quarta-feira, agosto 11, 2010

Capítulo 21 - Um novo começo?

Pedro ficou satisfeito por ter conseguido resolver as coisas com Patrícia. Ele sabia que ela não conseguia não lhe perdoar, pois eram verdadeiros amigos e seria preciso algo muito grave para os afastar a sério. Ele só podia estar verdadeiramente agradecido por ter uma amiga assim. Mas Pedro nem teve tempo de pensar mais, pois foi chamado de urgência para uma reunião que um dos maiores clientes da empresa tinha marcado.

Patrícia, por sua vez, não conseguia deixar de pensar na conversa que tinha tido. Sentiu-se desconsolada por ter finalmente percebido que Pedro nunca iria deixar de pensar em Inês, mesmo que ela não quisesse nada com ele. Mas lá no seu íntimo, já tinha interiorizado essa situação. Tinha de seguir em frente com a sua vida e era por esse motivo que tinha um “blind date” combinado por uma das suas amigas. Ela nunca na vida imaginava que alguma vez iria jantar com alguém que não conhecia, mas tinha decidido que a melhor forma de esquecer a paixão que tinha por Pedro, seria tentar encontrar outro homem que enchesse o vazio que existia no seu coração. E quem melhor do que uma das suas melhores amigas para a ajudar a encontrar alguém com quem ela se desse bem. E ela tinha ouvido muito bem desse homem, pelo que ela esperava não ficar desiludida. E principalmente, esperava que ele não ficasse desiludido com ela.

Já há algum tempo que ela não tinha um encontro com um homem... E toda a gente sabe quão difíceis são os primeiros encontros, prncipalmente com pessoas que não conhecemos muito bem. Existe sempre aquela preocupação de tentar perceber como é a pessoa que está sentada do outro lado da mesa, no meio da conversa habitual que se costuma ter nestas ocasiões. Todos tinham sempre a preocupação de não entrar em conversas muito íntimas e pessoais, pois ainda era muito cedo para isso. Mas não podiam cair no erro de ter conversas muito gerais, que não captassem o interesse da outra pessoa. Em resumo, os primeiros encontros não eram fáceis e ela só esperava que tudo corresse bem. Mas tudo seria diferente se o encontro fosse com Pedro... Ele já a conhecia tão bem, que as coisas seriam muito diferentes. Mas já era altura de deixar de pensar nele... Era difícil, mas Patrícia sabia que era a coisa correcta a fazer.

E foi com estes pensamentos que Patrícia passou o resto da tarde, antes de ir para o restaurante que a sua amiga tinha escolhido para o encontro.

***


Pedro chegou ao escritório de manhã, atrasado como sempre. Não tinha nenhuma campanha urgente em curso, pelo que podia gerir o seu horário como mais lhe conviesse. Lembrou-se que tinha de ver se Patrícia estava disponível para tomar o tal café com ele à noite. Era uma oportunidade para saber como tinha corrido o encontro dela no dia anterior e também para conversar um pouco sobre Inês.

Mas ele estranhou, quando reparou que ela ainda não tinha chegado ao escritório. Era estranho, uma vez que ela era sempre uma pessoa muito certinha e que era das primeiras pessoas a chegar todos os dias ao escritório e uma das últimas a sair. Realmente, não era uma situação nada habitual, o que apenas o fez ficar mais curioso sobre o que se tinha passado na noite anterior com a sua amiga. O que teria acontecido para ela não ter ainda chegado?

Pedro foi obrigado a concentrar-se no trabalho, pois tinha naquele momento uma reunião com os colegas por causa da nova campanha. Mas durante toda a reunião, ficou sempre intrigado por ainda não ter visto a amiga.

Mas ficou mais descansado ao final, quando terminada a reunião, viu que Patrícia já estava na sua mesa. E se não fosse impossível, ainda mais atraente do que no dia anterior, com um vestido vermelho com um decote que mostrava muito mais do que Pedro achava que Patrícia seria capaz de mostrar em público.

- Já vi que a noite de ontem correu bem... Para só teres chegado a estas horas- perguntou Pedro.
- Isso é o que tu querias saber... mas eu não sou daquelas raparigas que beija e conta...
- Já vi que aconteceu aí qualquer coisa... mas realmente, queria saber se hoje então querias tomar um café ao final do dia, para conversarmos um pouco. Claro que se tiveres um novo encontro marcado para hoje à noite eu compreendo que querias adiar...
- Por acaso, hoje tenho a minha agenda livre e posso encaixar-te...
- Só posso agradecer, pois imagino que o teu tempo livre é muito disputado.
- Tu nem imaginas... mas lá te faço um favor por seres um velho amigo... E agora deixa-me trabalhar que tenho um apresentação à tarde e estou um pouco atrasada.
- Cá está a Patrícia do costume... – disse Pedro à sua amiga, antes de ir para a sua secretária.

Patrícia voltou ao trabalho, mas não conseguia deixar de se lembrar da noite passada.

A noite tinha tudo para correr bem. Quando chegou ao restaurante, deparou-se com um homem bem parecido e muito charmoso. E acima de tudo, muito atencioso para com ela, mesmo sendo aquela a primeira vez que se estavam a encontrar. E se ela pensasse que ele era apenas um homem atraente na casa dos 30, estava muito enganada. Como veio acabar por descobrir, ele era também muito bem sucedido a nível profissional, pois era o sócio principal de uma pequena empresa de software que ele tinha criado e que tinha crescido bastante, sendo que se ele quisesse já se podia reformar. Mas ele gostava de se manter ocupado e por isso ainda continuava a fazer parte da equipa de desenvolvimento dos projectos.
Tinha sido esse um dos principais motivos para ele ainda ser solteiro naquela idade... ele, tal como ela, tinha-se dedicado de corpo e alma ao trabalho e o tempo livre era escasso e como tal nunca tinha dado a primazia à vida pessoal. Ainda por cima, o pouco tempo livre que ele tinha era também passado em algumas actividades de voluntariado, uma vez que ele achava que tinha tido a sorte de ter conseguido algum sucesso na vida que era obrigação dele partilhar e tentar ajudar outras pessoas.

Ou seja, o homem que esteve à sua frente era praticamente o homem perfeito para qualquer outra mulher. Mas podia acontecer que ele não tivesse nada em comum com ela. Mas mais uma vez, como a noite acabou por provar, esse pensamento acabou por se revelar falso. A noite passou num instante e ela sentia-se à vontade com ele. Ele era divertido e ela dava-se constantemente a rir das piadas ou das histórias engraçadas que ele dizia. Ela sentia-se também à vontade com ele para partilhar alguns pormenores não íntimos sobre a sua vida. Ela descobriu que ele tal como ela gostava de cães. Que ele adorava ler e que era capaz de ler um livro por horas seguidas se gostasse desse livro enquanto o não acabasse. Tal como ela. Ele gostava do mesmo genero de música e tinha também ido aos últimos concertos que ela também tinha ido. Soube também que ele adorava cozinhar, mas que nunca tinha tempo para o fazer. Essa era capaz de ser a única coisa que não tinham em comum. E o toque final do jantar ocorreu aquando da sobremesa. Ela não tinha pedido nada pois estava um pouco cheia, mas ele tinha escolhido o cheesecake de amora, que era uma das sobremesas favoritas dela e quando o empregado de mesa trouxe a sobremesa ele pediu-lhe para trazar um garfo adicional para ela também provar, mesmo ela não tendo dito nada. Ele era uma pessoa simples, muito simpática, altruista e que preocupava-se mais com os outros do que com ele.

Tinham-se dado muito bem e a amiga mútua que os tinha juntado tinha mesmo acertado na mouche. À saída do restaurante, trocaram o número de telemóvel e combinaram marcar qualquer coisa daqui a uns tempos. E ambos sabiam que essa promessa iria mesmo concretizar-se, pois a noite tinha corrido muito bem e ambos queriam saber aonde aquilo poderia chegar.

Realmente, a noite tinha tudo para correr muito bem. E tinha corrido até ela chegar a casa e ter tempo para parar um pouco e pensar sobre a agradável noite que tinha passado. Quando ia escrever no seu diário, infelizmente percebeu uma coisa. Que mesmo tendo gostado do seu encontro, ainda continuava a pensar em Pedro. Como era possível que ela tivesse encontrado um homem perfeito que estava interessado nela e com quem ela achava que poderia ter um futuro, mas ela não conseguia deixar de pensar em alguém que não estava interessado nela e que muito provavelmente nunca iria estar. Quando chegou a casa, estava preparada para escrever no seu diário o que tanto tinha gostado noite que tinha passado. Mas acabou por escrever sobre a confusão emocional que tinha e sobre o facto de, apesar do que intencionava, ainda não tinha ultrapassado a paixão que tinha por Pedro e que ainda não estava preparada para seguir em frente. E a lágrima que caiu no diário após ter escrito a última frase fez-lhe perceber mesmo isso.

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