Pedro sentia-se algo ansioso. Tinha ligado a Inês no dia anterior por várias vezes e ela não tinha nem atendido, nem devolvido qualquer das suas chamadas. Ele começou a ficar preocupado, uma vez que a última vez que tinha falado com ela tinha sido há cerca de duas semanas.
Tinha sido uma breve conversa por telemóvel, em que ela lhe tinha dito que andava muito ocupada por causa de um projecto novo na empresa em que trabalhava. Estava a ser uma altura muito stressante para ela e ela tinha prometido ligar-lhe para combinar alguma coisa quando as coisas estivessem mais calmas. Mas duas semanas tinham-se passado sem que ela tivesse dado qualquer sinal de vida.
Ele então engoliu o orgulho e tinha ligado-lhe no dia anterior, mas sem qualquer sucesso, o que começava a causar-lhe alguma apreensão. E esse estado de espírito estava a ser notado pelos seus colegas, nomeadamente por Carlos e por Patrícia.
- O que achas que se está a passar com ele? – perguntou Patrícia a Carlos, que já sabia a resposta para a pergunta que tinha feito.
- Não faço ideia… De há duas semanas para cá, nota-se que ele está preocupado com qualquer coisa… e tenho a ideia que nós dois sabemos com o quê… ou mais propriamente, com quem. – respondeu Carlos, que também sabia que só podia ser essa a causa da angústia do seu amigo.
- Pois… Ela!!! – disse Patrícia, com um tom demasiado seco, situação que não passou despercebida ao seu colega.
- Não sejas assim. Ela é uma óptima rapariga. Aliás, tu até já falaste mais com ela do que eu e deves ter percebido isso.
- Tens razão… mas isso não é motivo para ela tratá-lo desta forma. Ele merece melhor. Se fosse eu… - começou Patrícia, antes de instintivamente interromper a sua frase, pois ia dizer mais do que devia.
- Uhm… Se fosses tu? O que queres dizer com isso? – disse Carlos com um ar malacioso.
- Esquece… Só te digo que ninguém o deveria fazer sofrer assim…
- Mas isto é bom para ele. Para ele aprender que não tem o mundo a seus pés e que às vezes tem de ter paciência para conseguir o que quer.
- Vamos ver… - suspirou Patrícia, que mais uma vez ficou com esperanças de que Inês se tivesse desinteressado de Pedro e abrisse uma porta para ela. Apesar das coisas estarem a correr bem com o Miguel, quem ela realmente amava era o Pedro.
Olharam então ambos para Pedro, que continuava a fazer o seu trabalho, mas com um ar desconsolado. Ele já não se conseguia concentrar no seu trabalho, pois só pensava nos motivos pelos quais Inês o estava a ignorar… Será que ela estava mesmo ocupada com o trabalho. Ou seria apenas uma desculpa para não o ver? Ele confiava nela, mas a incerteza estava constantemente presente na sua mente. Por mais que o não quisesse admitir, o medo de perder Inês para sempre era cada vez maior. Ainda por cima, ela tinha-lhe dito na última conversa que estava a dar-se cada vez melhor com o tal colega dela, o Diogo. Será que ela se tinha apaixonado por ele? Por mais inverosímil que essa situação lhe parecesse, tudo poderia ser um motivo para o distanciamento de Inês.
E o que podia ele fazer? Já lhe tinha ligado várias vezes sem sucesso e ligar-lhe mais uma vez, podia levar a que Inês considerasse que ele não estava a respeitar o seu espaço.
Pedro respirou fundo e tentou concentrar-se novamente no seu trabalho. Sim, tentou era a palavra mais correcta, pois durante o resto do dia, por mais que o quisesse evitar, o seu pensamento desviava para o motivo da ausência de qualquer resposta dela.
No final do dia, antes de ir para casa, depois de ter reparado que não tinha feito o que tinha planeado fazer, Pedro suspirou e resignou-se à situação. Não podia fazer nada para obrigar Inês a falar com ele, nem poderia tentar ligar-lhe novamente tão cedo. As suas opções estavam profundamente limitadas e apenas podia esperar. A sua insegurança começava a abalar a sua confiança. Não… Não era a primeira vez que ela demorava a responder aos seus telefonemas. Mas isso não fazia com que custasse menos.
Mas Pedro não teve de esperar muito mais. Nessa noite, após o jantar, quando já se encontrava refastelado no sofá da sua sala, a ver um jogo de futebol do campeonato argentino para tentar evitar pensar nela, o seu telemóvel tocou.
Inicialmente, ele não tinha ouvido o toque, que era actualmente o Yellow dos Coldplay, para condizer com o seu estado de espírito. Após ter chegado do emprego, tinha deixado o telemóvel no seu quarto. Mas por algum motivo que ele não soube explicar, ele teve a sensação de que poderia ter recebido alguma chamada no telemóvel e decidiu por descargo de consciência confirmar que não tinha nenhuma chamada perdida.
Mas não era esse o caso. No visor do seu telemóvel, viu que tinha duas chamadas não atendidas de Inês. O seu coração começou a bater mais rápido e a sua ansiedade aumentou, com a expectativa de falar com ela novamente. Mas ele sabia que tinha de manter-se calmo. Por isso, respirou fundo antes de ligar-lhe.
- Oi – disse Pedro, após Inês ter atendido a sua chamada.
- Olá. Já vi que está muito complicado falar. – disse ela, não evitando um riso que desconcentrou Pedro completamente, gorando qualquer tentativa dele se manter tranquilo e calmo. O quanto ele sentia a falta de ouvir a voz e o riso dela.
- Parece que sim. Mas ainda bem finalmente temos a oportunidade de por um pouco a conversa em dia.
- Sim… Desculpa lá ter-te ignorado nos últimos tempos, mas o trabalho tem estado impossível. O dia passa a correr e quando chego a casa quero apenas tomar um banho relaxante e ir dormir.
- Sim, percebo perfeitamente. – disse Pedro, que embora no seu íntimo percebesse a situação, também não gostava da sensação de ansiedade provocada pelo facto dela não lhe atender as chamadas.
- Infelizmente, este projecto é coisa para durar ainda mais algum tempo. Aliás, não posso falar contigo muito tempo, pois tenho de voltar ao trabalho. O meu colega já me está a fazer sinais de que tenho de me despachar. E ele é muito controlador neste tipo de situações.
- Ainda estás a trabalhar a esta hora? Estás aí sozinha com o teu colega?
- Alguém está a ficar com ciúmes… – troçou Inês. Sim, estou sozinha aqui com ele, mas estamos a trabalhar…e muito, infelizmente… Mas mesmo que não estivesse, não tinhas nada a ver com isso. Não te devo explicações nenhumas.
- Sim. Tens razão. Mas quando eu perguntei-te, não foi pelo motivo que estavas a pensar – tentou Pedro disfarçar.- Estava apenas preocupado com a tua segurança… nunca se sabe quem pode aparecer aí durante a noite.
- Claro, claro… Foi só mesmo por isso – exclamou Inês, não escondendo a ironia nas suas palavras. – Mas estava a ligar-te pois vou ter o dia de folga no Sábado e queria saber se querias combinar um almoço. Aviso-te que não sei quando irei ter tempo novamente para por a conversa em dia contigo.
- Uhm… Deixa-me consultar a minha agenda. Bem, tinha aqui um blind date com uma super-modelo para Sábado conhecida de uns amigos, mas vou mudar para o jantar. Afinal, tenho de aproveitar a tua disponibilidade.
- Já vi que continuas engraçadinho como sempre.- Ficamos então combinados?
- Combinadíssimos. Então, depois marcamos o sítio. Ainda ficas a trabalhar?
- Sim – disse Inês com uma voz desconsolada.- A noite é ainda uma criança.
Após Inês ter desligado, Pedro sentiu uma sensação de alívio. Não estava mesmo à espera que ela lhe ligasse essa noite para combinar um encontro com ele. Sim, era apenas como amigos, mas mesmo assim, ela podia muito bem ter escolhido outra pessoa para passar o pouco tempo livre que ela tinha disponível.
Um sorriso não deixou de estar presente na cara de Pedro durante o resto da noite. Aliás, durante o resto da semana. Ele gostava mesmo a sério dela. A sensação de vazio na sua vida quando não estava com ela era demasiado grande e ele não queria que essa sensação permanecesse. Mas estava tudo nas mãos dela.
E foram estes pensamentos que estiveram presentes na mente de Pedro até ao dia do almoço. Como habitual, ele tinha chegado primeiro que ela ao restaurante e aproveitou esse tempo para pensar em como as coisas poderiam correr naquele dia. Ele já lhe tinha dado algum tempo e as coisas estavam a correr bem. Mas por quanto mais tempo teria ele de esperar? Ele não a queria pressionar, mas aquela sensação de impotência para mudar as coisas estava constantemente na sua cabeça.
Mas a sua reflexão foi interrompida quando Inês chegou finalmente. Ela estava linda, com um top branco pouco revelador e uma pequena saia preta que lhe ficava muito bem. Mas ela podia ter-se vestido com um saco de batatas que ele acharia-a linda na mesma. Ele estava contente só de estar com ela e ter a oportunidade de olhar para o seu rosto e para os seus olhos.
- Desculpa o atraso – disse Inês, ao mesmo tempo que lhe dava um ligeiro beijo na face.
- Não há problema. Já estava à espera. – respondeu, ao mesmo tempo só pensava nas saudades que tinha do aroma suave do perfume dela.
- Pois… Há coisas que nunca irão mudar – disse Inês, com um sorriso contido.
- Eu sei… Mas é daquelas coisas que fazem parte de ti e tu não serias tu se não fosses assim.
- Não percebi se isso foi um elogio ou não.
- É melhor não saberes. – Pedro já sentia imensa falta destas provocações e sentia que esse sentimento era retribuído. – Mas já vi que estás com umas olheiras enormes.
- Pois… o que é que hei-de fazer? O trabalho não pára e ainda irá continuar mais umas semanas. O tal projecto de que te tinha falado vai-se prolongar ainda mais e terei de aguentar.
- Sim… eu percebo. – disse Pedro, tantando mostrar empatia pela situação.
- Não tem sido nada fácil. O que vale é que eu e o Diogo estamos a dar-nos cada vez melhor o que tem ajudado a passar o tempo.
Uma sensação de cíumes atravessou por completo o corpo de Pedro. Esse tal de Diogo era o tal colega com que ela estava a passar as últimas noites. Ele nunca se sentira ameaçado, pois ela sempre lhe tinha dito que ele era um colega antipático e que não falava com ela, mas parecia que as coisas estavam a mudar. Ele estava a sentir-se um pouco ciumento, mas infelizmente, não podia dizer nada a Inês, pois ambos eram apenas amigos e sabia que qualquer insinuação da sua parte apenas iria conduzir a discussões entre os dois. Eles tinham estado tão pouco tempo juntos nos últimos tempos, que não queria perder tempo a discutir com ela. Preferia aproveitar e disfrutar estes breves momentos com ela.
- Ainda bem. É sempre mais fácil trabalhar com alguém com que nos damos bem.
- Sim… é mesmo isso. E ao contrário do que eu pensava, ele é uma pessoa bem mais acessível do que pensava. È é demasiado introvertido, mas quando se dispõe a abrir para alguém, não é assim tal má pessoa.
- Ainda bem para ti. – Pedro estava a ficar cada vez mais desconfortável com a conversa, pelo que desviou a conversa para outros temas, que não implicassem a menção ao colega de Inês.
Durante o almoço, os dois passaram mais tempo a conversar do que a comer os pratos que tinham pedido. Tal como antigamente. Os dois não paravam de rir e quem os visse naquele momento não teria qualquer dúvida que eram um casal que já estava junto há muito tempo.
Pedro queria que este almoço se prolongasse para sempre. Há algum tempo que não estava com ela e sabia que enquanto fossem apenas amigos, ele apenas iria estar com ela esporadicamente. E isso não era suficiente. Ele precisava de estar mais tempo com ela, pois era a única altura em que ele se sentia verdadeiramente feliz. Mas não sabia o que ela estava a pensar.
Ele esperava já ter-lhe provado que ela poderia confiar nele novamente, mas ela nunca tinha feito qualquer referência a esse facto. E os dois foram feitos um para o outro. Mas enquanto fossem apenas amigos, ele corria o risco de outra pessoa arrebatar o coração dela. E ele não podia correr esse risco. Tinha uma decisão difícil a tomar. Mas soube que tinha arriscar. Não a queria pressionar, mas já era o momento ideal para saber o que ela sentia.
- Mas posso fazer-te uma pergunta? – disse Pedro com um ar um pouco mais sério.
- Claro… Diz… Eu é que posso não responder-te – respondeu Inês com um sorriso.
- Achas que… - Pedro interrompeu o que ia dizer, pois teve segundas dúvidas sobre se estava realmente a tomar a atitude correcta. Mas sabia que tinha de dizer o que lhe ia na alma e arriscar. - … já me perdoaste ? Já confias em mim?
Inês receva este momento já há algum tempo. Sabia que os sentimentos de Pedro não tinham desaparecido e por mais que ainda gostasse dele e por mais que ele já lhe tivesse demonstrado que tinha mudado e que estava disposto a esperar por ela, ainda não confiava totalmente nele. O facto de ter aberto o seu coração e ter sido magoada por um homem novamente ainda não tinha sido totalmente ultrapassado. Ela achava que os dois ainda seriam felizes juntos no futuro. Só precisava de mais algum tempo. Uma parte de si dizia para aproveitar este momento para reatar com Pedro. Mas a parte do seu coração que tinha sido magoado e que ainda não tinha recuperado totalmente, pedia-lhe mais algum tempo. Dizia-lhe que se ele gostava mesmo dela, iria respeitar a sua decisão e esperar até que ela estivesse preparada. Não era fácil abrir o coração mais uma vez, pois as cicatrizes da ferida que ele lhe tinha causado ainda permaneciam.
- Sabes… essa é uma pergunta complicada. Sim, já te perdoei o que me fizeste.
- Mas? – Pedro sentiu pelo tom de voz dela, que iria existir um mas.
- Mas…acho que ainda preciso de mais algum tempo. Tu sabes que eu gosto de ti. Mas…
- Sim, eu sei. E é por isso que acho que era altura de nós juntarmos novamente. Para mostrar-te que as coisas serão diferentes desta vez.
- Mas ainda não estou preparada. E tu disseste que estavas disposto a esperar.
- Inês… Tu sabes que eu gosto de ti. Mas não posso esperar para sempre. Não posso ficar com a minha vida parada indefinidamente, à espera que tu te decidas. Uma coisa é pedires-me um mês, ou três ou seis meses. Outra coisa é estares à espera que eu esteja para sempre à espera de ti. – Pedro sentia a dureza nas suas palavras, mas não tinha conseguido conter-se mais. Ele amava Inês, mas precisava de alguma sinal dela que ela iria voltar para ele, mais cedo ou mais tarde. Ele não queria ser apenas amigo dela. Isso ela já sabia. Mas se não existisse nenhuma hipótese dela lhe perdoar, então o que estavam eles a fazer?
Ele já lhe tinha dado algum tempo para ela tomar uma decisão. Mas hoje, ela tinha-lhe pedido mais tempo. Não, ele não podia continuar a viver assim. À espera que ela lhe ligasse. À espera de que ela lhe devolvesse a chamada. Ele precisava dela na sua vida. Mas se ela não fosse nunca esquecer o passado, porque é que ele haveria de estar nesta incerteza permanente em vez de seguir com a sua vida?
- O que queres dizer com isso? Estás a fazer- me um ultimato? Ou aceito voltar para ti, ou não esperas mais por mim? – notava-se pela voz de Inês que ela estava a começar a ficar exaltada.
- Não, não era isso que eu te queria dizer. Eu já esperei tanto tempo por ti, que posso esperar mais algum tempo. Mas queria era saber se esse dia irá chegar eventualmente.
- Pedro… Não te consigo prometer nada. Eu gosto de ti, mas ainda não estou preparada. Neste momento, apenas consigo ser tua amiga. E se para ti isso não é suficiente, talvez seja melhor não nos vermos mais.
- Inês… tu sabes que eu estou disposto a esperar por ti. Se agora apenas estás preparada para ser minha amiga, então amigos seremos.
Pedro soube que as coisas não seriam mais as mesmas, como se comprovou pelas conversas que tiveram até ao final do almoço.
Tinha decidido arriscar, mas as coisas não tinham corrido como gostaria. Talvez até a tivesse afastado ainda mais. Foi um risco que tinha decidido correr. Pedro lamentou-se da decisão que tinha tomado. Se tivesse ficado calado, talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Mas na vida, em certas ocasiões surgem encruzilhadas. E Pedro sabia que se não tivesse dito nada, corria o risco de perdê-la para outra pessoa. Assim, ao menos ela ficava a saber o que ele sentia. Mas Pedro sabia que teria de viver com as consequências deste acto para o resto da sua vida…
2 comentários:
Muitooo bom pelo menos essa parte que li...é um livro?
nao achei graca
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