segunda-feira, abril 13, 2009

Capítulo 17

O dia seguinte... – Parte I

Eram nove da manhã quando Pedro chegou ao seu escritório. Tinha sido uma noite muito difícil para ele, pois tinha perdido a conta ao número de vezes que tinha ligado para o telemóvel de Inês, sem qualquer sucesso. Ele sabia que tinha procedido mal, mas o erro que tinha cometido não era motivo suficiente para ela ter acabado tudo, sem lhe dar uma nova oportunidade.

Quando chegou ao pé de Carlos, este notou logo que algo se tinha passado. A cara sorridente que o seu amigo tinha tido nos últimos tempos, tinha desaparecido. E ele sabia que Pedro iria precisar muito do seu apoio para ultrapassar esta fase menos boa porque estava a passar. Por isso, achou que o melhor seria mesmo conseguir ele ele desabafasse e perguntou ao amigo se queria fazer uma pausa para tomar um cafe.
Pedro assentiu com ligeiro acenar de cabeça, e desceram até um cafézinho perto do escritório, que estava sempre muito vazio.

- Então, o que é que aconteceu ontem contigo? Porque é que estás assim?
- Ela acabou tudo comigo... – respondeu Pedro num tom muito baixo – Não consigo acreditar...
- O que é que tu fizeste?
- Lá estás tu a assumir que a culpa foi minha.
- E não foi?
- ... Sim, a culpa foi minha, mas acho que ela exagerou bastante e não me deixou explicar porque lhe tinha mentido.
- Mas o que é que lhe disseste para ela não te ter perdoado?
- Eu não fiz nada de mais. Eu tinha-lhe dito que tinho ido almoçar com um colega, pois não queria que ela pensasse que eu estava a sair com outras mulheres... Mas ela viu-me ontem a almoçar com a Patrícia e ficou completamente passada comigo.
- Já devias saber melhor... Mais facilmente se apanha um mentiroso do que...
- Mas foi uma mentirinha inocente. Tu sabes que eu e a Patrícia somos apenas amigos...
- Sim, mas a Inês não. E ainda pioraste as coisas, quando lhe mentiste. Mais valia teres-lhe dito a verdade...
- Mas eu não queria estragar as coisas com ela. Estava tudo a correr tão bem, que não queria causar-lhe uma crise de ciúmes...
- É fácil de perceber que já não estás numa relação séria há muito tempo... Sabes que a confiança é daquelas coisas que mais demora a construir, mas basta uma pequena coisa para a destruir completamente. E começar a mentir, logo no início da relação, por mais pequena que seja a mentira, é meio caminho andado para algo correr mal...
- Agora sei disso, mas ela nem me dá uma oportunidade para eu me desculpar...
- Imagino que ela nem atenda as tuas chamadas...
- Ela rejeita logo as chamadas... Já tentei enviar várias mensagens a dizer-lhe que preciso de falar com ela, mas nem sei se ela as leu....
- Tens de ter calma... Tens de ser paciente e dar-lhe algum tempo para acalmar.
- Achas que ela irá alguma vez atender as minhas chamadas?
- Acho que se ela gosta tanto de ti como tu dizias, então mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ceder, e dar-te uma hipótese para explicares...
- Achas mesmo?
- Tenho a certeza disso. Só não te posso garantir que as coisas voltem a ser como dantes...
- Eu sei disso, mas se ela me ouvir, tenho a certeza de que ela compreenderá que só lhe menti, pois gosto tanto dela que não a queria magoar.
- Vê-se mesmo que tu não és o Pedro que eu conhecia... A pensar no que os outros sentem antes de pensar nele...
- O amor que sinto por ela mudou-me muito. Podes achar que eu estou a exagerar, mas quando estou com ela, quero ser uma pessoa melhor por ela... Nem imaginas o que me está a custar saber que ela não me quer ver mais...
- Achas que não? Todos os que amaram verdadeiramente alguém, muito provavelmente também já sofreram por esse amor. E nem todos acabaram por conseguir o que queriam.
- Já percebi que és um expert nessa matéria.
- Quem me dera poder dizer que nunca sofri assim. Mas posso dizer-te que as coisas melhoram e que nem tudo está tão mal como pode parecer...
- És mesmo um romântico incorrigível. Mas eu não sou assim. E tenho muito medo de perde-la... Mas já sabia que isto só poderia correr assim. Sempre que me acontece alguma coisa boa, acabo por estragá-la...
- Pedro.. Tem calma... se ela gosta mesmo de ti, então tens de ter paciência. Quando ela também se acalmar, já terás maior facilidade em explicar-lhe tudo. Talvez o melhor seja dares-lhe algum tempo para ela reflectir. Tenho a certeza de que ela vai responder ao teu telefonema... Mas dá-lhe algum tempo. Não estragues ainda mais as coisas...
- Mas eu não consigo fazer nada enquanto não souber que as coisas estão resolvidas entre nós os dois...
- Ouve-me... Se queres ter alguma hipótese com ela, tens de ouvir o que te digo. Tu cometeste um erro... Tens agora de arcar com as consequências... mesmo que isso implique sofrer enquanto ela não te perdoa.

Pedro reflectiu nas palavras do amigo e soube que ele tinha razão. Mas ele tinha medo dela nunca mais querer falar com ele.. Mas lá no fundo, ele sabia que Carlos tinha razão...

Carlos tentou consolar o seu amigo e dar-lhe alguma esperança de que Inês iria ser capaz de lhe perdoar... Mas chegou a um ponto em que percebeu que o seu amigo nunca iria voltar ao normal, enquanto não falasse com ela.

E isso viu-se durante o dia todo. Carlos notou que Pedro estava constantemente distraído durante os brainstormings para a nova campanha... Sempre que alguém lhe pedia uma opinião, notava-se que ele não estava a acompanhar as ideias lançadas pelos colegas. Decididamente, não era o Pedro que todos conheciam...

Pedro estava a sofrer... Não se lembrava de ter sofrido no passado por alguém de quem gostava tanto... Ele já tinha estado do lado oposto... E sentia-se agora um pouco culpado por ter feito sofrer algumas das raparigas com quem tinha estado e que tinham esperanças de ter uma relação séria com ele, e que a partir de certa altura ele tinha deixado de dar notícias... Era assim que se sentia alguém com o coração partido...

Ele pensou várias vezes durante o dia em ligar novamente para Inês, mas as palavras da Carlos ecoavam na cabeça dele... Talvez fosse mesmo pelo melhor dar-lhe algum tempo... Mas o que iria ele fazer entretanto? Sentia aquela sensação de perda de algo que nada conseguia preencher...

Quando saiu do escritório, ainda pensou em ir a um bar perto de sua casa para afogar as mágoas, mas achou que isso não iria resolver a situação... Podia faze-lo esquecer por umas horas a dor que estava a sentir, mas de manhã quando acordasse, tudo iria estar na mesma... Decidiu então ir para casa... Assim que chegou, pensou em preparar o jantar, mas não estava com fome... Ao contrário do que acontecia na grande maioria dos dias, estava sem qualquer apetite... Só lhe apetecia ligar novamente para Inês... Mas conseguiu controlar os seus impulsos a muito custo...

Mas não conseguia evitar olhar para o seu telemóvel de cinco em cinco minutos. Ele esperava desesperadamente que Inês lhe ligasse para resolverem as coisas. Ele sentia às vezes que se olhasse para o telemóvel iria fazer com que Inês lhe ligasse mais depressa. Mas ele sabia que estava a ser irracional... Mas não o conseguia evitar... Realmente o amor transforma as pessoas... Ele sempre tinha sido uma pessoa confiante, com uma grande autoestima, e que não se preocupava com a impressão que os outros tinham dele... Mas desta vez, estava completamente inseguro sobre si e por vezes passava-lhe pela cabeça que Inês nunca mais lhe iria perdoar.

E foi nesta ângustia permanente que Pedro passou a noite inteira até finalmente adormecer a altas horas da madrugada, sem ter tido qualquer notícia de Inês...

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