Quatro dias se passaram, sem que Pedro tivesse tido qualquer novidade da rapariga que tanto tinha magoado. A muito custo, tinha conseguido conter os seus instintos e ligar-lhe. Seguia o conselho de Carlos, que lhe tinha aconselhado a esperar algum tempo para que Inês já estivesse mais calma e com a cabeça fria… Não valeria a pena insistir antes, sob o risco dela continuar a evitar atender os seus telefonemas…
E Pedro sentia que ainda não era altura de a pressionar novamente para falar com ele. Quando ela estivesse preparada, ela iria ligar-lhe… Era essa a esperança dele…
Estes dias permitiram-lhe pensar na sua vida… O tempo que esteve sem a presença dela, fez-lhe pensar que a sua vida estava vazia… Fazia exactamente as mesmas coisas antes de conhecer Inês, mas tudo parecia-lhe diferente… Faltava-lhe alguém com quem partilhar a sua vida…
O trabalho já não lhe dava tanto prazer como dantes… Às vezes, ficava em silêncio por alguns momentos e que qualquer pessoa percebia que a sua cabeça estava noutro sítio…
E Patrícia tinha sido uma das pessoas que tinha notado a transformação no seu amigo. Tinha desaparecido por completo aquele entusiasmo que estava presente em tudo o que ele fazia e que era notório nas últimas semanas…
E apesar dele ter acabado tudo com aquela rapariga, ela não se sentia tão feliz como ela pensaria… A causa do que estava a acontecer com Pedro não era ela… E imaginava que ele nunca iria sentir nada tão intenso por ela, como tinha sentido por Inês… E isso estava a magoá-la tanto como o facto da pessoa de quem gostava estava a sofrer…
E ainda por cima, o comportamento de Pedro com ela tinha sido diferente neste últimos dias… Ela não sabia porque Pedro tinha passado a ser mais reservado com ela e não lhe tenha desabafado com ela nesta fase mais complicada da sua vida… Ela era sua amiga e ele confiava nela… Mas ultimamente, ele quase não lhe dizia nada e sentia que os dois estavam a afastar-se, sem que ela soubesse o motivo. E começava a aperceber-se que mesmo sabendo que Pedro não a iria considerar mais do que uma amiga, queria estar com ele, mesmo que fosse só como amiga…
O que Patrícia não sabia era que Pedro, mesmo sabendo que a culpa não era da sua amiga, sentia que nada do que aconteceu teria acontecido se não tivesse ido almoçar com ela… Era um sentimento irracional, mas era o que sentia… Ele sabia que a culpa era dele, mas inconscientemente, também atribuía um pouco da culpa a Patrícia… Para além disso, sempre que a via, lembrava-se de Inês e da dor que sentia por não estar ao pé dela… Por isso, nestes últimos dias, ele tinha-se mantido relativamente afastado dela… Ela não merecia isso… Ela já o tinha apoiado tanto no passado e ele confiava nela… Mas a dor que sofria impedia-o de pensar de forma racional… Mas ele sabia que Patrícia iria perdoar-lhe pois era uma verdadeira amiga que sabia que ele estava a precisar de algum tempo sozinho e que quando ele precisasse da ajuda dela, ela estaria lá….
Ainda por cima, o seu nervosismo e a sua ansiedade não paravam de aumentar à medida que os dias passavam… O trabalho era a única coisa que o ajudava a passar os dias e mesmo assim, não conseguia parar de pensar no que se tinha passado… E o final do dia de trabalho chegava num instante, sem ele se aperceber.
Eram cerca das dez da noite quando Pedro chegou a casa… Hoje era uma daquelas noites em que só lhe apetecia deitar-se na cama, adormecer o mais rápido possível para que o amanhã chegasse depressa… Poderia ser que amanhã tivesse notícias de Inês…
Depois de ter jantado uma coisa rápida, deitou-se no sofa da sala….
Passado uns instantes tinha adormecido… As últimas noites não tinham sido fáceis, pois às vezes lembrava-se de algo que lhe fazia pensar na Inês e não conseguia deixar de pensar nela o resto da noite…
Tinham passado cerca de meia hora, quando despertou ao ouvir o seu telemóvel a tomar… Pegou no telemóvel e sentiu um friozinho na espinha quando reconheceu o número de Inês…
Estava agora com medo do que iria acontecer… Ele que tanto tinha ansiado por ter notícias dela, estava agora preocupado por ela querer falar com ele… Tinha medo do que ela poderia dizer… tinha medo da decisão que ela tinha tomado… Pedro começou a pensar que preferia não ter notícias dela mas acreditar que ela um dia iria voltar para ele, do que ouvir da boca dela as palavras que mais temia e por um ponto final na sua esperança de ser feliz com ela…
Pedro suspirou fundo e atendeu a chamada.
- Estou?
- Pedro?…
- Olá Inês… Sim, sou eu. – disse Pedro ao reconhecer a voz da rapariga que tanto amava. Porém, ele não conseguia perceber pelo tom de voz dela, o que ela lhe iria dizer…
- Sabes… Pensei muito nesta chamada, desde aquela noite… Mas…
- Eu também tenho pensado muito no que me irias dizer se me ligasses… e eu sempre imaginei no que aconteceria se não me desse uma oportunidade para explicar-me… Eu nunca conseguiria perdoar-me…
- Peço-te um favor… deixa-me dizer o que te tenho para te dizer…
- Desculpa… Devo-te isso…
- Sabes que tenho revivido na minha cabeça o momento em que te vi com aquela mulher.. e o momento em que me mentiste…
- Desculpa…
- Deixa-me terminar… e não consigo deixar de pensar no que me fizeste… Tinhas-me prometido que nunca me ias magoar… e eu acreditei em ti… Tu nem imaginas o que senti…
- Tens razão.. Tens toda a razão… Mas tens de saber que eu…
- Nem imaginas a dor que sentia no meu coração… a desilusão que tive em ti… o quanto eu me culpei por me ter deixado apaixonar por ti…
Pedro não conseguir dizer nada… Sentiu que naquele momento que não podia fazer nada para convence-la… Ela já tinha tomado a decisão… E ele não podia fazer nada para mudar a situação… Só lhe restava permanecer calado e aguardar que ela lhe dissesse o que lhe ia na alma….
- Mas vi que a culpa não era minha… Eu pensava que tu eras diferente… Mas foste tu que me mentiste… foste tu que estiveste com outra mulher sem me dizeres nada… E comecei a odiar-te pelo que me fizeste… Sentia que nunca te iria conseguir perdoar, por mais tempo que passasse…
Pedro começou a recear o rumo que a conversa estava a tomar… Sentia a fúria nos olhos dela, quando ela olhava para ele… Ele apenas podia desviar o olhar, mostrando que sabia o que tinha feito mal e que estava arrependido…
- Mas noutras vezes, dizia-me a mim própria que o que tinha visto tinha uma explicação… que tu devias ter uma boa desculpa para me teres mentido… que eu tinha tido razão no meu primeiro instinto quando pensei que tu eras uma pessoa diferente dos outros homens…
Pedro sentiu a esperança a voltar… Será que ela lhe tinha perdoado?… Ao ouvir o suave timbre de voz que saía agora dos lábios dela, sentiu uma sensação de calor no seu corpo…
- Mas acima de tudo percebi que eu sofri tanto apenas por um motivo… Eu estava realmente apaixonada por ti… E sentia que nós poderíamos ser felizes… Por isso achei que me devia a mim própria ouvir-te… Sabes que ainda não te perdoei pelo que me fizeste… Mas precisava de ouvir a tua explicação… E não seria justo da minha parte, tomar uma decisão sem te ouvir…
Pedro soube desta forma que ela ainda não estava completamente certa da sua decisão… E que tinha agora a última hipótese de recupera-la e não perdê-la para sempre. Ele sabia que tinha de ser completamente honesto com ela, ao contrario do que tinha feito há uns dias…
- …
Pedro sentiu alguma dificuldade em dizer o que queria… Tinha um nó na garganta , pois tinha medo de dizer alguma coisa que a pudesse afastar… Mas sabia que tinha de controlar o seu receio…
Após um breve silêncio, Pedro sentiu a sua voz voltar e apesar de já ter recriado esta conversa inúmeras vezes na sua cabeça, desde o momento em que que tinha magoado Inês naquela noite, não sabia como começar…
- Nem imaginas o quanto eu estou a sofrer por saber que te magoei… Eu nunca te deveria ter mentido e por isso peço-te desculpa… Mas tens de acreditar em mim… Aquela rapariga é uma das minhas melhores amigas, a Patrícia… Nós não somos apenas colegas, como também falamos várias vezes sobre a nossa vida pessoal um com o outro… Mas nada mais do que isso.
Inês ouviu estas palavras, sem deixar escapar um som… Não sabia se devia acreditar no que Pedro lhe estava a dizer… Ela queria tanto acreditar nele… e que aquela rapariga não era mais do que uma grande amiga dele e era esse o motivo pelo qual eles pareciam tão íntimos… Não que ela tivesse alguma vez tido uma amizade desse tipo com um rapaz… Tinha bons amigos, mas nunca alguém com quem tivesse tal confiança para contar certas partes da sua vida… Para isso tinha as suas amigas….
Mas a desconfiança nunca desapareceu completamente da sua mente… Apesar dele lhe parecer estar a ser o mais sincero possível…
- Eu não te devia ter mentido… Aliás, nem sei porque o fiz, pois não estava a fazer nada que não devesse… Ela não é mais do que uma amiga e nunca senti nada por ela.. Aliás, quase te posso garantir que ela nunca pensa em mim dessa forma… Mas damo-nos muito bem e ela era uma das primeiras pessoas que eu gostaria que tu conhecesses, pois ambas significam muito para mim…
Infelizmente, Inês estava a acreditar nas palavras de Pedro. Ela sentia no seu íntimo que ele estava agora a ser honesto com ela e que ele e aquela rapariga eram apenas amigos. Sentiu-se aliviada, pois um dos seus medos era o facto de Pedro gostar de outra pessoa e que tudo o que ele lhe tinha ditto no passado eram simplesmente mentiras… Mas mesmo assim, ele tinha-lhe mentido… Depois do que tinha passado com o Alfredo, ela não conseguia perdoar-lhe a quebra da sua confiança... Ele tinha-lhe mentido, tal como o Alfedo e tal como grande parte dos seus anteriores namorados… Ela tinha confiado neles e tinha sempre prometido que isso não iria acontecer novamente…. Mas sempre esquecia a sua promessa e pensava que a pessoa em questão era diferente de todas as outras… E tinha sempre acabado por voltar a sofrer… Por isso, sentia uma grande relutância em deixar Pedro entrar novamente na sua vida…
- Eu sei que te magoei… E peço imensa desculpa por isso… Mas estou agora a dizer-te a verdade… Eu amo-te muito e não me consigo imaginar a viver sem ti… Tenho sofrido imenso nestes ultimos dias por não me teres respondido às minha chamadas… E quando imagino o meu futuro sem ti, fico com um vazio tão grande que tu nem imaginas…
- Era o que eu também sentia por ti… até me teres enganado – interrompeu Inês após o longo monólogo de Pedro, com alguns soluços pelo meio… As lágrimas tinham chegado aos seus olhos e as emoções estavam a vir ao de cima…
- Inês, se tu ainda gostas de mim, deves-te a ti própria dar-me mais uma oportunidade… Prometo-te que nunca mais te vou mentir…
- Mas o que me vale a tua palavra? Não sei se consigo acreditar novamente em ti após o que aconteceu… Tu perdeste a minha confiança e não sei se alguma vez a conseguirás recuperar…
- Eu sei que fiz algo de errado, mas estou disposto a tudo para não te perder… Faço tudo o que quiseres para não sair da tua vida…
Inês sentiu que não estava em condições para tomar agora uma decisão… Naquele momento, o seu coração dizia-lhe que devia aceita-lo de volta, pois também ela não aguentava estar longe dele… E dizia-lhe que ele também a amava dela e que ela a única mulher da vida dele… Mas a sua cabeça dizia-lhe que ela devia deixar de pensar nele, pois ele tinha-lhe mentido antes, pelo que ela ia estar sempre na dúvida no futuro se devia acreditar nele… E qualquer relação em que não exista confiança estaria condenado ao insucesso, por mais que duas pessoas gostassem uma da outra…
- Tudo? – perguntou Inês.
- Sim, tudo o que tu pedires… Faço tudo o que for preciso para mostrar-te que podes confiar em mim… Tu vales esse sacrifício…
Fez-se um silêncio durante uns breves segundos…Inês já tinha tomado uma decisão antes de ligar a Pedro… Mas tinha prometido a si própria ouvi-lo antes de lhe comunicar o que tinha decidido… Mas as coisas tinham mudado… E apesar do seu conflito interior, tomou a sua decisão final… Não sabia se seria a decisão mais correcta, mas naquele momento, pareceu-lhe que seria a única coisa que poderia fazer, para não sair magoada no futuro…
- Acho que só existe uma forma de voltar a confiar em ti… Tu tens de conquistar a minha confiança aos poucos… E acho que só existe uma forma de fazer isso…
- Qual? O que tenho de fazer?
- Não estou preparada para ter uma relação com alguém que me magoou… Acho que não te conheço verdadeiramente… As minhas emoções por ti, fizeram com que eu criasse uma imagem de ti. Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras…
Pedro começou a ficar assustado com estas palavras… Não tinha ideia para onde esta conversa ia… E começou a ficar receoso de a ter perdido para sempre…
- Mas sou… Peço-te mais uma… - disse Pedro, antes de ser interropido.
- Deixa-me terminar… Eu mereço isso, depois do que me fizeste… Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras… Mas se calhar até és… E a única forma de eu saber quem és, é conhecer-te melhor… E não estou preparada para me envolver emocionalmente contigo, sem isso.
- E o que sugeres?
- Tu mereces uma segunda oportunidade. E eu gosto de ti, pelo que não te quero fora da minha vida. Por isso, acho que nós deveríamos ser apenas amigos… Dessa forma, eu irei conseguir saber se tu conseguirás reconquistar a minha confiança…
- Se essa for a única hipótese de estarmos juntos… então eu aceito… Mas eu prometo-te agora que isto não irá demorar muito tempo… Tu sabes que nós fomos feito um para o outro e vou mostrar-te que sou merecedor da tua confiança… E nós voltaremos a estar juntos… Mas por agora, aceito as tuas condições… Amigos, hum?
- Sim, apenas amigos… - suspirou Inês, mesmo antes de terminar a conversa com Pedro…
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