Mais vale tarde...
Tinha sido uma das melhores noites da sua vida. Pedro iria para sempre lembrar-se deste dia. Nunca se tinha sentido tão apaixonado por ninguém.
Afinal ele sempre era capaz de amar...
- E agora? – Disse Inês interrompendo os pensamentos de Pedro. – O que é que estás a pensar fazer?
- Sinceramente?... Estava a pensar levar-te a casa.
- Já? A esta hora? Sempre pensei que tivesses mais jeito para conquistar as raparigas com quem tu sais.
- Eu tenho muito jeito para isso. Mas como tu já estás conquistada, não preciso de me esforçar tanto.
- Não me digas. Não tomes as coisas como garantidas. Pretendo fazer-te trabalhar muito para conseguires alcançar os teus objectivos.
- E que objectivos são esses?- questionou Pedro, sem conseguir esconder um sorriso malicioso.
- Tu sabes bem do que eu estou a falar... – respondeu Inês, sem evitar um esboçar de sorriso.
- Não sei, não. Diz-me lá...
- Tu sabes. É aquilo em que todos os homens pensam quando levam uma rapariga inocente para jantar.
- Estás a falar da sobremesa?
- Sim, se é assim que tu lhe chamas.
- Eu e toda a gente que eu conheço. Como é que tu lhe chamarias?
- Devo avisar que não tenho muita paciência para estes jogos. É uma das coisas que tens de aprender sobre mim.
- Se queres mesmo saber, eu não queria prolongar esta noite, pois tenho medo de fazer algo que a estragasse completamente. Está tudo a correr tão bem, que não quero correr riscos.
- Eu também gostei bastante desta noite – disse com a voz mais suave que Pedro tinha ouvido, ao mesmo tempo que agarrava na sua mão. Pedro sentiu um arrepio e um nervoso interior. Gostou do toque suave e da leve carícia na sua pele. Sentiu o perfume que tanto tinha gostado e que nunca iria esquecer. Sentiu o desejo de beijá-la e de dizer a Inês que a amava. Mas controlou os seus instintos naturais e apertou com ternura a mão dela, indicando que também que também tinha vontade de reforçar a relação.
- Vamos então acabar por hoje, antes que me arrependa.
- Queres que eu te leve a casa?
- Não deixa estar que eu tomo um taxi.
- A esta hora? Nem penses. Eu dou-te boleia.
- Não é preciso. Eu não sou uma donzela indefesa que não se consegue defender. Esta não é a primeira vez que saio à noite.
- Eu insisto. Não quereria que acontecesse algo à melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.
Ele conseguiu finalmente convencê-la a ir com ele. Continuaram a conversar animadamente durante a viagem, sem darem pelos quilómetros a passar. Quando estavam perto da casa da Inês, ela pediu para ele parar o carro. A noite estava quase a chegar ao fim.
- Eu vivo já ali à frente. Eu sei que não parece grande coisa, mas é limpa e tem espaço suficiente para guardar todas as minhas coisas.
- Realmente, não parece grande coisa. – brincou Pedro. Não queres vir morar comigo?
- Não achas que é um bocado cedo? – disse Inês com uma cara séria. Ainda agora nos conhecemos...
- Estava só a brincar. Não te queria assustar. – tentou Pedro tranquilizar a sua companhia.
- Eu percebi. Não tens grande sentido de humor. Um ponto a menos.
- Um ponto a menos? O que queres dizer com isso?
- Eu tenho um jogo com as minhas amigas, em que classificamos os nossos encontros, atribuindo pontos positivos e pontos negativos.
- E qual foi o meu resultado?
- É melhor nem saberes. Tiveste a minha pior pontuação nos últimos três anos.
- Tu és mesmo mázinha...
- Eu bem te disse que não tinhas sentido de humor. Mas é um defeito teu que vou tentar aceitar nas próximas vezes que nos encontrarmos...
- Próximas vezes? Significa que queres voltar a sair comigo?
- O que é que achas? Foi uma das melhores noites da minha vida. Nunca tinha conversado tanto com um rapaz. Parece que encontrei finalmente alguém que está interessado em algo mais do que o meu corpo.
- Por acaso, é essa a impressão que estou a tentar passar. Na prática, só me interesso por ti, porque tens um corpo espectacular. Não estou interessado no resto.
- Retiro o que disse há bocado. Afinal, sempre tens um sentido de humor.
- Parece que sim.
- Não sei porquê, sinto que me esqueci de alguma coisa.
- Tens contigo a tua bolsa?
- Não, não é isso. Bem, se fosse importante eu lembrava-me. Mas uma coisa que eu sei é que gostaria imenso de te ver outra vez...
- Eu também. Que tal amanhã?
- Vai ser complicado, pois tenho de estudar para um exame. Eu telefono-te quando puder.
- De certeza que me telefonas? Vou ficar à espera...
- Eu não perdia a oportunidade de estar contigo novamente por nada deste mundo. – disse Inês antes de dar um beijo na face de Pedro.
- Gosto mesmo de ti. E tu sabes disso, não sabes?
- Sim, eu sei.
Pedro despediu-se de Inês e viu-a a entrar o edício onde se situava o apartamento dela. Sentiu-se frustrado por não a ter beijado. Era o clímax perfeito para aquela noite. Pedro, dirigiu-se lentamente para o carro, a lamentar a sua sorte, mas com a esperança que no próximo encontro o beijo seria ainda melhor, pois a intimidade entre eles seria ainda maior.
Quando ia a abrir a porta do carro, sentiu um toque no ombro. Quando se virou, não teve tempo de reagir ao beijo nos lábios que Inês lhe deu. Sentiu que estava no céu e que se morresse naquele instante, morria como a pessoa mais feliz do mundo. Ainda tentou beijá-la novamente, mas Inês afastou lentamente os seus lábios e disse calmamente antes de se deslocar novamente para a casa dela:
- Eu sabia que me havia esquecido de algo.
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