No trabalho
Pedro chegou ao emprego por volta das 11h00. Já era habitual que ele chegasse ao escritório um pouco antes da hora do almoço.
Mas desta vez, existia uma coisa diferente. Quando chegava, Pedro começava logo a pensar na campanha publicitária que tinha em mãos. Mas desta vez, ele não conseguia deixar de pensar na mulher que tinha visto.
- Em que estás a pensar? - perguntou Carlos, ao ve-lo tão distraído. Tinham-se conhecido há cerca de dois anos, quando entraram ambos para a mesma agência. Ele era o oposto dele, e se calhar era essa a razão porque se tinham tornado bons amigos.
Carlos era um homem responsável, que tinha casado com a namorada do liceu, após seis anos de namoro. Mas mesmo assim, conseguiram entender-se logo no momento em que se conheceram.
- Pedro? Está alguém em casa?
- Hum?! Desculpa lá. Mas estava distraído.
- Deixa-me adivinhar. Estavas a pensar numa rapariga qualquer que acabaste de ver na rua?- disse Carlos a sorrir.
- Como é que adivinhaste?
- Eu já te conheço há algum tempo. E sei que daqui a meia hora já estás a pensar na melhor forma de convidar a Luísa, da contabilidade para sair hoje à noite.
- Mas ela não arranjou um namorado há duas semanas?
- Isso nunca te impediu antes.
- Pois não Enquanto elas não tiverem um anel no dedo, para mim ainda estão disponíveis. Mas desta vez é diferente.
- Pois. Foi um amor à primeira vista.
- Amor? Quem falou em amor? Eu encontrei a mulher mais boa do mundo e tu vens cá falar-me em amor?
- Ah! Este já é o Pedro que eu conheço...
- Mas digo-te, nunca tinha tido um desejo tão forte de estar com alguém. Ela não é melhor do que a Marisa Cruz e a Pamela Anderson juntas.
- Deves estar mesmo apanhado por ela. Sempre disseste que não existia ninguém como a Marisa Cruz.
- Eu estava enganado. Mas agora não sei o que fazer.
- Porque não experimentas telefonar-lhe?
- Porque não tenho o número de telefone dela. Não cheguei a falar com ela. E acho que nunca mais a vou ver....
- Do que estão a falar? - interrompeu Patrícia. Patrícia era a única mulher que estava na equipa criativa de agência. Era uma mulher muito engraçada, morena, e com uma alegria contagiante. Pedro sempre a achara muito atraente, mas nunca a tinha convidado para sair.
- Nada de especial.- disse Carlos. Estávamos só a discutir a vida amorosa do Pedro.
- Ah! Deve ter sido um conversa muito curta?
- Engraçadinha - gracejou Pedro. Até parece que tu tens uma vida amorosa.
- Mas eu não estou com ninguém por opção. Sou uma mulher independente que não tem tempo para ter uma vida pessoal. Tu sabes como são os nossos horários.
- Pois. São desculpas. Tu estáss é à espera que alguém deste escritório te convide para tomar um copo- brincou Carlos, sem imaginar que Patrícia iria ficar vermelhíssima.
- Nãoo acham que é altura de começarmos a trabalhar? Temos um deadline amanhã e acho que a Patrícia já está arrependida de nos ter interrompido.
Foi desta forma que Pedro decidiu terminar conversa, porque sabia que o trabalho era a melhor forma de não pensar noutras coisas.
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Depois de um árduo dia de trabalho, em que o almoço tinha sido uma sandes de atum comprada à pressa numa loja de sandes que ficava perto do escritório , Pedro preparava-se para sair quando ouviu Carlos a chamá-lo.
- Então, já de saída?
- Já? São dez da noite e estou mesmo a precisar de jantar.
- Já esqueceste a tal rapariga?
- Bem, até tu falares agora, nunca mais tinha pensado nela.
- O Pedro que eu conheço está de volta. Bem vindo.
- Não gozes comigo. E tu? A tua mulher não está à tua espera, em casa?
- Ela a esta hora deve estar a ver a telenovela, por isso não vai sentir minimamente a minha falta até à meia-noite.
- Ela e mais metade de Portugal...
Pedro despediu-se de Carlos. Apanhou o taxi que tinha chamado e foi para casa. Era uma casa enorme e muito vazia. Via-se que não vivia lá uma mulher. Tinha um móvel com uma televisão de plasma, um leitor DVD, cinco colunas enormes, um subwoofer, um PC topo de gama. Não havia outra decoração, que Pedro considerava como sendo mariquices próprias de mulheres.
Foi à cozinha, retirou a lasanha do congelador, colocou-a durante 10 minutos no microondas e comeu-na na sala, enquanto via um daqueles concursos em que se mostrava o quão ignorantes são os portugueses. Era uma comédia melhor do que os Malucos do Riso.
Ele tinha tido um dia muito cansativo e adormeceu na sala , ao mesmo que uma concorrente respondia que cinco ao quadrado eram 10.