido novidades dela. E foi assim que passaram as três semanas seguintes em que se dedicou de corpo e alma ao trabalho, para não ter tempo de pensar nela. Os seus dias eram praticamente cópias uns dos outros. Ele passou a ser dos primeiros criativos que chegava à agência logo de manhã e passou a ser um dos últimos a sair. Os seus fins-de-semana eram também passados a trabalhar. Mas a cada dia que passava, era cada vez mais difícil escapar e evitar a realidade que cada vez mais lhe parecia mais evidente: ela já não estava interessada nele. E isso só fazia com que ele se enterrasse cada vez mais em trabalho. Era uma bola de neve que não parava de crescer.



Mas Pedro sabia que um dia teria de aceitar a realidade nua e crua. O tempo que tinha passado desde que lhe tinha tentado ligar pareceu-lhe uma eternidade. Tinha sido já há quase um mês. Olhou para o relógio e viu que já eram meia-noite. Não tinha noção de que era tão tarde. Olhou à volta e viu que era a última pessoa na agência. Tinha completamente perdido a noção do tempo. Estava a fazer o shutdown do seu portátil, quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Quem poderia estar a ligar-lhe àquela hora da noite? Nunca era um bom sinal.



Mas o seu coração praticamente parou quando viu no ecran do telemóvel quem lhe estava a ligar, para logo de seguida começar a bater aceleradamente. Era o efeito que Inês tinha nele.



- Estou? – disse Pedro, depois de se recompor.

- Olá, Pedro. Tudo bem? Desculpa lá estar-te ligar a esta hora da noite.

- Não há problema. Está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada. Espero não te ter acordado.

- Já sabes como sou. A noite ainda é uma criança…

- Pois… não sei porquê, acho que já deves estar na tua caminha…

- Estás a ver como estás muito enganada? – disse Pedro, com um sorriso, que já sentia falta destas provocações mútuas – Por acaso, estou ainda na agência, a trabalhar.

- Tu? Trabalhar a esta hora? Não acredito. Só se estiveres a fazer uma campanha televisiva e estiveres a seleccionar modelos em bikini para entrar no anúncio.

- È isso que tu achas de mim? Já te disse que já não sou mais esse homem desde há uns tempos… quando conheci uma certa pessoa… Posso dizer-te que não está cá ninguém comigo e que sou a única pessoa que ainda não saiu do escritório.

- Bem normalmente, não acreditaria nisso, mas como tu me prometeste que nunca mais me irias mentir, vou acreditar em ti.

- Fazes muito bem. Tu é que deves estar com as tuas amigas na discoteca, com essa música toda como barulho de fundo. – Pedro disse estas palavras com alguma ânsia, pois tinha algum receio de que ela pudesse estar a sair com o novo namorado e tinha algum medo da resposta dela.

- Até não me importava nada de estar agora a dançar. Mas por acaso estou ainda a trabalhar.

- A esta hora? Mas ainda estás no mesmo sítio, não estás? Porque é que estás ainda a trabalhar a esta hora, ainda para mais sendo apenas uma temporária?

- Ainda não te tinha dito, mas fui promovida há duas semanas atrás, para umas novas funções de maior responsabilidade. Portanto tive que aprender todas as minhas tarefas de novo. Ainda por cima, como agora estou do departamento de contabilidade e acabámos de fechar as contas do semestre, as coisas não têm sido nada fáceis. O trabalho é muito, e o tempo é pouco. Tenho estado nos últimos dias a fazer estas noitadas até esta hora, mas finalmente as contas já fecharam e as coisas vão acalmar…



Pedro respirou de alívio. Não só Inês não tinha encontrado outra pessoa, como também o motivo pelo qual ela não lhe tinha ligado era apenas o excesso de trabalho. Ela não o tinha esquecido, apenas estava realmente ocupada e não tinha tido oportunidade de lhe ligar.



- Tenho pena que o teu novo trabalho te obrigue a trabalhar tanto. Já pensaste em tentar encontrar um novo emprego, onde trabalhasses menos? O dinheiro não é tudo na vida. Eu posso afirmar-te isso com conhecimento de causa…



- Sim, poder, eu podia… mas eu estou a gostar do que estou a fazer. Vou ser compensada com horas extraordinárias pelo trabalho que estou a fazer. Mas acima de tudo, os meus chefes confiam em mim e no meu trabalho. E é bom sentir esse reconhecimento pelo meu esforço.



- O mais importante é que tu gostes do que estejas a fazer.

- Sim… ao contrário do que esperava, estou mesmo a gostar…

- Mas não me digas que és a única que estás aí a trabalhar a estas horas… Espero que não estejam a aproveitar-se de ti, pelo facto de seres a rapariga nova…

- Pedro, sabes que a única pessoa que se aproveita de mim és tu… - disse Inês, não conseguindo evitar uma suave gargalhada de que Pedro já sentia falta – Mas falando a sério, não sou a única que estou a trabalhar. Nesta última semana, tem estado o departamento todo por cá, se bem que eu e um colega é que temos ficado todos os dias mais tarde do que os outros, pois o trabalho deles depende do nosso.

- Queres dizer que estás aí sozinha com um colega a esta hora?

- Sim, estou aqui com o Diogo. È um colega que foi promovido na mesma altura do que eu. É uma pessoa um bocado estranha, pois praticamente não me dirige uma única palavra quando não o tem de fazer. Nós só falamos acerca do trabalho. De resto, ele é uma pessoa muito fechada. Mas não me posso queixar, pois como ele tem a formação na área da contabilidade, tem-me ajudado em certas coisas que deveriam ser básicas para alguém nesta área e tem-me safado em algumas situações. Mas acho que não gosta assim muito de mim, pois tirando quando fala comigo sobre trabalho, não me dirige a palavra. Acho que só a custo é que ele me diz Bom dia ou Até amanhã.



Pedro ficou novamente aliviado. Quando Inês lhe tinha dito que estava sozinha com outro homem a esta hora da noite, ficou preocupado. Mas tendo em conta que lhe parecia que esse tal de Diogo não estava minimamente interessado em Inês, eles podiam ficar sozinhos no trabalho o tempo que tivessem de estar.



- Pelo menos ele tem-te ajudado e sido bom colega. Tiveste sorte.

- Acho que sim. Mas foi por isso que não tive oportunidade para falar com os meus amigos nos últimos tempos. Tu incluindo. Por isso, agora que o trabalho irá acalmar, queria saber se querias então tomar o tal café neste fim-de-semana, a ver se colocamos a conversa em dia.

- Por mim, acho que é uma óptima ideia.

- Espero que não tenhas estado este tempo todo à espera que eu te ligasse. – disse Patrícia com um sorriso maroto.

- Podes estar descansada que não. Estive também muito entretido nestes últimos tempos e preocupado com outras situações.- respondeu Pedro com a voz o mais natural e calma possível. Se Inês alguma vez soubesse das mudanças na sua vida que a espera por um telefonema dela lhe tinha causado, ela iria ficar assustada.

- Óptimo. Já me sinto menos mal. Realmente, tirando a Rita, quase não tenho falado com outras pessoas sem ser de trabalho nestas últimas semanas. Tenho uma série de pessoas com que retomar o contacto.

- Está descansada. Mas ainda bem que ligaste.

- Também acho que sim. Até Sábado.



Após Inês ter desligado, Pedro sentiu-se como se lhe tivessem tirado um peso dos ombros. Ainda tinha uma hipótese de voltar a reatar as coisas com Inês. Ainda faltava um longo caminho, mas pelo menos a caminhada não tinha sido interrompida ainda no início.



E o resto da sua semana foi completamente diferente do último mês. Pedro retomou os horários de sempre, pois já não tinha de soterrar-se em trabalho para não pensar na relação com Inês. Aliás, agora não conseguia deixar de pensar no encontro de Sábado. Quer Carlos, quer Patrícia notaram esta mudança repentina de humor e de hábitos e ambos sabiam que só podia estar relacionado com Inês. Só ela poderia causar esta transformação.

Quanto a Pedro, ele só esperava que o fim-de-semana chegasse o mais depressa possível, pois ao contrário dos últimos tempos, o tempo parecia agora passar mais devagar.

domingo, agosto 15, 2010

Capítulo 24 - O reencontro

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Mas desta vez, ao contrário das últimas semanas, fe-lo com um sorriso nos lábios... A noite anterior tinha mudado o seu estado de espírito, pois agora tinha uma grande esperança no futuro. Para além do novo emprego, tinha dado os primeiros passos para reatar a relação com Pedro. Por isso, não parava de relembrar o que tinha ocorrido na noite passada. Lembrava-se perfeitamente que tinha acabado de jantar e que estava indecisa sobre se deveria ligar ou não ao Pedro.

Inês, por mais que o não quisesse, sentia-se ainda algo renitente em ligar-lhe. Algum tempo já tinha passado desde a última vez que se tinham falado e nessa altura ela tinha-lhe dito que precisavam de passar algum tempo separados... e que um dia poderiam ser amigos... A insegurança voltou ao de cima, pois ela só pensava que ao contrário do que ele lhe tinha prometido, ele já a teria esquecido por ter ficado farto de esperar por ela. E não queria saber se isso teria acontecido ou não. Preferia pensar que ele ainda poderia estar à espera dela, em vez de ter a certeza de que ele já tinha continuado com a sua vida. E por isso, não lhe queria ligar. Tinha medo de admitir que tinha cometido um erro.

Foi quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Inês olhou para o ecran e viu que era Pedro. Foi uma daquelas coincidências que parecia inacreditável. Respirou fundo e atendeu a chamada.

- Estou? – disse ainda um pouco receosa do que iria ouvir.
- Olá Inês, sou eu... Desculpa lá estar-te a ligar, mas senti que era altura de falarmos...
- A sério? Já não era sem tempo....
- Já sentia falta das tuas provocações.... Mas já passou algum tempo desde a última vez que nós falamos... E tínhamos combinado que iríamos tentar ser amigos... Por isso queria convidar-te a ir a um jantar que estou a organizar para os meus anos daqui a uma semana... Interessada?

Inês pensou um pouco antes de responder... Não queria que as suas emoções afectassem a sua decisão. Ela ainda estava um pouco indecisa sobre se já era tempo de reatar as relações com Pedro ou ainda era cedo demais.

- Para a semana? Deixa-me ver a minha agenda. Se não tiver nada marcado, terei todo prazer em ir.
- Gostava muito de contar com a tua presença. Os meus melhores amigos vão lá estar e queria que tu também passasses a fazer parte desse grupo.
- Vou tentar ir, está descansado. Avisa-me só depois do dia e da hora.
- Fica combinado... Foi bom ouvir a tua voz outra vez...
- Também gostei de te ouvir. Beijinhos...
- Beijinhos....

Assim que Pedro desligou a chamada, Inês sentia-se diferente. Sentia-se mais livre e mais aliviada. O primeiro contacto com Pedro tinha corrido bem. E acima de tudo, parecia que ele estava mesmo disposto a fazer o que ela tinha pedido para que ele conseguisse reconquistar novamente a sua confiança.
Como não poderia deixar de ser, ligou na altura imediatamente à Rita para desabafar e contar o que tinha acontecido, tendo ficado quase uma hora seguida a dizer o que sentia, antes de se ir deitar, porque o dia seguinte era dia de trabalho.

Tudo parecia estar a entrar nos eixos. Só esperava que tudo continuasse assim.
Mas depressa saiu do estado pensativo em que se encontrava. Agora era altura de ir para o trabalho. Ainda continuava no departamento de compras e queria demonstrar aos seus superiores hierárquicos que tinha capacidades para evoluir dentro da firma e ir para outra função...

O trabalho estava a correr bem e com o tempo foi adquirindo confiança em si e no que estava a fazer. E acima de tudo, que os colegas a viam não como uma cara bonita que só estava lá por esse motivo, mas como alguém motivada para o trabalho e com capacidade para aprender e evoluir. Mas já estava a ficar um pouco farta de fazer as mesmas coisas dia após dia e queria algo diferente para fazer com maior complexidade, pois sentia que estava preparada para lhe serem atribuídas maiores responsabilidades.

Mas ela ficou preocupada, quando a sua colega Sónia, no final do dia disse-lhe que o chefe queria falar com ela. Inês inicialmente ficou algo receosa, pois já tinha ouvido demasiadas histórias de colegas (ou ex-colegas) que tinham sido repreendidas pelo Dr. Rui e saído do seu gabinete a chorar. Tentou relembrar-se mentalmente se tinha feito alguma coisa nos últimos tempos que pudesse ter motivado a sua convocatória para junto do chefe, mas não conseguiu lembrar-se de nada. Mas isso não queria dizer nada e o seu chefe poderia ter embirrado com ela por uma coisa mínima. Começou então a ficar algo nervosa, mas só lhe restava ir ter com o seu chefe a aceitar o seu destino. Mas depois de ter saído do gabinete, estava completamente desorientada. Não só tinha sido elogiada pelo seu chefe, como também lhe foi proposta a transferência para o departamento de contabilidade, onde teria um cargo de maior responsabilidade, mas que também implicaria mais horas de trabalho e também um novo esforço em termos de formação para as novas tarefas que poderia ter de executar. Ela respondeu-lhe favoravelmente ao convite e soube que a transferência iria concretizar-se no prazo de duas semanas, logo após o final do mês.

Inês sentia que a sua vida estava a mudar para melhor... Tinha outra coisa em que pensar, sem ser na sua vida amorosa. Mas lá no seu íntimo, só esperava pelo jantar que Pedro estava a organizar na semana seguinte para ver em que situação estavam as coisas. Os dias pareciam avançar devagar e nunca mais chegava o dia do jantar. Foi por isso com grande satisfação e nervosismo que finalmente esse dia tinha chegado.

Por mais que ela não o quisesse admitir, ela queria ver Pedro novamente. E tinha-se preparado para isso, pois consciente ou inconscientemente, tinha ido ao cabelereiro e à manicure no dia anterior. E decidiu levar um vestido que lhe ficava particularmente bem e que chamava a atenção de qualquer homem com dois olhos na cara.

Quando chegou ao restaurante, viu que Pedro já lá estava com alguns amigos. Ela consciencializou-se naquele momento que não conhecia ninguém naquele jantar. Ela dirigiu-se a Pedro e cumprimentou-o com um leve beijo na face.

- Oi. Muitos parabéns – disse Inês, logo após tê-lo cumprimentado.
- Ainda bem que vieste. Agradeço imenso o facto de teres vindo.
- Não podia perder esta oportunidade para estarmos juntos e para por a conversa em dia- disse Inês, não conseguindo conter o sorriso por estar a falar novamente com ele.

Estiveram a falar um pouco do que se tinha passado nos últimos tempos e nem parecia que tinham estado alguma vez separados. A conversa saía naturalmente, e sem aqueles inconvenientes e embaraços que podia decorrer da situção em que os dois se encontravam. Mas tiveram de interromper a conversa, pois mais alguns amigos de Pedro tinham chegado e ele também tinha de dedicar alguma atenção a eles.

Inês decidiu-se então a sentar... como não conhecia ninguém, decidiu ficar no lugar livre mais próximo de Pedro. Apesar de não conhecer ninguém no jantar, ela nunca tinha problemas neste tipo de situações, pois devido à sua personalidade, era uma pessoa muito cativante e que agarrava a atenção de quem estivesse a falar com ela, fosse qual fosse o tema.

Estava então a ter uma conversa com o desconhecido do lado sobre como há quanto tempo conheciam Pedro e a natureza da relação de cada um deles com o amigo, quando ouviu uma voz feminina a perguntar se a cadeira à frente de Inês ainda estava disponível. Instantaneamente, quase por reflexo, Inês disse que sim, sem ter olhado para quem tinha feito a pergunta. Mas depois desviou o olhar e viu que estava agora sentada à frente da amiga de Pedro que tinha sido o motivo principal para o fim da sua relação. Patrícia... era esse o nome que não tinha saído da sua cabeça nos últimos tempos. Ela sabia que Patrícia não tinha a culpa de nada e que tinha sido Pedro que lhe tinha mentido. Mas subconscientemente, ela era uma das culpadas pelo seu sofrimento nos últimos meses. E ainda por cima, ela naquela noite rivalizava com ela pelo título de rapariga mais atraente da sala... Patrícia tinha vindo com um lindo vestido rosa choque que realçava o seu corpo e o seu decote, e que muito provavelmente também atraíria a atenção de Pedro. Inês não gostava da amiga de Pedro, mas decidiu que não podia demonstar-lhe isso, pois ela não lhe tinha feito ainda nada. Um dos seus principais objectivos durante a noite passou a ser encontrar motivos reais para detestar a pessoa sentada à sua frente.

Mas à medida que a noite prosseguia, estava a ser-lhe complicado concretizar os seus objectivos. Duranta a conversa, Patrícia mostrou ser uma pessoa humilde, muito pacífica, muito simpática e atenciosa. E Inês não teve outro remédio do que ir mostrando um sorriso mais forçado durante a conversa e manter uma conversa cordial com ela. Findo o jantar, e antes de servirem a sobremesa, Inês pediu licença e foi ao quarto de banho. Quando estava prestes a voltar para a mesa depois de lavar as mãos, reparou que Patrícia também estava ao seu lado.

- O jantar está a correr bem... – disse Patrícia, para não parecer indelicada.
- Sim, também acho que sim. Nunca tinha vindo cá... mas gostei – respondeu Inês.
- Inês... – disse Patrícia, antes de fazer uma breve pausa... – Posso fazer-te uma pergunta? Pode parecer descabida, mas tenho mesmo de a fazer...
Inês hesitou um pouco, mas lá acabou por assentir com um ligeiro acenar da cabeça.
- Tens alguma coisa contra mim?

Inês foi apanhada desprevenida por aquela pergunta. O que iria responder? Respirou fundo e percebeu que só poderia responder a verdade... Ela percebeu que não tinha enganado Patrícia durante a noite e que ao contrário do que tinha pensado, não tinha conseguido esconder o que realmente sentia...

- Patrícia.. Vou ser sincera contigo... Tu nunca me fizeste nada, mas acho que nunca te vou deixar de considerar aquela rapariga que se meteu na minha relação contigo...
- Já tinha percebido isso... Sabes que o Pedro já me tinha falado muito de ti antes de vocês.... – fez uma breve pausa, pois soube que tinha falado de mais – e não foi a rapariga que esteve sentada à minha frente... Tu foste muito educada comigo e fomos tendo aquelas conversas circunstanciais... Mas percebi que não estavas a ser tu... Perguntei-me várias vezes durante a noite onde estaria a rapariga que tinha conquistado o Pedro... E cheguei à conclusão que não estavas confortável em falar comigo, embora o não quisesses demonstrar...

Inês sentiu a sinceridade com que Patrícia tinha dito aquelas palavras e apeteceu-lhe pedir desculpa. Mas não era o momento para isso. Quem sabe um dia teria uma nova oportunidade. Mas era altura de pelo menos se justificar.

- Tens toda a razão. Senti-me um pouco constrangida por tu estares cá. Eu sei que a culpa não é tua. Mas se não fosses tu, se calhar estava neste momento ao lado do Pedro a segurar a mão dele enquanto os seus amigos lhe cantavam os parabéns.
- Inês... vou-te dizer uma coisa... Acho que tu nunca tiveste motivos para ficar assim. O Pedro nunca faria algo que te pudesse magoar. Pelo menos o novo Pedro... Tu não o conheceste antes... Ele mudou muito desde que começou a andar contigo e se o conhecesses antes perceberias a diferença. Perceberias que ele estaria disposto a fazer tudo por ti e que ele não tinha olhos para mais ninguém... mesmo que alguém estivesse interessada nele, ele não estaria interessado. Tu eras a única mulher da vida dele...

Inês ficou sem saber o que dizer... Será que se tinha precipitado em não aceitar logo as explicações de Pedro na altura? Será que ela também tinha alguma culpa pelo fim da relação?

- Sabes que nos últimos tempos ele não tem sido o mesmo. No escritório, nota-se que lhe falta algo na sua vida. Mas mesmo assim, ele não voltou a ser o Pedro de antes. Tu mudaste-o e ele está disposto a esperar por ti. Por isso, não tens que estar preocupada comigo ou com outra mulher. Tu és a única pessoa que ele quer na vida dele. E espero que saibas disso.

Uma lágrima começou a cair do olho de Inês que tinha ficado emocionada com as palavras de Patrícia. Ainda não estava preparada para reatar as coisas com Pedro, mas pelo menos agora já se sentia mais segura dos sentimentos de Pedro para com ela. Ela continuou incapaz de dizer algo, mas sentiu que Patrícia tinha percebido o que ela sentia. Ambas voltaram para a mesa, mesmo a tempo da sobremesa.

Enquanto provava o seu cheesecake, Patrícia sentia-se triste por praticamente ter empurrado Inês de volta para a vida de Pedro... mas o mais importante era que ele fosse feliz... mesmo que não fosse com ela. E ela sabia no seu íntimo que ele só seria feliz junto de Inês.

Entretanto, Inês achava que a noite tinha corrido bem. O primeiro passo já tinha sido dado e só esperava por novos desenvolvimentos na sua nova relação de amizade. Ela foi despedir-se de Pedro que estava junto da Patrícia que também ia andando para casa.

- Pedro, muito obrigado por me teres convidado. Foi bom termos voltado a falar.
- Eu é que te agradeço por teres vindo. Significou muito para mim.
- Então um dia, combinamos qualquer coisa para pormos a conversa em dia.
- Parece-me uma óptima ideia. Talvez para a semana? – disse Pedro ao dar dois beijinhos na face de Inês, que sentiu o seu coração a pulsar rapidamente e sem controlo nesse momento. Mas lá conseguiu recuperar o controlo.
- Também acho que seria uma óptima ideia- respondeu Inês, que reparou no piscar de olhos de Patrícia dirigido para ela, indicando a aprovação da atitude que Inês tinha tomado ao aceitar o convite de Pedro...

Ao chegar a casa, só pensava no que se tinha passado no jantar. Mas ao contrário do que imaginava quando tinha acordado nesse dia de manhã, não tinha sido o reencontro com Pedro que tinha alegrado o seu coração. Tinham sido as palavras de Patrícia que afinal não era tão má pessoa como ela pensava.

sábado, agosto 14, 2010

Capítulo 23 - Vida nova

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Apesar de ser bastante mais cedo do que a hora em que habitualmente acordava, tinha mesmo de sair da cama. Iria começar hoje o seu novo emprego.
Já há algum tempo que estava a procura de emprego, mesmo antes de ter terminado o seu curso de Psicologia, e tinha-se apercebido de que o mercado de trabalho nessa área estava em baixa, principalmente para os recém-licenciados.
E tendo terminado o último exame há cerca de um mês, tinha de arranjar algum emprego para ir suportando a renda e os gastos enquanto não arranjasse um emprego na sua área. E isso poderia demorar algum tempo, pelo que há uns meses atrás tinha recorrido a uma empresa de trabalho temporário... Após ter efectuado uma série de entrevistas e os testes psicotécnicos, ficou a aguardar novidades sobre um eventual emprego que essa empresa acharia que seria mais adequado para ela.

Mas estas últimas semanas tinham sido complicadas, devido ao que tinha acontecido com Pedro. Já não falava com ele há duas semanas pois eles tinham combinado dar algum tempo ao outro. Quando ela recebeu a chamada da empresa de trabalho temporário a indicar que tinha sido esolhida para trabalhar como assistente administrativa na área financeira de uma multinacional e perguntar-lhe se ela estava interessada, ela aceitou logo a proposta, uma vez que precisava de algo para esquecer o que se tinha passado nos últimos tempo e seguir em frente com a sua vida. Ainda não tinha exactamente a noção do que é uma assistente administrativa fazia, pelo que era com alguma curiosidade e nervosismo que se preparava para o primeiro dia de trabalho. A primeira grande dificuldade prendia-se com o que vestir...

A primeira impressão é uma coisa muito importante, pois apenas se tem hipótese de causar uma primeira impressão uma vez. E ela queria causar um boa impressão aos seus novos colegas de emprego, ainda para mais porque sentia que tinha de provar algo, pois era apenas uma temporária. Ela não sabia se quereria apresentar-se de forma muito profissional usando um fato. Ou tinha a alternativa de se vestir de forma casual, de calças de ganga e uma blusa discreta... Ou tinha ainda a hipótese de se vestir de forma sensual com a menor mini-saia que tinha e com um top muito revelador... Eram muitas as hipóteses e Inês não tinha ideia de qual seria a alternativa mais apropriada. Após vestir-se e despir-se várias vezes em frente ao espelho, decidiu-se a usar um dos seus vestidos favoritos que apesar de mostrar a sua beleza natural não era muito revelador do seu corpo. Pelo menos não iria ser alvo de comentários menos apropriados pelos seus colegas.

Um pouco antes das nove da manhã, chegou ao seu novo local de trabalho. Assim que chegou à recepção, foi encaminhada para a responsável dos Recursos Humanos com quem esteve a tratar de toda a papelada inicial. De seguida, fizeram-lhe uma visita guiada do escritório, que ainda era maior do que pensava, pois ocupava vários andares e tinha vários open spaces enormes cheio de secretárias com pessoas, todas à frente de um computador... Ela também se apercebeu de que grande parte das pessoas que lá trabalhavam eram mais ou menos da sua idade, pelo que ficou mais aliviada pelo facto de poder conseguir encontrar alguém com que se pudesse dar bem e que a ajudasse a integrar-se na empresa.

No final da visita guiada, a sua colega de recursos humanos apresentou-a ao seu chefe, o Dr. Rui. Era uma pessoa relativamente nova, entre os 35 e os 40, mas a sua primeira impressão não foi a melhor. Ele pareceu-lhe demasiado ríspido quando foram apresentados e não perdeu mais do que cinco segundos com ela. Sim, ela era apenas uma simples temporária, mas mesmo assim, achava que pelo menos o chefe quereria conhecer melhor quem trabalhava para ele.. E durante a manhã, percebeu que o seu novo chefe não tinha problemas em gritar com os seus subordinados se eles não tivessem feito algo como ele queria...

Nesta fase inicial, iria ser treinada por uma colega já com alguma experiência e que já estava na empresa há 3 anos, a Sónia. Pareceu-lhe uma pessoa mais acessível do que o seu chefe, até porque não só era apenas ligeiramente mais velha do que ela (pareceu-lhe que ela tinha cerca de 25 anos), mas porque era uma pessoa muito calma e com muita paciência para ensinar sempre as pessoas acabadas de entrar e que não percebiam de nada do que iam fazer... A Sónia explicou-lhe que o trabalho dela iria consistir em ajudar o departamento financeiro da empresa onde fosse necessário, consoante os picos de trabalho ou fosse necessário substituir alguém que estivesse de baixa ou de férias...

Inicialmente, ela iria estar alocada à area de compras, e iria essencialmente estar a lançar facturas de fornecedores no computador. Sónia passou grande parte da manhã a explicar-lhe o que tinha de fazer, a mostrar-lhe o sistema informático com que a empresa trabalhava e ainda esteve a ajudá-la a lançar as suas primeiras facturas, para se certificar de que ela tinha aprendido correctamente. Não era uma coisa assim tão complicada, pois felizmente, Inês tinha alguma experiência em trabalhar com computadores devido aos trabalhos da faculdade e por isso o Word e o Excel não eram palavras estranhas. Teve alguma dificuldade inicial nesse primeiro dia a tentar compreender o sistema informático onde tinha de lançar as facturas e que campos preencher, e por isso de vez em quando pedia a ajuda de Sónia, que tinha-a posto à vontade para a questionar sempre que ela achasse necessário. Mas esperava que passado uns dias, se sentisse mais à vontade e mais confiante no que estava a fazer...

Felizmente, também o seu horário de trabalho, pelo menos enquanto estivesse no departamento de compras, não era muito extendido e por volta das 18h30 foi mandada para casa. Mas foi-lhe dito para não se habituar muito a esse horário, pois existiam outros departamentos onde poderia ser alocada, onde poderia sair muito mais tarde do que isso durante vários dias.

Inês ficou satisfeita por começar num sitio mais calmo, para poder adaptar-se com calma à empresa e ao trabalho, e esperava que pudesse continuar nas compras por mais algum tempo. E pelo menos sabia que podia contar com uma pessoa para ajudá-la lá dentro, pois a Sónia era de facto uma rapariga impecável. Até a tinha convidado para almoçar, pois imaginava que ela não tinha tido oportunidade de conhecer outros colegas nesse primeiro dia. E foi o que tinha acontecido, pois tinha estado em formação o dia inteiro e teve poucas oportunidades de falar com as colegas que estavam perto nela, numa mesa minúscula num open space enorme. E tinha também reparado que o ambiente de trabalho era um pouco formal, com poucas interrupções para além do café e das idas à casa de banho, muito provavelmente por causa do chefe, que não perdia qualquer hipótese de dar na cabeça de algum dos seus subordinados. E por isso, todos procuravam estar concentrados no trabalho, para evitarem cometerem erros. E uma coisa que a Sónia lhe tinha dito, é que o Dr. Rui às vezes poderia ser um pouco duro, mas que nunca tinha repreendido ninguém que não o merecesse, embora ela não concordasse com a forma como ele às vezes humilhava os colegas à frente de toda a gente.

No final do dia, chegou a casa e ligou à Rita para contar-lhe o seu primeiro dia de trabalho. Após ter desligado o telemóvel, Inês apercebeu-se que tinha sido a primeira vez que o principal motivo dos seus desabafos não tinha sido Pedro... Era um sinal de que o tempo tinha-a ajudado a esquecer o que se tinha passado.... O passado é o passado e abria-se uma nova página na sua vida... Novo emprego, novas amigas e quem sabe... uma nova paixão?

Mas o dia tinha-lhe corrido bem... A incerteza que tinha sobre o seu futuro quando acordou de manhã tinha-se atenuado... Ela estava um pouco insegura sobre o facto deste ser o primeiro emprego a sério dela e nem imaginava o seu futuro se as coisas tivessem corrido mal... Mas felizmente, os seus piores receios não se concretizaram...

O dia seguinte ainda correu melhor... Não só ela já estava um pouco mais habituada ao seu trabalho, como na hora do café foram-lhe apresentadas algumas colegas que também eram temporárias e também estavam lá há pouco tempo e com que se entendeu bastante bem. Tinham várias coisas em comum, como o facto de também ser este o primeiro emprego delas e também o facto de terem também tirado cursos noutras áreas, mas que estavam todas agora como assistentes na área financeira por não terem encontrado o emprego que mais gostariam... e acima de tudo, eram pessoas que estavam dispostas a apoiar-se umas às outras... E ainda por cima, Inês era daquelas pessoas muito aberta, que conquistava qualquer pessoa com a sua personalidade e a forma aberta como dizia o que pensava, o que facilitou a integração naquele grupo... A única pessoa que ainda não lhe ligava muito era o seu chefe, o que a fazia feliz, pois se ele não soubesse quem ela era, menos hipóteses existiriam de ele embirrar com ela.

Os primeiros dias de Inês correram bem, e cada vez menos sentia a necessidade de pedir ajuda à Sónia, pois estava mais à vontade no que fazia... E acima de tudo, estava a gostar do que fazia, embora não fosse o tipo de coisas que queria fazer para o resto da sua vida e já imaginava que daqui a uns meses já estaria farta de fazer a mesma coisa todos os dias. O que lhe valia era o facto de daqui a uns tempo, poderia ser precisa noutro departamento e iria fazer outra coisa completamente diferente...
Mas acima de tudo, tinha feito novos amigos lá dentro e estava a seguir com a sua vida. Aliás, tirando o seu chefe, apenas existia um outro colega, o Diogo, que também era um temporário e que praticamente a ignorava, que não mostravam qualquer interesse em ser seus amigos. De resto, praticamente toda a gente no seu departamento gostava dela e estavam a ajudá-la a integrar-se.... E sentia que a sua vida profissional estava a correr bem... Mas não tinha niguém com quem partilhar essa sensação... E de repente começou a pensar que aquela noite seria a noite ideal para ligar a Pedro, com que já não trocava uma palavra há quase três semanas...

quinta-feira, agosto 12, 2010

Capítulo 22 - Seguir em frente

Por volta das oito horas da noite, Patrícia chegou ao café onde tinha combinado encontrar-se com Pedro. Sentiu um nervosinho miudinho e não fazia ideia do motivo. Ao contrário do dia anterior, não ia para um encontro. Ia apenas ter uma conversa amigável com um colega... Pelo menos era isso que ela tentava se convencer, por forma a não ficar tão nervosa. Mas não estava a resultar. Desde que tinha saído do escritório directamente para o café, não conseguia deixar de pensar que por mais que quisesse, ainda sentia algo muito forte pelo seu amigo. E não tinha sido o encontro do dia anterior que tinha mudado essa situação.

Respirou fundo e tentou concentrar-se, pois já não devia faltar muito para Pedro também chegar. E ela não queria mostrar-lhe que sentia algo por ele. Ainda para mais, agora que ele só tinha olhos para outra mulher... Mas acima de tudo, era amiga dele e por mais que lhe custasse, tinha de lhe dar apoio nesta fase mais difícil da vida dele... Mesmo que isso implicasse reconhecer que ela nunca iria ser a tal para ele, pois mesmo estando ele separado daquela rapariga, ele não conseguia parar de pensar nela. Quem lhe dera que ele sentisse o mesmo por ela...

Mas os pensamentos dela foram interrompidos, quando se apercebeu da chegada do seu amigo. Ambos sentaram-se numa mesa num cantinho onde podiam falar à vontade sem serem incomodados pelos outros clientes do café.

- Ainda bem que pudeste vir – disse Pedro, ao interromper o silêncio momentâneo que resultou do facto de nenhum querer ser o primeiro a iniciar a conversa. Não era normal, pois Pedro confiava na sua amiga e nunca tinha tido problemas em lhe dizer nada... Mas desta vez o motivo era diferente... Ele precisava da sua ajuda para reconquistar Inês e não sabia muito bem como começar...
- Estava mesmo a precisar de falar contigo...nem sabes como senti a tua falta nestes últimos tempos...- começou Pedro.- Estava mesmo a precisar de um ombro amigo... E não merecia que estivesses cá, pela forma como te tenho ignorado nos últimos tempos...
- Estás a fazer um bom trabalho a pedir desculpas... Continua... – interrompeu Patrícia com um sorriso.
- Mas acho que seria preciso muito mais para nos afastar e acabar com a nossa amizade.
- Fico feliz que aches isso de nós. E sabes que não consigo resistir a esses olhos, pelo que vamos esquecer a última semana e seguir em frente... Mas com que então, ela não voltou para ti da forma como querias....
- Pois... ela não me conseguir perdoar totalmente, mas pelo menos não me tirou completamente da sua vida... e que que sejamos amigos...
- Cá está a frase que normalmente indica que a relação está preste a terminar...- gracejou Patrícia.
- Pois... Mas desta vez as coisas são diferentes. Eu acho que ela está preparada para dar-me uma nova hipótese no futuro... E eu nunca iria perdoar-me se não aproveitasse esta oportunidade... Por isso precisava da tua ajuda... O que posso fazer para não a afastar?

Patrícia pensou bem no que iria dizer. Estava-lhe a custar muito por dentro fazer isto, mas ela queria vê-lo feliz... mesmo que não fosse com ela...

- Sabes... Acho que tens de continuar a ser o Pedro destas últimas semanas. Tu mudaste muito... Passaste de alguém que não se importava com o futuro e vivias como se fosses o dono de tudo... para alguém que é mais humilde e que está disposto a fazer de tudo para reconquistar a pessoa que ama... Tens de continuar a ser esse Pedro e tenho a certeza de que mais cedo ou mais tarde, ela irá aperceber-se de que não pode viver sem ti...

- Nem imaginas o quanto te agradeço por me dizeres isso. Mas realmente, sinto-me uma pessoa diferente... A Inês faz-me querer ser uma pessoa melhor e isso é algo que não consigo negar. Mas e se ela não conseguir confiar em mim novamente?

- Tem calma, Pedro. A confiança conquista-se aos poucos, acto a acto, dia a dia. Tens de ter paciência e acima de tudo, não a forçar a nada. Tens de lhe dar algum tempo e acima de tudo, fazer com que ela perceba que estás disposto a esperar o tempo que for preciso.

- Já não és a primeira pessoa que me diz isso. – Mas sinto um aperto sempre que penso que existe uma possibilidade dela me esquecer. Ou pior... de encontrar outra pessoa entretanto...

- É o risco que tens de correr. Mas acima de tudo, tens de fazer com que ela confie em ti... tudo o resto, virá depois...

- Não sei o que faria sem ti, Patrícia...
- Também não sei o que farias sem mim... – respondeu a amiga, com o sorriso característico dela.
- Mas chega de falar de mim... Como é que correu o teu encontro ontem?
- Sabes... correu melhor do que eu esperava... já há algum tempo que não saia com ninguém... estava um pouco enferrujada...
- Mas imagino que ele deva ter ficado encantado contigo... Ontem estavas muito bem arranjada...

A face de Patrícia corou ao ouvir os elogios dos seu amigo... Ela sempre tinha esperado que ele reparasse nela... mas isso só tinha acontecido quando ele tinha encontrado outra pessoa...

- Escusas de gozar comigo só pelo facto de ter feito um makeover...
- Mas estava a falar a sério... tu ontem estavas muito gira... o que é que ele achou?
- Sinceramente, acho que ele nem reparou muito nisso... ele esteve a noite toda mais interessada no que eu dizia...
- Já te tinha dito que tu és muito mais do que uma cara bonita... e qualquer homem seria um sortudo em estar contigo... ainda bem que entraste nesta nova fase... estava a pensar que irias sempre continuar a dar primazia ao trabalho em vez de tentares encontrar alguém... Fico muito feliz que tenha corrido bem.... Então, achas que ele é o tal?

Patrícia teve de parar um pouco para não responder o que lhe veio logo à cabeça... Caso não o tivesse feito, corria o risco de dizer que ontem não tinha estado com o tal... esse, estava mesmo à sua frente... Mas Patrícia sabia que tinha de seguir em frente e não pensar mais em Pedro dessa forma... Mas custava-lhe muito e tinha de fazer um grande esforço para que ele não se apercebesse de nada.

- Não sei... Ainda é cedo para dizer isso... Mas acho que começámos bem... Quem sabe se ele não será a pessoa perfeita para mim?
- Espero que sim... que já não estás a ficar nova....
- Engraçadinho....
- Falando a sério, espero que tudo corra bem...
- Também eu – disse Patrícia, que não sabia ao certo se estava a ser sincera quando disse estas palavras...

O resto da conversa durante a noite foi menos séria e muito divertida... Ambos eram bons amigos e davam-se muito bem... Mas acima de tudo, Patrícia tentou durante a noite provar a si própria de que tinha seguido em frente com a sua vida e que Pedro era só um amigo... Mas infelizmente, sabia que estava a enganar-se a si própria... Nada faria com que ela deixasse de pensar nele... Mesmo que estivesse com outra pessoa, ele ocuparia sempre uma parte do seu pensamento... Só esperava que ainda restasse um espaço no seu coração que pudesse ser ocupado por outro homem.... Quem sabe o homem que tinha conhecido ontem? Quem sabe se ontem não se tinha dado início a um novo começo?

quarta-feira, agosto 11, 2010

Capítulo 21 - Um novo começo?

Pedro ficou satisfeito por ter conseguido resolver as coisas com Patrícia. Ele sabia que ela não conseguia não lhe perdoar, pois eram verdadeiros amigos e seria preciso algo muito grave para os afastar a sério. Ele só podia estar verdadeiramente agradecido por ter uma amiga assim. Mas Pedro nem teve tempo de pensar mais, pois foi chamado de urgência para uma reunião que um dos maiores clientes da empresa tinha marcado.

Patrícia, por sua vez, não conseguia deixar de pensar na conversa que tinha tido. Sentiu-se desconsolada por ter finalmente percebido que Pedro nunca iria deixar de pensar em Inês, mesmo que ela não quisesse nada com ele. Mas lá no seu íntimo, já tinha interiorizado essa situação. Tinha de seguir em frente com a sua vida e era por esse motivo que tinha um “blind date” combinado por uma das suas amigas. Ela nunca na vida imaginava que alguma vez iria jantar com alguém que não conhecia, mas tinha decidido que a melhor forma de esquecer a paixão que tinha por Pedro, seria tentar encontrar outro homem que enchesse o vazio que existia no seu coração. E quem melhor do que uma das suas melhores amigas para a ajudar a encontrar alguém com quem ela se desse bem. E ela tinha ouvido muito bem desse homem, pelo que ela esperava não ficar desiludida. E principalmente, esperava que ele não ficasse desiludido com ela.

Já há algum tempo que ela não tinha um encontro com um homem... E toda a gente sabe quão difíceis são os primeiros encontros, prncipalmente com pessoas que não conhecemos muito bem. Existe sempre aquela preocupação de tentar perceber como é a pessoa que está sentada do outro lado da mesa, no meio da conversa habitual que se costuma ter nestas ocasiões. Todos tinham sempre a preocupação de não entrar em conversas muito íntimas e pessoais, pois ainda era muito cedo para isso. Mas não podiam cair no erro de ter conversas muito gerais, que não captassem o interesse da outra pessoa. Em resumo, os primeiros encontros não eram fáceis e ela só esperava que tudo corresse bem. Mas tudo seria diferente se o encontro fosse com Pedro... Ele já a conhecia tão bem, que as coisas seriam muito diferentes. Mas já era altura de deixar de pensar nele... Era difícil, mas Patrícia sabia que era a coisa correcta a fazer.

E foi com estes pensamentos que Patrícia passou o resto da tarde, antes de ir para o restaurante que a sua amiga tinha escolhido para o encontro.

***


Pedro chegou ao escritório de manhã, atrasado como sempre. Não tinha nenhuma campanha urgente em curso, pelo que podia gerir o seu horário como mais lhe conviesse. Lembrou-se que tinha de ver se Patrícia estava disponível para tomar o tal café com ele à noite. Era uma oportunidade para saber como tinha corrido o encontro dela no dia anterior e também para conversar um pouco sobre Inês.

Mas ele estranhou, quando reparou que ela ainda não tinha chegado ao escritório. Era estranho, uma vez que ela era sempre uma pessoa muito certinha e que era das primeiras pessoas a chegar todos os dias ao escritório e uma das últimas a sair. Realmente, não era uma situação nada habitual, o que apenas o fez ficar mais curioso sobre o que se tinha passado na noite anterior com a sua amiga. O que teria acontecido para ela não ter ainda chegado?

Pedro foi obrigado a concentrar-se no trabalho, pois tinha naquele momento uma reunião com os colegas por causa da nova campanha. Mas durante toda a reunião, ficou sempre intrigado por ainda não ter visto a amiga.

Mas ficou mais descansado ao final, quando terminada a reunião, viu que Patrícia já estava na sua mesa. E se não fosse impossível, ainda mais atraente do que no dia anterior, com um vestido vermelho com um decote que mostrava muito mais do que Pedro achava que Patrícia seria capaz de mostrar em público.

- Já vi que a noite de ontem correu bem... Para só teres chegado a estas horas- perguntou Pedro.
- Isso é o que tu querias saber... mas eu não sou daquelas raparigas que beija e conta...
- Já vi que aconteceu aí qualquer coisa... mas realmente, queria saber se hoje então querias tomar um café ao final do dia, para conversarmos um pouco. Claro que se tiveres um novo encontro marcado para hoje à noite eu compreendo que querias adiar...
- Por acaso, hoje tenho a minha agenda livre e posso encaixar-te...
- Só posso agradecer, pois imagino que o teu tempo livre é muito disputado.
- Tu nem imaginas... mas lá te faço um favor por seres um velho amigo... E agora deixa-me trabalhar que tenho um apresentação à tarde e estou um pouco atrasada.
- Cá está a Patrícia do costume... – disse Pedro à sua amiga, antes de ir para a sua secretária.

Patrícia voltou ao trabalho, mas não conseguia deixar de se lembrar da noite passada.

A noite tinha tudo para correr bem. Quando chegou ao restaurante, deparou-se com um homem bem parecido e muito charmoso. E acima de tudo, muito atencioso para com ela, mesmo sendo aquela a primeira vez que se estavam a encontrar. E se ela pensasse que ele era apenas um homem atraente na casa dos 30, estava muito enganada. Como veio acabar por descobrir, ele era também muito bem sucedido a nível profissional, pois era o sócio principal de uma pequena empresa de software que ele tinha criado e que tinha crescido bastante, sendo que se ele quisesse já se podia reformar. Mas ele gostava de se manter ocupado e por isso ainda continuava a fazer parte da equipa de desenvolvimento dos projectos.
Tinha sido esse um dos principais motivos para ele ainda ser solteiro naquela idade... ele, tal como ela, tinha-se dedicado de corpo e alma ao trabalho e o tempo livre era escasso e como tal nunca tinha dado a primazia à vida pessoal. Ainda por cima, o pouco tempo livre que ele tinha era também passado em algumas actividades de voluntariado, uma vez que ele achava que tinha tido a sorte de ter conseguido algum sucesso na vida que era obrigação dele partilhar e tentar ajudar outras pessoas.

Ou seja, o homem que esteve à sua frente era praticamente o homem perfeito para qualquer outra mulher. Mas podia acontecer que ele não tivesse nada em comum com ela. Mas mais uma vez, como a noite acabou por provar, esse pensamento acabou por se revelar falso. A noite passou num instante e ela sentia-se à vontade com ele. Ele era divertido e ela dava-se constantemente a rir das piadas ou das histórias engraçadas que ele dizia. Ela sentia-se também à vontade com ele para partilhar alguns pormenores não íntimos sobre a sua vida. Ela descobriu que ele tal como ela gostava de cães. Que ele adorava ler e que era capaz de ler um livro por horas seguidas se gostasse desse livro enquanto o não acabasse. Tal como ela. Ele gostava do mesmo genero de música e tinha também ido aos últimos concertos que ela também tinha ido. Soube também que ele adorava cozinhar, mas que nunca tinha tempo para o fazer. Essa era capaz de ser a única coisa que não tinham em comum. E o toque final do jantar ocorreu aquando da sobremesa. Ela não tinha pedido nada pois estava um pouco cheia, mas ele tinha escolhido o cheesecake de amora, que era uma das sobremesas favoritas dela e quando o empregado de mesa trouxe a sobremesa ele pediu-lhe para trazar um garfo adicional para ela também provar, mesmo ela não tendo dito nada. Ele era uma pessoa simples, muito simpática, altruista e que preocupava-se mais com os outros do que com ele.

Tinham-se dado muito bem e a amiga mútua que os tinha juntado tinha mesmo acertado na mouche. À saída do restaurante, trocaram o número de telemóvel e combinaram marcar qualquer coisa daqui a uns tempos. E ambos sabiam que essa promessa iria mesmo concretizar-se, pois a noite tinha corrido muito bem e ambos queriam saber aonde aquilo poderia chegar.

Realmente, a noite tinha tudo para correr muito bem. E tinha corrido até ela chegar a casa e ter tempo para parar um pouco e pensar sobre a agradável noite que tinha passado. Quando ia escrever no seu diário, infelizmente percebeu uma coisa. Que mesmo tendo gostado do seu encontro, ainda continuava a pensar em Pedro. Como era possível que ela tivesse encontrado um homem perfeito que estava interessado nela e com quem ela achava que poderia ter um futuro, mas ela não conseguia deixar de pensar em alguém que não estava interessado nela e que muito provavelmente nunca iria estar. Quando chegou a casa, estava preparada para escrever no seu diário o que tanto tinha gostado noite que tinha passado. Mas acabou por escrever sobre a confusão emocional que tinha e sobre o facto de, apesar do que intencionava, ainda não tinha ultrapassado a paixão que tinha por Pedro e que ainda não estava preparada para seguir em frente. E a lágrima que caiu no diário após ter escrito a última frase fez-lhe perceber mesmo isso.

terça-feira, agosto 10, 2010

Capítulo 20 - Amigos

Pedro acordou de manhã, com um ânimo diferente. A conversa que tinha tido no dia anterior com a Inês tinha feito com que ele tivesse alguma esperança de voltar a ter uma relação com ela. Mas agora tinha de fazer os possíveis para reconquistar a confiança dela. Mesmo que isso implicasse temporariamente ser apenas amigo dela… Seja o que fosse que isso significasse…

Ele nunca tinha tido uma rapariga que fosse apenas sua amiga. Durante toda a vida dele, ele nunca conseguiu manter uma relação de amizade com uma mulher, pois mais cedo ou mais tarde acontecia algo que acabava por afectar a sua amizade… Inúmeras foram as ocasiões em que ele acabava por tomar a iniciativa junto de uma amiga e acabavam por sair juntos, mas mais cedo ou mais (normalmente depois de ter dormido com essa amiga) a relação acabava por terminar e normalmente nunca mais via a antiga amiga.

Ou noutros casos, a amiga apaixonava-se por ele, mas ele não sentia o mesmo por ela. Juntando aos inúmeros casos que ele tinha com outras mulheres, acabavam por fazer com que essas amigas se distanciassem dele.

Aliás, só uma mulher fazia parte actualmente do seu círculo de amigos: Patrícia. Ela era talvez a única mulher que era imune aos seus encantos naturais e nunca tinha demonstrado qualquer interesse nele em termos amorosos. Para além disso, ela era a única mulher em quem ele podia confiar e prezava tanto a sua amizade, que seria incapaz de ter alguma relação com ela, sob medo de arriscar a companhia e o apoio que ela lhe tinha dado nos últimos anos.

Patrícia seria talvez a melhor pessoa para lhe aconselhar neste momento que lhe estava a ser tão difícil. Ele tinha-a afastado algum tempo depois de ter acabado a relação com Inês, e nunca lhe tinha contado o que realmente causou o fim da relação. Ela merecia que ele lhe contasse a verdade e ele tinha a certeza de que ela o iria ajudar a ser um amigo de Inês… Ela era a pessoa perfeita para isso…


Já na agência de publicidade, Pedro pensava na melhor forma de pedir desculpas a Patrícia pela frieza com que ele a tinha tratado nos últimos tempos. Ele só podia fazer uma coisa… Ajoelhar-se à frente dela e pedir-lhe sinceramente desculpas e esperar que ela o perdoasse… Ela era amiga dele e sabia que ele às vezes tinha attitudes estúpidas, e sempre o tinha perdoado e esperava que desta vez as coisas não fossem diferentes.

Assim que a sua manhã acalmou um pouco, Pedro deslocou-se para junto da secretária da sua amiga, mas não a encontrou por lá… Ele ficou a pensar onde poderia ela estar, mas foi interrompido por uma voz feminina.

- Caro colega Pedro… Não faço ideia porque está aqui, uma vez que nos últimos tempos tem passado muito despercebido cá pelo escritório…

Pedro reconheceu a voz de Patrícia, mesmo estando de costas para ela e sentiu o sarcasmo. Ele merecia isso, pois tinha praticamente ignorado a amiga nos últimos tempos…

- Já sentia a falta dessas demostrações de carinho com que tu me costumas brindar… Mas desta vez, eu mereço tudo o que me digas… Mas eu peço-te imensa…. – Pedro virou-se, pois queria pedir-lhe desculpa, olhos nos olhos, para que a Patrícia visse sinceramente que ele estava arrependido…

- … - mas assim que se virou Pedro ficou sem palavras por uns instantes… Pedro ficou surpreendido ao ver Patrícia, pois ela estava diferente… A começar pelo penteado… O cabelo estava arranjado como se tivesse sido tratado por um cabeleleiro famoso de Paris. A seguir, Pedro reparou nas unhas, que estavam arranjadas e reluziam com o seu verniz vermelho… A sua amiga nunca se tinha preocupado muito com o cabelo e com as unhas, pois preferia que as pessoas centrassem a sua atenção na sua maneira de ser e não na sua aparência física. Aliás, ela orgulhava-se de ter chegado onde estava na empresa pela sua competência e pelas capacidades que tinha demonstrado… Não que ela não fosse atraente, porque o era… e bastante… Mas ela procurava não chamar a atenção… Mas com o que ela estava a vestir nesse dia, ela atrairia a atenção de qualquer homem. Pedro não conseguiu desviar o olhar da combinação de blusa branca apertada (que atraía os olhares masculinos para os seios dela) com a mini saia preta que mostrava as compridas e bem torneadas pernas da sua amiga, finalizando com os sapatos de salto alto. Patrícia sempre se tinha vestido discretamente, preferindo sempre o tradicional fato de trabalho, quando se tinha apresentações a clients ou a T-shirt e calças de ganga, pois o ambiente era informal, e os colaboradores da empresa podiam vestir-se como bem entendiam…

- Pedes imenso o quê? – disse Patrícia, quebrando o silêncio.

- Peço muita desculpa, Patrícia.. - disse Pedro, quebrando o estado de quase catatonia em que se encontrava. - ... por não ter praticamente falado contigo nos últimos dias. Não sei se sabias, mas as coisas com a Inês não estão a correr muito bem...

- Já imaginava que qualquer coisa tinha acontecido.. Não porque me disseste alguma coisa sobre isso, mas porque tenho visto como tens andado nos últimos tempos... Eu também não te fui pressionar, pois imaginei que precisavas de algum tempo para pôr as ideias em ordem... Mas sinto-me magoada pois pensava que era tua amiga e tu sabes que eu estava aqui para te ajudar no que precisasses.

- Patrícia, eu sei disso. Mas é por isso mesmo que estou a pedir desculpa. Sabes que não sabia o que te dizer.. nunca estive numa situação destas...

- Estás a referir-te ao facto de estares apaixonado por alguém e esse pessoa não querer estar contigo? Achas que és a primeira pessoa a quem isso aconteceu?

- Tens razão... Agora quer olho para trás, vejo que fiz mal em não ter confidenciado contigo. Achas que ainda vou a tempo de corrigir a situação?

- Sabes que não consigo resistir a esses olhos – disse Patrícia, ao mesmo tempo que não conseguia evitar um sorriso.

- Ainda bem... Achas que hoje à noite podíamos tomar um café... Precisava mesmo de desabafar com alguém sobre o que estou a passar com a Inês... Ficava-te muito grato se aceitasses o meu convite.

- Sabes que nunca perderia a hipótese de beber uns copos, ainda por cima sendo tu a pagar... mas já tenho um compromisso esta noite, logo depois de sair do escritório.

- Então, é por isso que estás assim vestida. Sabes que quando te vi ainda há pouco, não acreditava que eras mesmo tu... Pode-se saber com quem vais?

- Pedro... eu sei que somos amigos, mas não te tenho de contar tudo o que se passa com a minha vida amorosa... pelo menos, quando as coisas estão no início...

- Sim, eu sei... mas não tinha a ideia que estavas a sair com alguém... Não tinha reparado que estavas agora à procura de uma relação...

- Se tu te bem te lembras, nos últimos dias, não tens estado asssim muito presente na minha vida para saberes o que tem acontecido na minha vida.

- Pois... mas no espírito de abertura que decidimos há pouco entrar, acho que tu me podias dizer alguma coisa sobre com quem vais sair.

Patrícia notou a curiosidade do amigo e ainda pensou que pudesse ser um sinal de ciúmes dela estar com outra pessoa. Mas rapidamente percebeu que estava iludida e que ele apenas estava preocupado com ela, pois não queria que ela estivesse envolvido com a pessoa errada.

- Sabes que há uns tempos, cheguei à conclusão de que tinha de mudar a forma como estava a ver a vida... Tenho estado concentradíssima no trabalho e não me tenho preocupado em encontrar alguém com quem partilhar os meus sucessos no emprego... E percebi que já não valia a pena esperar que alguém que fosse a pessoa perfeita para mim caísse nos meus braços. Decidi deixar de esperar que o destino me juntasse a alguém e tomei a decisão de ir à procura da pessoa certa. Nem que isso implicasse sair com várias pessoas até descobrir o tal...

Patrícia fez uma breve pausa e continuou - ... mas ainda não o descobri... por isso, vou jantar com um amigo da minha melhor amiga que já há alguns anos ela achava que seria a pessoa perfeita para mim, mas que nunca me tinha apresentado, pois ela sempre achava que a minha dedicação ao trabalho nos ia acabar por separar... Mas lá a convenci de que as coisas agora estavam diferentes...

- Fico feliz por ti... Já achava que era a altura certa para encontrares alguém.. Alguém que te fizesse sorrir como a Inês tinha feito comigo nestas últimas semanas.

Patrícia sofreu internamente ao ouvir estas palavras, mas não deixou transparecer essas emoções na sua cara. O que Pedro não imaginava é que esta mudança que ela tinha decidido trazer à sua vida tinha resultado do facto dela ter percebido, que por mais que ela fizesse, Pedro nunca iria se apaixonar por ela. Ela tinha esperado tanto tempo por ele, até um dia ter visto que ela afinal se tinha apaixonada por outra rapariga... Ela sofreu quando percebeu isso e soube que era altura de seguir em frente com a sua vida e esquecê-lo. Mas sempre que ele falava-lhe de Inês, recordava-se sempre da paixão que tinha esmorecido, mas que não tinha ainda desaparecido do seu coração.

- Mas acho que tu não terias problemas em encontrar alguém... Não precisas de mudar o penteado ou de vestir essas roupas mais sexy. Quem te conhecesse como eu te conheço, apaixonaria-te por ti por quem teu és, e não pela tua aparência – completou Pedro.

- Não te importas então de deixar o café para amanhã à noite? – questionou Patrícia.
- Não há problema... Tu mereces esta noite...e amanhã, podemos falar não só de mim, mas também de como correu o teu encontro. Mas só te posso dizer que ele é um homem de sorte.
- Vamos ver se tens razão. Obrigado por teres vindo cá pedir desculpas.
- Eu é que te agradeço por me teres perdoado. Amigos outra vez?
- O que é que tu achas?... – disse Patrícia com um sorriso, que permitu a Pedro perceber que as coisas entre eles tinham voltado ao normal.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Capítulo 19 - o Fim?

Quatro dias se passaram, sem que Pedro tivesse tido qualquer novidade da rapariga que tanto tinha magoado. A muito custo, tinha conseguido conter os seus instintos e ligar-lhe. Seguia o conselho de Carlos, que lhe tinha aconselhado a esperar algum tempo para que Inês já estivesse mais calma e com a cabeça fria… Não valeria a pena insistir antes, sob o risco dela continuar a evitar atender os seus telefonemas…

E Pedro sentia que ainda não era altura de a pressionar novamente para falar com ele. Quando ela estivesse preparada, ela iria ligar-lhe… Era essa a esperança dele…

Estes dias permitiram-lhe pensar na sua vida… O tempo que esteve sem a presença dela, fez-lhe pensar que a sua vida estava vazia… Fazia exactamente as mesmas coisas antes de conhecer Inês, mas tudo parecia-lhe diferente… Faltava-lhe alguém com quem partilhar a sua vida…

O trabalho já não lhe dava tanto prazer como dantes… Às vezes, ficava em silêncio por alguns momentos e que qualquer pessoa percebia que a sua cabeça estava noutro sítio…

E Patrícia tinha sido uma das pessoas que tinha notado a transformação no seu amigo. Tinha desaparecido por completo aquele entusiasmo que estava presente em tudo o que ele fazia e que era notório nas últimas semanas…
E apesar dele ter acabado tudo com aquela rapariga, ela não se sentia tão feliz como ela pensaria… A causa do que estava a acontecer com Pedro não era ela… E imaginava que ele nunca iria sentir nada tão intenso por ela, como tinha sentido por Inês… E isso estava a magoá-la tanto como o facto da pessoa de quem gostava estava a sofrer…

E ainda por cima, o comportamento de Pedro com ela tinha sido diferente neste últimos dias… Ela não sabia porque Pedro tinha passado a ser mais reservado com ela e não lhe tenha desabafado com ela nesta fase mais complicada da sua vida… Ela era sua amiga e ele confiava nela… Mas ultimamente, ele quase não lhe dizia nada e sentia que os dois estavam a afastar-se, sem que ela soubesse o motivo. E começava a aperceber-se que mesmo sabendo que Pedro não a iria considerar mais do que uma amiga, queria estar com ele, mesmo que fosse só como amiga…

O que Patrícia não sabia era que Pedro, mesmo sabendo que a culpa não era da sua amiga, sentia que nada do que aconteceu teria acontecido se não tivesse ido almoçar com ela… Era um sentimento irracional, mas era o que sentia… Ele sabia que a culpa era dele, mas inconscientemente, também atribuía um pouco da culpa a Patrícia… Para além disso, sempre que a via, lembrava-se de Inês e da dor que sentia por não estar ao pé dela… Por isso, nestes últimos dias, ele tinha-se mantido relativamente afastado dela… Ela não merecia isso… Ela já o tinha apoiado tanto no passado e ele confiava nela… Mas a dor que sofria impedia-o de pensar de forma racional… Mas ele sabia que Patrícia iria perdoar-lhe pois era uma verdadeira amiga que sabia que ele estava a precisar de algum tempo sozinho e que quando ele precisasse da ajuda dela, ela estaria lá….

Ainda por cima, o seu nervosismo e a sua ansiedade não paravam de aumentar à medida que os dias passavam… O trabalho era a única coisa que o ajudava a passar os dias e mesmo assim, não conseguia parar de pensar no que se tinha passado… E o final do dia de trabalho chegava num instante, sem ele se aperceber.

Eram cerca das dez da noite quando Pedro chegou a casa… Hoje era uma daquelas noites em que só lhe apetecia deitar-se na cama, adormecer o mais rápido possível para que o amanhã chegasse depressa… Poderia ser que amanhã tivesse notícias de Inês…
Depois de ter jantado uma coisa rápida, deitou-se no sofa da sala….
Passado uns instantes tinha adormecido… As últimas noites não tinham sido fáceis, pois às vezes lembrava-se de algo que lhe fazia pensar na Inês e não conseguia deixar de pensar nela o resto da noite…
Tinham passado cerca de meia hora, quando despertou ao ouvir o seu telemóvel a tomar… Pegou no telemóvel e sentiu um friozinho na espinha quando reconheceu o número de Inês…

Estava agora com medo do que iria acontecer… Ele que tanto tinha ansiado por ter notícias dela, estava agora preocupado por ela querer falar com ele… Tinha medo do que ela poderia dizer… tinha medo da decisão que ela tinha tomado… Pedro começou a pensar que preferia não ter notícias dela mas acreditar que ela um dia iria voltar para ele, do que ouvir da boca dela as palavras que mais temia e por um ponto final na sua esperança de ser feliz com ela…

Pedro suspirou fundo e atendeu a chamada.

- Estou?
- Pedro?…
- Olá Inês… Sim, sou eu. – disse Pedro ao reconhecer a voz da rapariga que tanto amava. Porém, ele não conseguia perceber pelo tom de voz dela, o que ela lhe iria dizer…
- Sabes… Pensei muito nesta chamada, desde aquela noite… Mas…
- Eu também tenho pensado muito no que me irias dizer se me ligasses… e eu sempre imaginei no que aconteceria se não me desse uma oportunidade para explicar-me… Eu nunca conseguiria perdoar-me…
- Peço-te um favor… deixa-me dizer o que te tenho para te dizer…
- Desculpa… Devo-te isso…
- Sabes que tenho revivido na minha cabeça o momento em que te vi com aquela mulher.. e o momento em que me mentiste…
- Desculpa…
- Deixa-me terminar… e não consigo deixar de pensar no que me fizeste… Tinhas-me prometido que nunca me ias magoar… e eu acreditei em ti… Tu nem imaginas o que senti…
- Tens razão.. Tens toda a razão… Mas tens de saber que eu…
- Nem imaginas a dor que sentia no meu coração… a desilusão que tive em ti… o quanto eu me culpei por me ter deixado apaixonar por ti…

Pedro não conseguir dizer nada… Sentiu que naquele momento que não podia fazer nada para convence-la… Ela já tinha tomado a decisão… E ele não podia fazer nada para mudar a situação… Só lhe restava permanecer calado e aguardar que ela lhe dissesse o que lhe ia na alma….

- Mas vi que a culpa não era minha… Eu pensava que tu eras diferente… Mas foste tu que me mentiste… foste tu que estiveste com outra mulher sem me dizeres nada… E comecei a odiar-te pelo que me fizeste… Sentia que nunca te iria conseguir perdoar, por mais tempo que passasse…

Pedro começou a recear o rumo que a conversa estava a tomar… Sentia a fúria nos olhos dela, quando ela olhava para ele… Ele apenas podia desviar o olhar, mostrando que sabia o que tinha feito mal e que estava arrependido…

- Mas noutras vezes, dizia-me a mim própria que o que tinha visto tinha uma explicação… que tu devias ter uma boa desculpa para me teres mentido… que eu tinha tido razão no meu primeiro instinto quando pensei que tu eras uma pessoa diferente dos outros homens…

Pedro sentiu a esperança a voltar… Será que ela lhe tinha perdoado?… Ao ouvir o suave timbre de voz que saía agora dos lábios dela, sentiu uma sensação de calor no seu corpo…

- Mas acima de tudo percebi que eu sofri tanto apenas por um motivo… Eu estava realmente apaixonada por ti… E sentia que nós poderíamos ser felizes… Por isso achei que me devia a mim própria ouvir-te… Sabes que ainda não te perdoei pelo que me fizeste… Mas precisava de ouvir a tua explicação… E não seria justo da minha parte, tomar uma decisão sem te ouvir…

Pedro soube desta forma que ela ainda não estava completamente certa da sua decisão… E que tinha agora a última hipótese de recupera-la e não perdê-la para sempre. Ele sabia que tinha de ser completamente honesto com ela, ao contrario do que tinha feito há uns dias…

- …

Pedro sentiu alguma dificuldade em dizer o que queria… Tinha um nó na garganta , pois tinha medo de dizer alguma coisa que a pudesse afastar… Mas sabia que tinha de controlar o seu receio…
Após um breve silêncio, Pedro sentiu a sua voz voltar e apesar de já ter recriado esta conversa inúmeras vezes na sua cabeça, desde o momento em que que tinha magoado Inês naquela noite, não sabia como começar…

- Nem imaginas o quanto eu estou a sofrer por saber que te magoei… Eu nunca te deveria ter mentido e por isso peço-te desculpa… Mas tens de acreditar em mim… Aquela rapariga é uma das minhas melhores amigas, a Patrícia… Nós não somos apenas colegas, como também falamos várias vezes sobre a nossa vida pessoal um com o outro… Mas nada mais do que isso.

Inês ouviu estas palavras, sem deixar escapar um som… Não sabia se devia acreditar no que Pedro lhe estava a dizer… Ela queria tanto acreditar nele… e que aquela rapariga não era mais do que uma grande amiga dele e era esse o motivo pelo qual eles pareciam tão íntimos… Não que ela tivesse alguma vez tido uma amizade desse tipo com um rapaz… Tinha bons amigos, mas nunca alguém com quem tivesse tal confiança para contar certas partes da sua vida… Para isso tinha as suas amigas….
Mas a desconfiança nunca desapareceu completamente da sua mente… Apesar dele lhe parecer estar a ser o mais sincero possível…

- Eu não te devia ter mentido… Aliás, nem sei porque o fiz, pois não estava a fazer nada que não devesse… Ela não é mais do que uma amiga e nunca senti nada por ela.. Aliás, quase te posso garantir que ela nunca pensa em mim dessa forma… Mas damo-nos muito bem e ela era uma das primeiras pessoas que eu gostaria que tu conhecesses, pois ambas significam muito para mim…

Infelizmente, Inês estava a acreditar nas palavras de Pedro. Ela sentia no seu íntimo que ele estava agora a ser honesto com ela e que ele e aquela rapariga eram apenas amigos. Sentiu-se aliviada, pois um dos seus medos era o facto de Pedro gostar de outra pessoa e que tudo o que ele lhe tinha ditto no passado eram simplesmente mentiras… Mas mesmo assim, ele tinha-lhe mentido… Depois do que tinha passado com o Alfredo, ela não conseguia perdoar-lhe a quebra da sua confiança... Ele tinha-lhe mentido, tal como o Alfedo e tal como grande parte dos seus anteriores namorados… Ela tinha confiado neles e tinha sempre prometido que isso não iria acontecer novamente…. Mas sempre esquecia a sua promessa e pensava que a pessoa em questão era diferente de todas as outras… E tinha sempre acabado por voltar a sofrer… Por isso, sentia uma grande relutância em deixar Pedro entrar novamente na sua vida…

- Eu sei que te magoei… E peço imensa desculpa por isso… Mas estou agora a dizer-te a verdade… Eu amo-te muito e não me consigo imaginar a viver sem ti… Tenho sofrido imenso nestes ultimos dias por não me teres respondido às minha chamadas… E quando imagino o meu futuro sem ti, fico com um vazio tão grande que tu nem imaginas…
- Era o que eu também sentia por ti… até me teres enganado – interrompeu Inês após o longo monólogo de Pedro, com alguns soluços pelo meio… As lágrimas tinham chegado aos seus olhos e as emoções estavam a vir ao de cima…
- Inês, se tu ainda gostas de mim, deves-te a ti própria dar-me mais uma oportunidade… Prometo-te que nunca mais te vou mentir…
- Mas o que me vale a tua palavra? Não sei se consigo acreditar novamente em ti após o que aconteceu… Tu perdeste a minha confiança e não sei se alguma vez a conseguirás recuperar…
- Eu sei que fiz algo de errado, mas estou disposto a tudo para não te perder… Faço tudo o que quiseres para não sair da tua vida…

Inês sentiu que não estava em condições para tomar agora uma decisão… Naquele momento, o seu coração dizia-lhe que devia aceita-lo de volta, pois também ela não aguentava estar longe dele… E dizia-lhe que ele também a amava dela e que ela a única mulher da vida dele… Mas a sua cabeça dizia-lhe que ela devia deixar de pensar nele, pois ele tinha-lhe mentido antes, pelo que ela ia estar sempre na dúvida no futuro se devia acreditar nele… E qualquer relação em que não exista confiança estaria condenado ao insucesso, por mais que duas pessoas gostassem uma da outra…

- Tudo? – perguntou Inês.
- Sim, tudo o que tu pedires… Faço tudo o que for preciso para mostrar-te que podes confiar em mim… Tu vales esse sacrifício…

Fez-se um silêncio durante uns breves segundos…Inês já tinha tomado uma decisão antes de ligar a Pedro… Mas tinha prometido a si própria ouvi-lo antes de lhe comunicar o que tinha decidido… Mas as coisas tinham mudado… E apesar do seu conflito interior, tomou a sua decisão final… Não sabia se seria a decisão mais correcta, mas naquele momento, pareceu-lhe que seria a única coisa que poderia fazer, para não sair magoada no futuro…

- Acho que só existe uma forma de voltar a confiar em ti… Tu tens de conquistar a minha confiança aos poucos… E acho que só existe uma forma de fazer isso…
- Qual? O que tenho de fazer?
- Não estou preparada para ter uma relação com alguém que me magoou… Acho que não te conheço verdadeiramente… As minhas emoções por ti, fizeram com que eu criasse uma imagem de ti. Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras…

Pedro começou a ficar assustado com estas palavras… Não tinha ideia para onde esta conversa ia… E começou a ficar receoso de a ter perdido para sempre…

- Mas sou… Peço-te mais uma… - disse Pedro, antes de ser interropido.
- Deixa-me terminar… Eu mereço isso, depois do que me fizeste… Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras… Mas se calhar até és… E a única forma de eu saber quem és, é conhecer-te melhor… E não estou preparada para me envolver emocionalmente contigo, sem isso.
- E o que sugeres?
- Tu mereces uma segunda oportunidade. E eu gosto de ti, pelo que não te quero fora da minha vida. Por isso, acho que nós deveríamos ser apenas amigos… Dessa forma, eu irei conseguir saber se tu conseguirás reconquistar a minha confiança…
- Se essa for a única hipótese de estarmos juntos… então eu aceito… Mas eu prometo-te agora que isto não irá demorar muito tempo… Tu sabes que nós fomos feito um para o outro e vou mostrar-te que sou merecedor da tua confiança… E nós voltaremos a estar juntos… Mas por agora, aceito as tuas condições… Amigos, hum?
- Sim, apenas amigos… - suspirou Inês, mesmo antes de terminar a conversa com Pedro…

domingo, agosto 08, 2010

Capítulo 18 - O dia seguinte – Parte II

Eram nove da manhã e Inês ainda continuava na sua cama. Tinha passado a noite toda em claro, pois não tinha conseguido parar de pensar no que tinha acontecido. Logo após ter chegado ao restaurante, tinha desabafado por telemóvel com a Rita o que tinha passado. Esta não pode fazer mais nada do que tentar consolá-la. Sentia-se muito triste pela sua amiga, pois nos últimos tempos ela tinha estado a recuperar do que se tinha passado e pensava mesmo que as coisas iriam corer bem com ela.

Entre soluços e lágrimas, as duas prometeram combinar encontrar-se no dia seguinte. Rita sabia que tinha de dar apoio à sua amiga, sob o risco de acontecer o que tinha acontecido na outra vez que aconteceu uma coisas destas.

A noite foi complicada para Inês. Não conseguia parar de reviver na sua cabeça as palavras de Pedro ao jantar… as mentiras que ele tinha contado… as mentiras esfarrapadas com que ele tentou justificar-se. O pior de tudo é que ela ainda gostava dele…

Mas já tinha sofrido tanto no passado com alguém que lhe tinha mentido. E tinha jurado que nunca iria deixar quem um homem a enganasse e a magoasse novamente… E não compreendia porque o Pedro, que tanto lhe tinha prometido que não a iria magoar, lhe tivesse mentido… Ele até poderia ter uma boa explicação para ter beijado aquela mulher na face com intimidade… Mas ele mentiu-lhe na sua cara… olhos nos olhos…
Porque teria feito tal coisa? Será que tinha alguma razão para me esconder alguma coisa?

A insegurança começou a assaltar a cabeça de Inês… Muita coisa passou pela sua cabeça durante a noite… mas quanto acordou de manhã, não se lembrava do que tinha pensado durante a noite… A única coisa de que se lembrava era da forma como Pedro a tinha enganado… Inês não sentia forças para se levantar da cama… Estava não só magoada com o que lhe tinham feito, mas estava também deprimida por ter perdido alguém com que achava que seria feliz…

A muito custo levantou-se da cama e foi tomar um duche… Normalmente, costumava tomar o duche rapidamente por forma a ir logo para a faculdade, pois tinha o mau hábito de chegar atrasada… Mas desta vez deixou-se ficar quase meia hora, sujeita ao jacto forte que vinha do chuveiro, pois permitia-lhe não pensar.. E era isso mesmo que ela desejava… Não pensar no que tinha acontecido ontem… Não pensar nos motivos que tinham levado Pedro a mentir-lhe… Não pensar no que iria fazer agora…

Mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria de enfrentar a realidade… E pior do que tudo… teria de enfrentar o Pedro….

Mas para isso tinha de aconselhar-se com a Rita. Tinham combinado encontrar-se num pequeno café perto da sua casa e sabia que a sua amiga lhe iria ajudar a ultrapassar esta fase mais complicada. Quando chegou ao café, a sua amiga já lá estava e levantou-se por forma a dar-lhe um abraço…
As lágrimas começaram a jorrar-lhe dos olhos e Inês não conseguia parar de chorar… Mas o facto da sua amiga lá estar para a ajudar, fê-la acalmar-se um pouco, permitindo-lhe perguntar à sua amiga o que deveria ela fazer…

- Inês.. tu já sabes a minha opinião… Tu já sofreste tanto com o Alfredo… Quer um, quer o outro já te magoaram bastante…
- Eu sei… Mas eu ainda sinto algo pelo Pedro… Eu sei que não deveria perdoar-lhe pelo que ele me fez… Mas e se a culpa foi minha?
- Inês!!! Como é que podes sequer imaginar que a culpa foi tua? Ele é o único culpado do que aconteceu… O que é que tu poderias ter feito para que ele não te mentisse?
- Não sei… Mas estava tudo a corer tão bem… Não consigo perceber o motivo pelo qual ele fez aquilo… Eu tenho de saber… Tenho de lhe ligar e perguntar…
- Não faças isso a ti propria… Ele não merece… Eu sei que posso estar a parecer um pouco dura contigo e com ele, mas tu sabes que se eu não fizesse isso, tu voltarias logo a corer para ele… Não lhe deves ligar… Ele sabe o que fez… Tem de ser ele a tomar a iniciativa…
- Mas ele tem tentado ligar-me desde ontem à noite… E só penso que ele me queria dizer… Ele de certeza que iria tentar pedir novamente desculpa…
- Muito provavelmente sim… Mas isso muda alguma coisa do que ele te fez?

Inês não respondeu porque sabia que Rita tinha razão. Ela era a sua guia nestes momentos mais difíceis… pois ela sabia que ela própria tinha grandes dificuldades em pensar com a cabeça, pois era o seu coração que normalmente falava mais alto… E tinha sido isso que lhe tinha feito custar tanto recuperar da traição do seu anterior namorado…

- Inês… Tu sabes bem que se ele te enganou agora, se o aceitares de volta, existem grandes probabilidades dele voltar fazer a mesma coisa…
- Sim… Eu sei… Mas tu não tens ideia do quanto gosto dele…- disse Inês, mostrando grande mágoa na sua voz…
- Acho que sei… Nunca te tinha visto tão feliz como estavas nos últimos tempos… Mas tens de pensar claramente.. Dar algum tempo ao tempo para reflectir se quererás mesmo te-lo de volta na tua vida…
- Mas e se ele continuar a ligar-me?
- Deixa-o continuar… Ele também tem de sofrer pelo que te fez… E se ele realmente ainda sente algo por ti, ele também irá aprender que não te pode tratar como te tratou e esperar que o perdoes agora… Se ele ainda está interessado em ti, não se importará de esperar o tempo que for necessário até tu seres capaz de falar com ele o que se passou…
- Tens razão… como habitualmente. Acho que tenho mesmo de estar longe dele, por uns tempos… Mas ele não me sai do pensamento…
- Eu sei… Mas tens de ocupar o teu tempo nos próximos tempos com outra coisa, para que a tua cabeça pense noutra coisa para além dele… A Dora não nos tinha convidado para ir amanhã com ela à terra dos pais dela? O que achas de irmos as duas com ela?… Sempre dava para espairecer um pouco… Costuma ser tão calmo por lá…
- Mas tu não ias este fim de semana àquele concerto do Jack Johnson? Para o qual tinhas esperado não sei quantas horas na fila para comprar o bilhete?
- Minha querida… O que tu achas que é mais importante para mim? Ir a um concerto ou estar contigo neste momento que tanto precisas?
- Nem sei o que faria sem ti, amiguita…
- Não penses mais nisso… Vamos é ligar à Dora e dizer que afinal vamos com ela… E de seguida vamos fazer as malas para alguns dias…
- E o Pedro? O que faço enquanto estiver fora?
- Não vais fazer absolutamente nada… Quando voltares, logo se verá… Talvez nessa altura já estejas preparada para falar com ele…


Inês assentiu com a cabeça… Ligaram logo à sua amiga que ficou radiante com o facto de ter a companhias de duas das suas melhores amigas com ela.

O resto do dia não foi fácil… Mesmo tendo a preocupação de fazer as malas para ir logo de manhã no dia seguinte para fora , Inês continuou a pensar no futuro da sua relação com Pedro… Se é que ainda haveria alguma hipótese de um futuro para os dois depois do que ele lhe tinha feito…

A partir da hora de jantar, Inês começou também a pensar no motivo pelo qual ele já não lhe tinha tentado ligar desde a madrugada desse dia, se bem que não tinha quaisquer intenções de atender a chamada… A insegurança tinha voltado novamente ao seu pensamento… Estava mesmo a precisar de passar uns dias com as suas amigas longe de tudo e de toda a gente e pensar no que iria fazer... Mas neste momento, muitas coisas passavam pela sua cabeça... a dor causada por Pedro... os motivos dele ter mentido... se iria aceitar as desculpas dele... se ele ainda estava interessado nela... o que ele sentia pela rapariga que estava no restaurante... porque ele não lhe tinha ligado novamente,,,

E foi nesta ângustia permanente que Inês passou a noite inteira até finalmente adormecer a altas horas da madrugada, sem ter tido qualquer notícia de Pedro...