O jantar
Eram nove da noite. Pedro estava nervoso como nunca tinha estado na sua vida. Quando é que ela chegaria?Normalmente, ele nunca esperava por ninguém. Fazia sempre questão de chegar um bocado atrasado, para dar um ar de homem atarefado, que tinha conseguido tirar umas horas da sua vida ocupada para jantar. Mas hoje era diferente. Ele teve que vir mais cedo, pois não aguentava a expectativa. Ele estava à porta do restaurante que tinha escolhido. Era um local muito simpático onde já tinha estado várias vezes, e onde se comia bastante bem. Estava uma noite limpa, onde apenas se via o luar e as estrelas a brilhar no céu. De vez em quando soprava uma pequena brisa, que o fazia arrepiar-se... Olhou novamente para o relógio. Já eram nove e quinze. Ela estava atrasada.
Pedro pensou se ela viria mesmo. Começou a sentir um aperto no coração. Nunca tinha sentido o medo de ter levado uma banhada.
Será que ela não conseguiu encontrar o resturante? Ou decidiu que não se queria envolver comigo. Resistiu à tentação de ligar-lhe para o telemóvel. Apenas lhe daria um ar desesperado.
Mas de um momento para o outro, os seus medos desvaneceram-se. Inês tinha chegado de repente, usando um vestido preto, muito justo, e que relelava a sua óptima figura.
- Olá. Desculpa lá o atraso. Sabes como é que as mulheres são. Procuram estar sempre no seu melhor. E eu sou uma pessoa atrasada por natureza. Por isso, os meus amigos já combinam as coisas comigo para meia hora antes. – disse Inês, com um ar divertido.
- Eu também cheguei agora – mentiu Pedro, a tentar esconder o seu alivio por ela ter chegado. E já agora, estás linda.
- Obrigado. Eu fiz por isso- disse com uma grande autoconfiança, a que Pedro não estava habituado. Normalmente, as mulheres com quem ele estava agradeciam e trocavam cumprimentos.
Entraram no restaurante e foram ter à mesa que Pedro tinha reservado. Ele tinha tomado todas as precauções para que a noite fosse perfeita. Nada iria estragar o que ele tinha planeado.
- Este restaurante parece-me muito simpático- disse Inês a iniciar a conversa.
- É mesmo. Já vim cá várias vezes e nunca me arrependi.
- Ai foi? Já vi que trazes aqui todas as mulheres que conheces.
Naquele instante, Pedro arrrependeu-se do que tinha dito. Tentou manter-se calmo, mas Inês insistiu.
- Pois é. Aposto que estás a seguir o teu plano padrão. Primeiro o jantar. Depois alguns copos e de seguida...
- Achas mesmo? Eu não acho que serviria de muito, pois tu és uma mulher diferente de todas o que eu conheci. Nada do que eu faço normalmente resultaria contigo.
- Acredito. E qual é que é o teu plano para esta noite?
- Tudo a seu tempo. Mas tens razão. Começa com o jantar. Eu sugiro a lasanha. È muito deliciosa.
- Acho que não. Prefiro algo mais leve. Como tu disseste hoje à tarde, estou a precisar de uma dieta.
Pedro apercebeu-se imediatamente que ela não precisava de qualquer dieta. O seu corpo era muito bem proporcionado e tinha a leveza de uma gazela. E o vestido que ela usava era perfeito, mostrando todo o seu corpo, incluindo os seus fabulosos seios.
- Pedro? Eu estou aqui! - disse Inês apontado para a sua cara, a notar que os olhos de Pedro se tinha desviado mais para baixo
- Eu sei. Mas não consegui deixar de olhar para o teu colar. È lindo. Deve ser valioso.
- Foi a minha avó que me ofereceu. É uma velha herança de família. – respondeu Inês, fingindo acreditar na explicação. Ela sentiu que Pedro não conseguia tirar os olhos dela, e gostava dessa sensação. Mas lembrou- se do que tinha acontecido ao último homem que apenas estava interessado no seu corpo.
- Então, o que vais realmente pedir? Por mim, até podias escolher o bife na frigideira com molho de natas. Tu estás perfeita. Se calhar até ficavas melhor com mais alguns quilitos.
- Tantos elogios não te levam a lado nenhum. Mas sabe sempre bem ouvi-los.
O empregado aproximou-se da mesa deles e apontou os pedidos. Passado cinco minutos, voltou com uma garrafa de espumante, das mais caras que Pedro adorava.
- Este espumante é óptimo. Tem um gosto suave e escorre facilmente pela garganta .
- Por acaso, nem sou muito adepta da bebida. Só nos bares, é que exagero um bocado. Não sou daquelas raparigas que conseguem aguentar a noite toda a beber.
- Por acaso, não foi essa a primeira impressão com que fiquei de ti.
- Tu sabes que a primeira impressão é a mais importante de todas na publicidade. – disse Inês. Mas nem sempre, dão a verdadeira imagem da pessoa. Só quando falamos com ela, é que conseguimos ver como é que ela é realmente.
- Tens razão. Mas digo-te que a primeira impressão que tive de ti marcou-me muito. Tu podes não acreditar, mas quando te vi pela primeira vez, senti que eras a minha alma gémea.
- Acreditas nisso? Eu não acho que exista alguém com quem estamos destinados a estar na vida. A vida é imprevisível, bem como o amor. Não acho que o nosso destino esteja traçado.
- Tens pouca fé no amor. Nunca sentiste algo por alguém te fizesse sentir a pessoa mais feliz do mundo? E que achasses que irias ficar com ela para sempre?
- Já. E é por isso que não acredito em almas gémeas.
Pedro não conseguiu encontrar palavras para desculpar-se pelo que tinha dito. Soube naquele instante que tinha tocado num ponto sensivel para Inês. E que ela ainda não estava preparada para lhe contar. Por isso, não insitiu na conversa e mudou rapidamente de assunto.
- Talvez tenhas razão. Mas se existissem, tu era de certeza a minha.
Ele conseguiu arrancar um sorriso sincero a ela. E ficou a gostar ainda mais dela, pois sentiu nela uma grande força interior e uma grande honestidade.
O empregado serviu o jantar. Conversaram bastante sobre as suas vidas. Pedro nunca tinha sentido tanta empatia com outra rapariga. Ficou a saber que ela ainda estava a estudar na faculdade. Estava no último ano de Psicologia e estava em altura de exames. Era filha única, pelo que foi mimada pelos pais. Mas isso não a impediu de ser uma rapariga humilde e que lutava para conseguir os seus objectivos. Tinha vindo de Cascais, quando entrou para a faculdade e vivia com duas colegas de quarto, na zona de Benfica. Trabalhava em part-time, pois não queria depender dos pais, mas sim ser independente. Era assistente numa pequena empresa de informática, que tinha sido criada há pouco tempo, com a explosão das dot. com. Pedro soube também que ela não andava com ninguém actualmente, mas ela não lhe disse nada sobre o seu passado amoroso.
Ele por sua vez, sentiu que lhe podia contar tudo. E foi o que fez. Disse não só o que fazia, onde vivia e do que gostava, mas também os motivos de ainda estar solteiro com aquela idade.
- Tu podes não acreditar, mas nunca me abri tanto com uma rapariga. Eu sinto que posso confiar em ti e que tu me compreendes.
- Sabes que quando disseste que nunca tinhas tido uma relação com mais de 5 meses, deixaste-me um pouco preocupada. Tu és daqueles homens que não consegue ligar-se a ninguém e que tem medo de expor o que realmente sente. E por isso tem medo de envolver –se mais profundamente com alguém.
- È essa a tua análise clínica? E tenho hipótese de cura, Sra. Doutora?
- Não sei bem. Recomendo uma sessão de terapia três vezes por semana, para ver se conseguimos resolver os teus problemas e identificar o que está dentro do teu subconsciente.
- Contigo, até aceitaria ir 7 dias por semana. Qualquer pessoa ficaria maluca, só para ter a oportunidade de passar umas horitas contigo.
- Tu não paras, pois não?
- Não, e vou continuar a insistir que és a mulher da minha vida sempre que estivermos juntos.
- O que não irá acontecer mais, se não parares com isso. É que eu até gosto de estar contigo, mas...
- Há sempre um mas...
- Por acaso, desta vez nem há. Eu estou a gostar imenso desta noita. Estás a superar as minhas expectativas...
- A sério? Eu bem fiz por isso?
- É certo que elas eram muito baixas, por isso não era difícil.
- Estou a ver um lado mazinho que te desconhecia...
- Foi o que já te disse. Nunca confies nas tuas primeiras impressões.
Foram interropidos pelo empregado. Eram os únicos que estavam no restaurante. A noite tinha corrido tão bem, que nem deram pelo tempo a passar. Era quase uma da manhã.... E Pedro surpreendeu-se consigo próprio, pois nunca tinha imaginado que falar com alguém o pudesse fazer tão feliz. Algo estava a mudar nele.
Pedro pagou a conta, e saíram ambos do restaurante...
Sem comentários:
Enviar um comentário